Buscando incentivar a produção textual e o olhar crítico dos alunos, a professora de Língua Portuguesa do 9º ano da Escola Municipal Duque de Caxias, Alessandra Silveira, utiliza há muitos anos exemplares da Gazeta do Sul para trabalhar em sala de aula. A paixão por estudar a escrita jornalística surgiu quando ainda era criança e o pai a incentivava a ler os classificados. “Nós ficávamos por dentro de todos os acontecimentos. Inclusive, meu irmão foi entregador do jornal por muitos anos. Temos uma ligação forte com a Gazeta”, conta.
Desde 2017, quando ingressou na escola, Alessandra leva as edições diárias da Gazeta para os alunos lerem e realizarem atividades por meio dos conteúdos publicados. “Quando iniciamos esses trabalhos, pensei em trabalhar a questão do lead [primeira parte da notícia], porque acho importante eles reterem os assuntos que leem”, diz. Além da produção textual, as apresentações em sala de aula e as perspectivas dos alunos fazem parte do dia a dia das aulas de Língua Portuguesa. “Tem funcionado muito bem.”
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Dos conteúdos publicados na Gazeta, os alunos escolhem aqueles que serão trabalhados em aula. Uma das últimas atividades foi em torno da reportagem com o título “Andar pelas calçadas de Santa Cruz requer muita atenção”, publicada em 15 de março deste ano. Além de lidar com a questão textual, Alessandra propôs aos estudantes que fizessem um trabalho de observação das calçadas dos bairros onde vivem.
As duas turmas do 9º ano falaram a respeito da situação atual das calçadas, se há pontos a serem melhorados e o que deveria ser feito para mudança do cenário. “Eu queria saber se eles cuidam desses detalhes e prestam atenção nos aspectos de onde moram”, explica a professora. Depois do período de observação, Alessandra juntou todos os trabalhos e sanou dúvidas dos alunos quanto ao assunto e sobre como deve ser realizada a manutenção das vias públicas, por meio de informações contidas na reportagem.
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Relatos a partir da reportagem veiculada na Gazeta do Sul
“Pedreira, Faxinal e Santa Vitória são exemplos de bairros nos quais há muitos destes problemas de buracos nas calçadas. Na Rua General Andréas, bem no início da rua, há um buraco com mais de um metro de profundidade e já está lá há quatro anos, inclusive uma senhora caiu e teve uma fratura no braço.”
Ysaías Richard da Cruz Jones da Silva
“Em um dia normal, no Bairro Pedreira, é preciso andar com cuidado para não tropeçar, pois é fácil cair e se machucar.”
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Andrei da Rosa Lesina Laia
“Não é surpresa para ninguém que as calçadas de Santa Cruz estejam ruins, afinal isso não é um assunto recente. É necessário muita atenção para andar nas calçadas da nossa cidade, principalmente em bairros mais carentes. Buracos, elevações, irregularidades, descontinuações das calçadas, objetos no caminho e lixo. Esses são alguns dos diversos problemas que os moradores encontram no Bairro Ana Nery.”
Camile Lúcia Frohlich Costa
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“Moro no final do Bairro Faxinal e lá tem somente duas ruas e uma saída. Há pouco tempo foi colocado asfalto e destruíram todas as calçadas, prometendo que fariam calçadas novas, ao final da obra. Após a conclusão, comunicaram que cada um seria responsável pela sua calçada. Na minha rua, a falta de calçada já quase ocasionou acidentes, pois as pessoas precisam andar pelo asfalto, inclusive para ir à escola.”
Isadora Borges Charão
“Eu não devo ser o único que pensa que as calçadas da cidade, em sua grande maioria, não estão boas. No bairro onde moro, o Faxinal, é só sair à rua para perceber os desníveis, os buracos, as pedras soltas, a grama e a sujeira crescendo . Às vezes, até os fios dos postes estão caídos sobre a calçada, e em certo ponto sequer ela sequer existe. Penso que está na hora de a Prefeitura colocar a segurança da sua população em prática. Não adianta consertar apenas as calçadas do Centro, nos bairros também é necessário. Cadê a acessibilidade? Isso é básico para uma cidade do porte da nossa!”
