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FALANDO EM DINHEIRO

Francisco Teloeken: “O abuso financeiro não é o tipo de crime que costuma ser falado”

Há poucos dias, o calendário de eventos anuais marcou o Dia dos Namorados. Todas aquelas manifestações de carinhos, presentes, flores, jantares especiais, cuidados, etc, podem estar escondendo uma pessoa que, na verdade, quer aprisionar a outra. Nas finanças, por exemplo, já que é homem, acha que sabe cuidar melhor das finanças e, o que é pior, a mulher acaba aceitando essa premissa.

No livro A Mente acima do Dinheiro, os autores Brad Klontz e Ted Klontz contam a história de Stephanie que, pelo modelo familiar que viveu em sua infância, quando casou entregou a seu marido todas as decisões sobre as finanças da família. Grata pela segurança e pela estrutura familiar, Stephanie estava feliz em simplesmente cuidar do lar até que, um dia, seu marido pediu o divórcio. 

Anos depois ela descobriu que, meses antes de pedir o divórcio, o ex-marido havia transferido para sua nova paixão a maior parte dos bens da família, deixando Stephanie sozinha, sem dinheiro e sem bens patrimoniais.

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Conhecido como abuso financeiro ou violência financeira, situações como a descrita anteriormente fazem parte da Lei Maria da Penha (artigo 7º – Lei 11.340/2006). Apesar de comum, não é o tipo de crime que costuma ser falado, quem dirá registrado. De acordo com o Ministério da Mulher, Família e Direitos Humanos, em 2020 foram registradas 106 mil denúncias de violência psicológica e apenas 3 mil denúncias de abusos financeiros. Isso que, segundo a Allstate Foundation Purple Purse, o abuso financeiro acontece em 99% das situações de violência doméstica.

Os abusos financeiros se manifestam através de várias formas. Na prática, algumas situações podem indicar que está havendo abuso financeiro numa relação, quando o abusador:

  1. Quer controlar o salário da mulher, pedir acesso a senhas e cartão de crédito e se colocar como cuidador das finanças;
  2. Menosprezar a capacidade da mulher de cuidar do próprio dinheiro;
  3. Pedir dinheiro emprestado e não pagar;
  4. Comprometer o limite do crédito do cartão da companheira;
  5. Pedir para que a mulher venda bens ou os transfira para ele, de modo que ele possa “cuidar” dos negócios com mais liberdade;
  6. Valer-se da condição de único provedor de renda na família para humilhar e manipular a mulher, dizendo, por exemplo, “sou eu que ganho, então sou eu que mando!”;
  7. Prejudicar a companheira em seu trabalho, de modo a que ela perca ganhos e até promoções, para torná-la mais dependente.

Para romper um ciclo de abuso financeiro, independente do estágio em que ele se encontra, a psicoterapeuta Sabrina Amaral, da Epopeia Desenvolvimento Humano, recomenda que é preciso tomar consciência do problema e decidir que não quer mais isso.

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Mesmo que a mulher não trabalhe fora, ela tem direito de ser protagonista na vida financeira do casal. Ficar em casa, cuidar e levar os filhos para cima e para baixo, administrar ou até fazer ela própria os serviços domésticos, etc, custa caro. Aliás, sobre esse assunto, Reinaldo Domingos, PhD em educação financeira e criador da DSOP Educação Financeira, publicou, em 15 de junho deste ano, o vídeo Quem cuida do lar precisa ter salário.

E não deve ser só salário para as despesas da família e até para o consumo próprio, mas, também, para benefícios pessoais, como formar uma reserva estratégica para, em caso de separação, dispor de algum dinheiro. A personagem do livro A mente acima do dinheiro, Stephanie, citado no início deste artigo, não dispunha de reserva estratégica quando se separou e levou vários anos até conseguir recuperar-se financeiramente.

É claro que para romper um ciclo de abuso financeiro é preciso, além de estar consciente sobre a necessidade de sair desta situação, contar com uma rede de apoio. Pode ser de simples aconselhamento ou, até se for o caso, para buscar abrigo de proteção por um período.

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