A Reunião Regional das Américas de 2024, promovida pela Associação Internacional dos Países Produtores de Tabaco (ITGA) reuniu representantes de todos os países membros da entidade, na manhã desta segunda-feira, 18, em Santa Cruz do Sul. A repercussão da 10ª Conferência das Partes (COP 10) da Convenção-Quadro para Controle do Tabaco, realizada em fevereiro, no Panamá, foi o tema da abertura do evento.
“Ficou muito claro o esforço que foi feito por países produtores, como Brasil, Panamá, El Salvador, Honduras, Colômbia e Nicarágua, trabalho que demonstra o alto nível de comprometimento assumido. Pude entender até que ponto representantes da cadeia estão empenhados na defesa do setor, remando contra uma corrente discriminatória que os difama e os assedia há quase 20 anos. E o mais triste é constatar que essa corrente antitabaco vem da posição oficial do governo brasileiro nas discussões que se estabeleceram em diferentes COPs. O governo do Brasil manifesta uma indiferença absoluta diante um setor que representa milhares de pessoas. Por isso, eu solicito ao governo que não ignore essa importante cadeia produtiva, considerando que o Brasil é um exemplo para o mundo em boas práticas sociais, ambientais e de produção”, disse José Javier Aranda, presidente da ITGA.
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“Diante da falta de apoio e reconhecimento, precisamos nos unir ainda mais. Não existe setor de tabaco de forma isolada e a união entre produtores e empresas é muito importante”, reforçou Marcilio Drescher, presidente da entidade anfitriã do encontro, a Associação dos Fumicultores do Brasil (Afubra). Helena Hermany, prefeita de Santa Cruz do Sul, participou da abertura e comentou que o discurso que chega em Brasília é diferente da realidade. “As ONGs distorcem totalmente o que significa o tabaco para os produtores, para os municípios e para o meio ambiente”, disse.
Ivan Genov, analista de mercado da ITGA, detalhou os números do cenário mundial da cadeia produtiva, abrangendo a produção de tabaco dos principais países produtores A pauta geral da reunião tratou sobre temas relacionados à produção e ao mercado mundial de tabaco. “Considerando o cenário mundial de produção, um dos destaques é o de que a Tanzânia deve ultrapassar o Zimbábue, tornando-se o maior produtor daquele continente”, afirmou Genov. Ele também chamou atenção para uma pequena redução na produção de cigarros, ao mesmo tempo que há aumento na demanda dos DEFs e da discussão em torno do descarte dos dispositivos.
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“A importância do agro” foi tema da fala feita pelo economista-chefe do Sistema FARSUL, Antônio da Luz. “Há 50 anos, tínhamos 67 pessoas vivendo no campo para 33 na cidade. Desde 2010, a população urbana está maior que no meio rural e a estimativa é que, em 2050, tenhamos 70 pessoas vivendo nas cidades e apenas 30 produzindo alimentos no meio rural”, contextualizou o economista abrindo a discussão sobre a necessidade de tecnologia para aumento de produtividade no campo, com o objetivo de garantir a segurança alimentar ao mesmo tempo em que se preserva o meio ambiente.
“Enquanto os Estados Unidos mantiveram sua área plantada ao longo da última década, a Argentina aumentou em 23% a sua área plantada. O Brasil aumentou 75% e esse dado normalmente vem com uma dúvida: estariam devastando as florestas? E a resposta é não. O que fez esse aumento acontecer foi a tecnologia brasileira que permite produzir mais na mesma área, fazendo rotação de culturas, enriquecendo o solo ao invés de empobrecê-lo. O Brasil precisa entender o seu papel de relevância no cenário mundial”, disse ele.
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O presidente do Sindicato Interestadual da Indústria do Tabaco (SindiTabaco), Iro Schünke, apresentou aos participantes os principais números do segmento no Brasil e a pesquisa “Perfil socioeconômico do produtor de tabaco da Região Sul do Brasil”, realizada no segundo semestre de 2023, pelo Centro de Estudos e Pesquisas em Administração da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (CEPA/UFRGS). O estudo revela que a renda média per capita familiar dos produtores de tabaco da Região Sul do Brasil é de R$ 11.755,30, ficando a renda per capita em R$ 3.540,75, enquanto a renda per capita média do brasileiro é de R$ 1.625,00 (IBGE, 2022).
Outras informações constatadas são, por exemplo, de que 80% dos produtores de tabaco enquadram-se nas classes sociais A e B, enquanto a média geral brasileira não chega a 25%. O melhor padrão social dos produtores de tabaco é percebido também na base da pirâmide, pois apenas 19,6% estão nos estratos C e D, situação que é a realidade de quase 76% da população brasileira. “Somos muito acusados de que destruímos as florestas nativas, que temos trabalho infantil, que não cuidamos da saúde e segurança do produtor. Isso não acontece no Brasil e a pesquisa, conduzida por um centro idôneo, está aí para provar. Eu espero que o aumento na produção em outros países, como vimos hoje, esteja acontecendo dentro dessas condições. Caso contrário, seguiremos sendo atacados”, destacou Schünke.
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A parte final da reunião foi marcada por uma sessão dedicada às conclusões da COP 10 com foco no Brasil. A chefe executiva da ITGA, Mercedes Vázquez, mediou o debate que contou com a participação do diretor de Global de Assuntos Corporativos da Alliance One International, Michiel Reerink; do vice-presidente de Assuntos Externos da Universal Coporation, Benjamin Dessart; e de participantes da delegação que foram até o Panamá para a COP 10, mas que não puderam participar. “Percebemos que o Brasil é quem lidera as abordagens mais radicais e essas iniciativas podem acabar impactando outros países produtores”, disse Vázquez, abrindo a discussão.
“Depois de estarmos em todas as COPs, esta última nos deixou com uma preocupação muito grande. Quando não alcançam seus objetivos, entram com novas ideias e o Brasil foi mais uma vez pioneiro nesse sentido, infelizmente. Falaram sobre restrições à produção e depois da repercussão negativa chamaram um representante do MDA para abordar a diversificação e tentar amenizar. Mas nos trouxe grande preocupação que mais uma vez estamos falando em restrições aos produtores. Fico muito triste de representantes de nosso próprio País nos tratar como inimigos”, comentou Romeu Schneider, vice-presidente da Afubra.
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Os números demonstram a grande importância do tabaco no cenário do agro sul-brasileiro. Desde 1993, o Brasil permanece na liderança como maior exportador de tabaco do mundo. Segundo o Ministério de Desenvolvimento, Indústria e Comércio (MDIC/ComexStat), o Brasil embarcou 512 mil toneladas de tabaco em 2023, o que gerou divisas de US$ 2,729 bilhões. Ao todo, 107 países compraram o produto, tendo a União Europeia em destaque com 42% do total embarcado, seguida de Extremo Oriente (31%), África/Oriente Médio (11%), América do Norte (8%) e América Latina (8%). Bélgica, China, Estados Unidos e Indonésia continuam no ranking de principais importadores. A participação do tabaco nas exportações foi de 0,80% no Brasil, 4,51% na Região Sul e, no Rio Grande do Sul, estado que é o maior produtor, chegou a 11,19%.
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