Clara Dias, 9 anos, começou a programar num curso oferecido pela escola. Mas parte da influência e os primeiros ensinamentos também vieram de casa, sob as orientações do pai, Cris Dias, que trabalha no ramo. Dayana Oliveira, 31 anos, é administradora de empresas e só há pouco tempo, por curiosidade, aprendeu a linguagem dos códigos. Mas logo viu o aprendizado ser extremamente útil durante o expediente e ela até já desenvolveu alguns aplicativos sozinha.
Clara e Dayana estavam entre as dezenas de participantes que, no último sábado, 14, estiveram em uma oficina de programação gratuita, destinada somente a meninas, no escritório do Facebook, em São Paulo, e realizada pela Technovation Challenge Brasil, um programa mundial que visa aumentar a participação de meninas no ambiente digital. Cada uma saía de lá com um aplicativo diferente, idealizados e desenvolvidos por elas mesmas a ideia é que os apps fossem úteis para uma comunidade. “O objetivo do programa é estimulá-las nas áreas de empreendedorismo e tecnologia. Para isso, a gente tenta quebrar a primeira barreira que é a da menina, com ela mesma, de ‘eu não sou capaz”, afirma Christianne Poppi, uma das organizadoras do evento.
Leia Bastos, docente da EME Professora Alcina Dantas Feijão, em São Caetano, e que acompanhava uma aluna na oficina, fez coro: “Isso é por conta da nossa cultura mesmo, de ser machista e dizer: ‘Olha, isso não é trabalho de menina; montar computador é trabalho de menino”.
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PIONEIRA
Pela história, não deveria ser assim. Foi uma mulher, a matemática inglesa Ada Lovelace (1815-1852), a primeira pessoa a programar no mundo. Pioneira, Ada foi estimulada pela mãe a estudar e se aprofundar nos números, algo que pouco fazia parte do universo feminino. Ada era filha de Lord Byron, um dos maiores poetas da língua inglesa. Tal como Ada, muitas meninas que participavam do curso, sobretudo as mais novas, se apresentavam sob os olhares incentivadores do pais. Como o de Josyene Morais, mãe da Maria Laura Morais, 12 anos.
“A gente tem que empoderar as meninas, e quanto mais jovem, melhor. E também mostrar que elas podem atuar em qualquer área. Ela chegou a me perguntar se isso não era coisa de homem e eu expliquei que não existe coisa de homem e coisa de mulher”, conta. Sob a batuta das organizadoras, que didaticamente ensinavam cada passo a passo num telão, Maria Laura e seu grupo encaixavam blocos, como um quebra-cabeça. ‘Estamos desenvolvendo um aplicativo para animais de rua. Quando você encontrar algum, pode cadastrá-lo para uma ONG ou uma família adotá-lo’, explica a garota.
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QUASE UM LEGO
Os tais “bloquinhos”, que funcionam na base do ‘arrastar e colar’, compõem a interface gráfica do App Inventor, ferramenta idealizada pelo MIT (Instituto de Tecnologia de Massachusetts), dos Estados Unidos, em parceria com o Google. “Essa metodologia faz com que seja muito natural, para elas, aprender como é a ideia de programação. O app simplifica um pouco a parte do código, mas mantém a parte lógica, que é o que interessa”, observa Carlos Augusto Araujo, que trabalha na área e estava acompanhando a filha Sofia Araujo, 10, a desenvolver um aplicativo de reciclagem.
“Independentemente das meninas que forem trabalhar com computação ou não, é como aprender inglês quando eu era criança.” O ensino da programação tem tomado fôlego em escolas e cursos mundo afora, inclusive no Brasil. Das iniciativas mais famosas, destaque para o Hour Of Code e Code Club, projetos distintos, mas que seguem, basicamente, o mesmo propósito: ensinar programação gratuitamente.
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Os dois programas estão traduzidos para o português e já têm adeptos e voluntários por aqui. Matheus Morgado, 20, estudante de engenharia elétrica da USP, é um deles. Por duas vezes, reuniu crianças de comunidades carentes e, ancorado nos tutoriais do Hour Of Code, ensinou programação aos pequenos. ‘Por trás da programação, tem todo um raciocínio lógico, que ajuda a criança a pensar de um jeito mais eficiente, o que é importante para qualquer profissão’, explica.
*Informações da Folhapress
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