Colunistas

Francisco Teloeken: “Gastar mais pensando em economizar”

Frequentemente, somos tentados a gastar mais do que planejamos ou do que poderíamos. As operadoras de cartão de crédito, por exemplo, oferecem ao cliente isenção de anuidade se atingir determinado valor de compras, durante o mês. Em compras pela internet, muitos fornecedores não cobram frete, desde que a compra mínima seja de determinado valor, o que, às vezes, para atingir aquele valor, leva o consumidor a acrescentar mais um item no “carrinho”, talvez até dispensável.

Mais recentemente, começaram a aparecer as ofertas de cash back, funcionando como indutores muito fortes de gastos. Nos supermercados, são comuns as ofertas de “pague 2, leve 3”. Mesmo não precisando de duas unidades, muito menos de três, acabamos colocando a mercadoria no carrinho, com a sensação de estar tendo uma vantagem. Ou, então, levar cinco iogurtes ao preço de R$10,50 cada um, já que um só custa R$ 12,00, economizando R$ 5,50. O ganho de R$ 5,50 provavelmente vai se perder com o descarte de algum iogurte não consumido dentro do prazo de validade.

LEIA TAMBÉM: Francisco Teloeken: “A dor do pagamento”

Publicidade

Enfim, existem inúmeras ofertas no mercado, com a estratégia de induzir no consumidor a sensação de levar vantagem. Com isso, o consumidor acaba adquirindo coisas que não precisaria ou em maior quantidade, mas com a sensação de estar ganhando. Só que são pequenos gastos que não parecem pesar, mas que, somados, atingem valores que podem comprometer o orçamento.

Nos Estados Unidos, esse expediente comercial foi definido com o termo “spaving”: gastar mais para economizar mais. Talvez seja um dos motivos que, segundo o relatório do Fed (Federal Reserve, o banco central americano) as dívidas de cartão de crédito somaram R$ 5,9 trilhões, nos primeiros quatro meses deste ano.

LEIA TAMBÉM: Como usar de forma responsável o cartão de crédito e evitar dívidas

Publicidade

No Brasil, o endividamento de famílias atingiu em maio 78,8%, conforme mostram dados da Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor, realizada pela Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo – CNC. Dessas, 28,6% estavam inadimplentes, quer dizer, com dívidas em atraso. O maior segmento de dívidas era com o cartão de crédito, representando 86,9% das dívidas.

O problema da dívida de pessoas físicas envolve, principalmente, quem ganha até três salários mínimos (até R$ 4.236,00), representando 79,7% dos devedores. Na avaliação de Lucas Muniz, doutorando em economia na Unicamp, “A gente se esquece que existem classes sociais diferentes. Há quem possa arriscar e gastar. Outros, não. O consumidor despreparado, sem educação financeira, vê vantagem, coloca no cartão e vai acumulando. Aí pensa que está tudo bem se consumir cada vez mais”.

LEIA TAMBÉM: A importância de, periodicamente, registrar os gastos

Publicidade

Pode ser difícil resistir às ofertas tentadoras do mercado. Ainda mais que estudos sobre o comportamento do consumidor apontam que grande parte do ato de comprar está ligado a um processo inconsciente; apenas 5% do processo cerebral seria consciente. Além disso, do ponto de vista das motivações, o ser humano vai sempre inconscientemente acessar um sistema de recompensa que está diretamente voltado à satisfação.

Estudos sobre o comportamento financeiro revelam fatores externos, como a maior visibilidade de um produto na prateleira e a correria do cotidiano, que nos fazem acreditar que nossas escolhas são acertadas, quando, na verdade, elas podem nos levar a perder dinheiro.

LEIA TAMBÉM: Inflação: a oficial, a disfarçada e a real

Publicidade

Para o Procon, existe também a responsabilidade de quem oferece o serviço ou produto, seja vendedor, fabricante ou marketplace. O fornecedor tem o dever de cuidado, diligência. O consumidor precisa saber quais são os benefícios e os malefícios que alguma aquisição pode ter porque tudo está relacionado à indução a um comportamento. “O Código de Defesa do Consumidor fala no direito de reflexão”, lembra Carina Minc, especialista em defesa do consumidor do Procon-SP.

Quem estiver com o orçamento apertado e não tiver disciplina, deve evitar abrir e-mails e mensagens de WhatsApp, seguir indicações de terceiros ou qualquer mensagem de promoção. O conselho mais comum dos especialistas, para livrar-se da sensação de economizar gastando mais, provocada pelo spaving, é controlar o impulso. Como diz um personagem da série Todo mundo odeia o Chris, ”Se eu não comprar nada, o desconto é bem maior.”

LEIA MAIS TEXTOS DE FRANCISCO TELOEKEN

Publicidade

Chegou a newsletter do Gaz! 🤩 Tudo que você precisa saber direto no seu e-mail. Conteúdo exclusivo e confiável sobre Santa Cruz e região. É gratuito. Inscreva-se agora no link » cutt.ly/newsletter-do-Gaz 💙

Carina Weber

Carina Hörbe Weber, de 37 anos, é natural de Cachoeira do Sul. É formada em Jornalismo pela Universidade de Santa Cruz do Sul (Unisc) e mestre em Desenvolvimento Regional pela mesma instituição. Iniciou carreira profissional em Cachoeira do Sul com experiência em assessoria de comunicação em um clube da cidade e na produção e apresentação de programas em emissora de rádio local, durante a graduação. Após formada, se dedicou à Academia por dois anos em curso de Mestrado como bolsista da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES). Teve a oportunidade de exercitar a docência em estágio proporcionado pelo curso. Após a conclusão do Mestrado retornou ao mercado de trabalho. Por dez anos atuou como assessora de comunicação em uma organização sindical. No ofício desempenhou várias funções, dentre elas: produção de textos, apresentação e produção de programa de rádio, produção de textos e alimentação de conteúdo de site institucional, protocolos e comunicação interna. Há dois anos trabalha como repórter multimídia na Gazeta Grupo de Comunicações, tendo a oportunidade de produzir e apresentar programa em vídeo diário.

Share
Published by
Carina Weber

This website uses cookies.