Somos cercados de palavras e frases por todos os lados. E elas vão do oito ao oitenta, da tristeza à alegria, do nada ao infinito. Até calar pode significar. “O silêncio dele diz tudo”, sentenciam por aí. Às vezes, há novidade, entusiasmo, prazer; às vezes, futilidades, vazios, mentiras e baixarias. Ao contrário de uma ilha, que é uma porção de terra cercada de água por todos os lados e, em princípio, impede o contato, as palavras que nos circundam nos põem em comunicação com os outros, nos conectam com a vida.
Mas, a minha intenção é enveredar um pouco pelo universo da obviedade, muito presente em várias circunstâncias da nossa andança por tantos recantos da sociedade. Não trato especificamente do chavão, que é aquela sentença ou provérbio muito batido pelo uso. Alguém já deve ter ouvido ou lido “parabéns por este dia em que colhes mais uma rosa em teu jardim, ou no jardim da tua existência”.
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Vamos a alguns protocolos, então. No dia do aniversário, ou em qualquer evento festivo da vida, aí vem a turma, os amigos, os convidados, cada um trazendo um presentinho ou um presente coletivo. Vinho, camiseta, rapadura, banha, mortadela, chinelo de dedo, de tudo que se possa imaginar. A resposta do homenageado é sempre a mesma: mas não precisava! Às vezes, não precisava mesmo, mas omitir o “não precisava” beira a falta de educação.
Quem faz churrasco, começa cedo a se mexer. A função é grande: espetos, carvão, grelhas, carne, salsichão fazem parte da jornada. Daí a pouco, cresce o movimento em torno do churrasqueiro, que se esmera em driblar palpites e oferecer o melhor. Lá pelas tantas, anuncia que vai servir. E todos vão à mesa, menos ele, que volta para administrar aquela porção que ficou no fogo. Aí surge a frase infalível: não vai almoçar com a gente? Vem, senta aqui! Se essa frase, este convite não aparece, a festa não está completa.
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Um dos redutos mais ricos dessa pobreza é o universo do futebol. Escutar a entrevista de alguns jogadores constitui invariavelmente um exercício de inestimável aprendizagem. “A gente sabia que o jogo seria difícil… ninguém mais é bobo no futebol… sabia que eles viriam para cima nos quinze primeiros minutos… levamos o gol de bobeira… agora vamos ver o que o ‘professor’ vai falar no vestiário… vamos ter que virar o placar no segundo tempo…”, por aí desfilam as surpreendentes novidades.
Faz um bom tempo que o entrevistado, ao ser questionado sobre o gol que marcou, dispara o texto pronto: “Primeiramente, quero louvar o Senhor porque me permitiu esse momento maravilhoso. Tá certo que o goleiro colaborou, mas isso não vem ao caso”. Supõe-se que o Senhor não estava de olho no time adversário, relegando-o à desgraça. Pela lógica, se estivesse dos dois lados, todos os jogos terminariam empatados.
Acho que ouvi do professor Luís Augusto Fischer, ou talvez tenha sido do professor Paulo Guedes, esta história. Perguntaram a um repórter se não estava cansado de ouvir as mesmas óbvias respostas dos jogadores. Perguntaram também a um jogador por que respondia sempre a mesma coisa. Este devolveu com ingênua sabedoria: como eles fazem sempre as mesmas perguntas, eu respondo sempre a mesma coisa.
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