É quase como se Cauã Reymond e Flávio Reitz se olhassem através do espelho. Ficam um de frente para o outro. O ator, um dos mais talentosos de sua geração, e o atleta paralímpico, que foi diagnosticado com um tumor na perna esquerda, quando adolescente, e teve de amputá-la.
No futuro imaginado pelo diretor Afonso Poyart em Protesys, Flávio é cobaia num revolucionário experimento para testar a tecnologia de próteses biônicas. Olham-se nos olhos, Cauã e Flávio. São até parecidos, no porte, na beleza viril. Ambos agora completos, e Flávio corre para um salto olímpico que corta o fôlego do espectador.
Tudo isso ocorre num curta que está disponível online, desde a semana passada, no YouTube. “Queríamos lançá-lo nessa época para coincidir com os Jogos Paralímpicos de Tóquio, que agora ficaram para o ano que vem”, explica Poyart. Protesys foi concebido como embrião para um longa de ficção científica que o diretor planeja ambientar no universo dos paralímpicos, num futuro não muito distante.
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“O curta se passa num recorte de tempo anterior ao longa, quando as superpróteses ainda estão sendo testadas e o esportista brasileiro Flávio integra-se ao grupo que participa do experimento. A trama do longa redesenha um mundo do esporte diferente do atual. Graças às próteses de alta performance, os atletas paralímpicos passam a superar antigas marcas e estabelecem novos recordes. Tornam-se os novos deuses do estádio. A Paralimpíada torna-se o evento esportivo mais importante do planeta e os atletas sem próteses são relegados às sombras”, conta Poyart.
Nascido em Santos, em 1979, o diretor se iniciou como artista de motion graphics. Dirigiu videoclipes de artistas como Charlie Brown Jr. Estreou no curta com Eu Te Darei o Céu, de 2005, premiado em Gramado. Em 2012, outra estreia, no longa, com 2 Coelhos. Seguiram-se Solace – Presságio de Um Crime, em Hollywood, com Anthony Hopkins, Mais Forte Que o Mundo, a cinebiografia do lutador de MMA José Aldo, e, na TV, a série Ilha de Ferro, com Cauã Reymond como coordenador de produção numa plataforma petrolífera.
Todos esses filmes e séries possuem grande potência visual. 2 Coelhos causou impacto pela ação e pelas referências que misturavam videogame, animação e até a série Star Wars. Poyart admite: “Gosto de testar meus limites contando visualmente as histórias, mas me interesso também pela superação de personagens como Aldo, Flávio. São histórias que possuem uma dimensão humana. É o que termina atraindo o público e permitindo a identificação.”
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Em filmes como Rollerball, os Gladiadores do Futuro, de Norman Jewison, de 1975 – refilmado por John McTiernan, em 2002 -, e O Sobrevivente, de John Michael Glaser, com Arnold Schwarzenegger, de 1987, Hollywood já ficcionalizou o esporte numa era futurista, em que ele é manipulado por regimes totalitários. Poyart segue outro rumo. Mistura ficção e documentário e, na verdade, Protesys é um falso documentário.
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“A reviravolta ocorre quando Flávio é convidado por uma startup americana para integrar seu projeto de próteses biônicas. A Solidumbs é uma empresa fictícia e, por meio dela, a combinação homem-máquina alcança um resultado surpreendente”, diz Poyart. O salto final de Flávio é algo mágico, impressionante. “No filme, é um efeito especial, mas a pergunta que fica é real – qual será o limite para esses novos superatletas?” A pergunta deve ecoar no longa.
Até pela origem de artista gráfico, Poyart possui grande controle da técnica e dos efeitos. Em 2 Coelhos, o protagonista – Fernando Alves Pinto – chegava a ganhar um alter ego no game, Detonando Miami, dentro do filme. O diretor agora caprichou no desfecho de Protesys.
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Relatando a experiências, Cauã diz que houve uma sinergia muito grande com o diretor. “Quando o Afonso me falou da ideia, achei genial e topei na hora.” E Flávio, sobre as próteses: “Espero que continuem evoluindo cada vez mais e proporcionem uma melhoria na qualidade de vida dos amputados.”
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