Entre o fim da década de 1980 e meados dos anos 1990, o movimento emancipacionista ganhou força no Vale do Rio Pardo, com diversos distritos buscando independência política e econômica. O ponto principal demandado era o progresso das comunidades do interior, vistas como esquecidas pelos governos estadual e federal e, dessa forma, pouco desenvolvidas. A primeira onda ocorreu em 1987, com a emancipação de Boqueirão do Leão, Pantano Grande, Ibarama e Segredo, e tudo pôde ser acompanhado nas páginas da Gazeta do Sul do dia 22 de setembro daquele ano.
“As pesquisas plebiscitárias nos 31 distritos gaúchos, que movimentaram mais de 90 mil eleitores e cerca de 3 mil pessoas que trabalharam no processo, transcorreram, domingo, num clima de absoluta normalidade. Os quatro distritos do Vale do Rio Pardo – Pantano Grande, Segredo, Ibarama e Boqueirão do Leão – conseguiram facilmente a vitória do ‘sim’. O prazo para entrega dos resultados à Assembleia Legislativa e ao Tribunal Regional Eleitoral vai até a próxima sexta-feira, sendo que, com a emancipação, os novos municípios realizarão eleições para prefeito e vereadores já em 15 de novembro do ano que vem”, diz o texto de abertura da matéria publicada na época.
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A segunda onda ocorreu em 1991, quando outros seis distritos da região levaram a emancipação ao voto popular. Trombudo (hoje Vale do Sol), Sinimbu e Gramado Xavier conquistaram sua independência de Santa Cruz do Sul, que perdeu cerca de 50% de seu território. A população de Passo do Sobrado optou pela separação de Rio Pardo, enquanto a de Mato Leitão deixou de pertencer a Venâncio Aires para se tornar município. O único local onde o “não” venceu foi em Monte Alverne, que permanece como distrito de Santa Cruz até os dias de hoje.
A terceira e última onda aconteceu em 1995, com as emancipações dos distritos de Herveiras, Vila Melos e Monte Alegre (atual Vale Verde), Estrela Velha e Passa Sete. Na mesma ocasião, as localidades de São José da Reserva, Capela dos Cunha, Reserva dos Kroth, Capão da Cruz e Arroio do Couto, pertencentes a Rio Pardo, foram anexadas a Santa Cruz do Sul. A localidade de Cerro Alegre Alto, que pertencia a Passo do Sobrado, também foi anexada ao território santa-cruzense, que cresceu 136,53 quilômetros quadrados.
O momento histórico foi reportado amplamente entre as páginas 2 e 6 da Gazeta do Sul do dia 23 de outubro de 1995, pelas mãos dos jornalistas José Augusto Borowski, Otto Tesche, Maurício Goulart, Angela Rocha e Erna Reetz.
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Um dos líderes do movimento em Vale do Sol foi o professor Ireno Finkler, que presidiu a comissão emancipacionista na época. Natural do distrito de Trombudo, ele foi morar em Porto Alegre e retornou 27 anos depois, em 1987, quando imediatamente iniciou o movimento pela criação do novo município.
Ele conta que o então distrito foi dividido em 18 comunidades. Cada uma delas contava com três membros titulares e três suplentes na comissão, que eram responsáveis por visitar os moradores e convencê-los pelo “sim”. Ireno lembra que era um período difícil, havia grande pressão de importantes nomes da política santa-cruzense, mas a vontade e a mobilização do povo acabaram prevalecendo.
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Entre 1987 e 1994, Ireno foi responsável pela coluna “Enfoques de Trombudo e Formosa”, que circulava semanalmente às sextas-feiras nas páginas da Gazeta do Sul e onde, segundo ele mesmo conta, vez ou outra colocava “uma pimentinha” na pauta da emancipação.
“O presidente da comissão emancipacionista, Ireno Finkler, salientou que Trombudo já deveria ter se emancipado há muitos anos, pois sempre foi deixado de lado pelas administrações de Santa Cruz. “’O povo mostrou que é inteligente e deu maioria para o Sim. Foi um ano de lutas e que deu resultado positivo. Tivemos que lutar contra a máquina administrativa que investiu tudo contra a emancipação, mas não obteve êxito. Estão de parabéns o Presidente da Câmara, Edmar Hermany, e o prefeito Arno Frantz’, ironizou Ireno. Conforme ele, a criação do distrito de Faxinal de Dentro, na véspera do Plebiscito, foi uma ‘politicagem’ da administração do PDS e que serviu para aumentar os votos favoráveis ao Não”, diz o texto da Gazeta do Sul de 11 de novembro de 1991, assinado pelo jornalista José Augusto Borowski.
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