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Luís Augusto Schneider Figueiredo
“No Bairro Santa Vitória, são poucas as calçadas em que se pode andar, a maioria está com buracos, pedras soltas e grama alta por conta da falta de cuidado dos moradores.”
Christian Lorenzo Borges da Silva
“Calçadas danificadas podem trazer vários riscos, como quedas (o que é perigoso, principalmente para os idosos). Aliás, calçadas danificadas podem ser um local de maior risco de assalto ou violência, pois os criminosos podem se esconder mais facilmente em áreas pouco iluminadas. Em algumas ruas do Bairro Santuário, as pessoas estão andando no meio da rua por falta de calçadas. Penso que a Prefeitura deveria fiscalizar e promover a manutenção desses locais com problemas.”
Heloísa Nunes
“A melhoria das calçadas seria um bom avanço para a proteção e ordem na cidade.”
Rafaela de Souza Ieger
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“Queria que eles conhecessem o ambiente”
Além de professora, Alessandra teve duas passagens profissionais pela Gazeta, entre os anos de 2006 a 2007 e 2010 a 2014. A rotina no jornal foi contada muitas vezes em aula, o que aguçou a curiosidade dos alunos. A docente solicitou uma visita guiada pelo espaço físico da Gazeta para que conhecessem de perto como é produzido o jornal recebido diariamente pelos leitores. Juntamente com as duas turmas da Duque de Caxias, ela visitou a Redação e outros ambientes nos dias 19 e 25 deste mês.
Segundo Alessandra, eles adoraram o espaço e a surpreenderam pelo interesse no fazer jornalístico. “Todos se saíram muito bem, falaram na rádio e até ganharam exemplares. Ficaram deslumbrados com o local e os equipamentos.” O entendimento sobre a vida fora da escola é importante para os alunos. “Como estudamos o jornal diariamente, eu queria que eles conhecessem o ambiente e o trabalho realizado”, destaca.
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A geração do futuro
A diretora da Escola Duque de Caxias, Carla Kroth, acredita que, por meio desse tipo de trabalho, os alunos se tornam mais críticos e incorporam um sentimento de pertencimento aos seus bairros. “Ver os problemas e não debater sobre eles é não exercer a cidadania. Eles precisam estar cientes de que os problemas da comunidade e do município são deles também”, avalia.
Por ser da área de Letras, Carla aponta a iniciativa como de grande importância. “Antes de ser diretora, eu sou professora de Português. Por isso, acredito que a leitura e o debate são de grande importância. A partir da leitura de um texto, eles vão ter um olhar mais crítico para outros lugares também e se tornam capazes de filtrar todas as informações que recebem hoje em dia.”
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O aprender de forma diferente
A Gazeta conversou com alguns dos alunos que participaram da atividade de observação das calçadas em Santa Cruz. A estudante Camile Costa, de 13 anos, gostou de realizar o trabalho. Ela reside no Bairro Ana Nery. “Achei bem interessante porque é algo importante no dia a dia das pessoas que andam a pé.” Para ela, a melhor parte foi a observação dos locais. “Deu para perceber mais como está a estrutura da cidade.”
O aluno Alan Gabriel Mendes, de 16 anos, mora no Bairro São João e achou a atividade interessante. “Todos aprenderam muito”, garantiu. A produção do lead foi a etapa favorita de Alan. “Eu gosto da parte da produção textual.” Isadora Oliveira, de 14 anos, relatou que perto de sua casa, no Bairro Arroio Grande, as calçadas estão boas, diferentemente do entorno da residência da avó. “Ela mora na parte baixa do bairro, onde há muitas calçadas danificadas”, observou.
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Além do que foi pedido em aula, Yuri Nathan Carvalho, de 14 anos, também observou o restante da estrutura da cidade. “Gostei muito do trabalho. Eu caminhei perto da minha casa, que fica na divisa entre os bairros Castelo Branco e Arroio Grande, e percebi muitos problemas nas ruas também.” Para Yuri, a parte mais divertida foi escrever. “Gostei muito da parte de elaborar o texto, pegar tudo o que eu observei e separar na minha produção”, contou.
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