Frio intenso dos últimos dias é bom para o campo

O ingresso de uma massa de ar polar no Rio Grande do Sul derrubou as temperaturas nos últimos dias. Nessa quarta, 21, Venâncio Aires registrou -0,1 grau, a menor marca do ano na região. Já em Santa Cruz do Sul ocorreu a menor marca do ano no município, 2,6 graus. Apesar de causar preocupação para quem trabalha no campo, o frio neste período é benéfico para as culturas de cereais e frutíferas, conforme o engenheiro agrônomo e extensionista rural da Emater/RS-Ascar de Soledade, Josemar Parise. As culturas de verão já foram todas colhidas e as de inverno são adaptadas à condição fria.

“Os impactos são positivos e até seria bom um frio de maior intensidade nas culturas de inverno, principalmente os cereais”, explica. A maioria das espécies cultivadas nessa época são gramíneas e o frio acaba contribuindo para que haja um aumento de perfilhos por planta, quando paralisa o crescimento e se multiplica numa mesma semente. Isso significa um maior número de espigas por unidade/área, que é um componente de rendimento importante no caso do trigo, cevada, aveia e centeio.

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Segundo Parise, a planta cresce menos, mas aumenta o rendimento. “Nessa época, tendo em vista que a maior parte das culturas está no início da fase vegetativa, o frio contribui positivamente.” No entanto, quando ocorrem geadas e quedas de temperatura durante a fase de floração, que é entre o fim de agosto e o mês de setembro, é prejudicial. O trigo é muito sensível e a parte reprodutiva da planta congela, inviabilizando a formação do grão.

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Outro ponto positivo das baixas temperaturas é a eliminação de plantas invasoras, como a soja, que nasce espontânea após a colheita a partir dos grãos que caem da colheitadeira. “O frio elimina essa planta, quebrando essa ponte viva de transmissão de doenças, como a ferrugem asiática, que se propaga em partes vivas da planta”, conta Josemar Parise. Desta forma, o novo plantio não terá o risco de propagação.

O frio também é vantajoso para a eliminação das pragas que atacam as culturas frutíferas, como a mosca das frutas. Para o extensionista rural da Emater, o ideal seriam geadas fortes nesta época para eliminar esses focos de doenças. As baixas temperaturas ainda contribuem positivamente para que haja a quebra da dormência das frutíferas de clima temperado, como uva, cáqui, ameixa, pêssego e maçã, que precisam de frio nesta época para uma florada mais intensa na primavera.

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Tabaco exige atenção especial nesta época
Para Josemar Parise, ainda está cedo para que o frio prejudique as lavouras de tabaco, o que pode ocorrer só onde já foi feito o plantio a campo antecipado. No entanto, no Vale do Rio Pardo as geadas costumam ser menos intensas, e o frio é mais preocupante nas regiões mais altas, como em Sobradinho e Herveiras.

O agricultor e colunista da Gazeta do Sul Giovane Weber conta que o frio pode causar muitos transtornos. “Se não proteger a muda de tabaco ela pode morrer ou crescer devagar e não corresponder ao que precisa, exigindo o replante, que dá uma lavoura muito desuniforme.” O vento frio também pode queimar as pontas das folhas, o que exige mais cuidados para resguardar os canteiros. No entanto, como o tabaco é uma cultura quente, com o calor as mudas reagem novamente.

Alguns dos cuidados na propriedade de Weber incluem manter o nível da água elevado para não haver congelamento, além de evitar tratamento químico que deixe as mudas com umidade. “Nas noites muito frias, com possibilidade de geada ao amanhecer, muitas vezes protegemos com mais uma lona. Já tem uma proteção, mas colocamos uma que veda melhor e evita que a muda congele.”

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Segundo o agricultor, o plantio recém foi iniciado na região, com algumas propriedades em junho e julho. O pico do transplante das mudas, no entanto, ocorre no fim deste mês em direção a agosto, já que a maioria dos produtores aguarda a passagem do frio. Nos dias mais amenos a muda consegue fixar a raiz e começar a crescer.

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Como o vento queima as pontas das folhas, canteiros precisam ser bem protegidos

Recomendações
De acordo com o gerente de Pesquisa Agrícola da Alliance One Brasil, Edson Menezes, o plantio do tabaco deve ser programado para evitar os períodos mais propensos ao frio intenso e ocorrência de geada, seguindo as recomendações técnicas de cada empresa e o calendário de semeadura e plantio para cada região. “A recomendação é evitar o transplante do tabaco na atual semana, realizando na semana seguinte, para quando os modelos indicam temperaturas mais favoráveis ao plantio.”

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Adotando esta recomendação, os riscos de perdas de mudas no pós-transplante, provocadas pelo frio, vento intenso e geada, serão minimizados, reduzindo o estresse das mudas recém transplantadas. Desta forma, as lavouras terão maiores probabilidades de desenvolvimento padrão e uniforme, garantindo a colheita de bons resultados ao fim da safra. Além de desuniformidade e morte das mudas, o frio pode causar danos às lavouras com tabaco plantado há mais tempo, que pode apresentar florescimento precoce e maior número de brotações, limitando o número de folhas por planta.

Nos dias de baixas temperaturas a recomendação é ter extrema atenção ao fechamento dos canteiros. “A recomendação é realizar o fechamento ainda quando há a incidência de sol, para uma reserva de calor durante o período mais frio da noite, tendo atenção especial para uma boa vedação das extremidades”, indica Menezes. Uma forma de manter a temperatura do interior do canteiro é utilizar talagarça reemay e não tecido do tipo TNT embaixo do plástico de cobertura do float.

Outro fator importante é manter o nível da água entre dez e 12 centímetros, pois quanto menor for a altura da lâmina de água, maior será a possibilidade de congelamento, principalmente em regiões mais frias, provocando danos nas mudas.

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