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Francisco Teloeken: “a quem ou o que deve-se pagar primeiro?”

Ao receber o salário, o pró-labore, a renda do aluguel do imóvel ou outra receita qualquer, a quem ou o que deve-se pagar primeiro? A maioria, provavelmente, vai responder o aluguel, a prestação da casa ou apartamento, a luz, água, escola, mercado, carnês de lojas, financiamento de carro, moto etc, de acordo com o que cada pessoa achar mais importante ou de maior risco para si e sua família. Todas as respostas são aceitáveis ainda mais que o não pagamento de algum desses itens pode gerar consequências negativas.

Ao não pagar a conta de luz, por exemplo, depois de alguns dias e avisos da concessionária, a energia elétrica pode ser cortada. Já o não pagamento da prestação do financiamento do carro ou da moto pode acarretar o recolhimento do veículo. Enfim, é inevitável alguma perda ou sanção decorrente do não pagamento de alguma conta, no vencimento.

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Voltando à pergunta do item anterior, a resposta que muitas vezes choca é que o primeiro pagamento deveria ser feito a nós mesmos. Como assim, se não sobra dinheiro depois de pagar as contas, perguntam alguns. Muitas vezes, até falta, reclamam outros.

Todos sabem que deveríamos guardar algum dinheiro para a aposentadoria, para a compra de algum bem de valor maior ou para alguma despesa imprevista. Motivos não faltam. Só que sempre esperamos pelo momento certo: depois de pagarmos as contas, quando conseguirmos um aumento de salário ou um emprego melhor remunerado, quando as coisas melhorarem… Assim, as pessoas esperam pacientemente por seu próximo salário ou renda e repetem o mesmo processo mensal e indefinidamente.

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A ideia de “pagar-se primeiro” não é muito comum entre nós ou, pelo menos, não é levada muito a sério. Além disso, conhecer um conceito e usá-lo para mudar nossa vida são duas coisas completamente diferentes. É que conduzimos nossas finanças pessoais com base em algumas crenças ou atitudes, aprendidas durante a vida, algumas delas quando ainda crianças:

  • 1) antes de receber o dinheiro ou confirmar o depósito do salário ou outra renda qualquer em nossa conta bancária, já sabemos que vamos usá-lo para pagar as contas do mês, alguma eventualmente já vencida. Algumas pessoas chegam a sentir verdadeiros “orgasmos” quando liquidam uma conta. Ignoram que, pela Lei da Atração, o Universo conspira para que tenham novas contas da espécie, cuja liquidação, no futuro, pode proporcionar novo momento de felicidade;
  • 2) o condicionamento inicial de nossa vida: para mudar a forma de administrar o dinheiro, hoje, como adultos, é interessante pesquisarmos e compreendermos as mensagens que captamos e internalizamos quando éramos crianças, escondidas em nossa mente, determinando nossas ações e comportamentos atuais; precisamos reconhecer esses padrões e começar a libertar-nos deles;
  • 3) contentar-se com breves momentos de prazer: uma barrinha de chocolate, uma revista de variedades, um cafezinho, uma cervejinha; inconscientemente, partimos do pressuposto de que nunca teremos condições de fazer tudo o que queremos, por isso nos consolamos, “torrando dinheiro” com coisinhas;
  • 4) é chato: o que pode fazer a diferença e que funciona, sendo motivador, inspirador e divertido é poupar para algo que se quer muito;
  • 5) pressuposto do “tudo ou nada”: apoiado na crença de que o valor da economia deve ser significativo desde o começo, descarta-se a possibilidade de poupar uma quantia menor, ignorando que pequenas e constantes quantias podem tornar-se grandes.

Pagar-se primeiro pressupõe atender a quatro condições principais:

  • 1º) definir um objetivo e o valor mensal: é como se fosse uma conta obrigatória que deve ser paga no início de cada mês; quem está começando com mais idade precisa “pagar-se com mais pressa”, aportando um valor maior;
  • 2º) saber onde aplicar o dinheiro poupado;
  • 3º) comprometer-se com esse procedimento: mesmo em momentos de apertos financeiros, não recorrer a essas economias como uma boia de salvamento;
  • 4º) tornar automática a poupança: para eliminar a tentação de gastar o dinheiro ou evitar esquecimentos , autorizar o banco a retirar de sua conta corrente, preferencialmente após o crédito do salário ou de outra renda, e apropriá-lo numa conta de investimento.

Pensar ou falar em poupar dinheiro pode passar a ideia de obrigação, de privação ou até de sacrifício. Já “pagar-se primeiro” significa que decidimos reservar algum dinheiro primeiramente para nós mesmos, afinal fomos nós que, de alguma forma – com ética e honestidade, diga-se de passagem – fizemos por merecer e temos direito a esse dinheiro.

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No dia do recebimento do salário ou de alguma outra receita, antes de sair por aí para pagar aos credores – às vezes, com raiva e ressentimento; outras, com um sentimento temporário de alívio -, é importante parar por um momento e, conscientemente, separar uma parte, por menor que seja, e depositá-la numa conta de investimento. 

Ou, então, colocar o valor apartado num envelope, devidamente identificado, e guardá-lo em algum lugar seguro, mas onde não possa ser facilmente retirado. É um ritual, sim, mas é através dos rituais – presentes, em todos os tempos, em eventos religiosos, sociais, jurídicos, esportivos etc – que nós dizemos ao nosso inconsciente de que somos capazes de começar um novo hábito financeiro em nossa vida. Poupar é, acima de tudo, tomar uma decisão que precisa ser mantida como prioridade. 

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Carina Weber

Carina Hörbe Weber, de 37 anos, é natural de Cachoeira do Sul. É formada em Jornalismo pela Universidade de Santa Cruz do Sul (Unisc) e mestre em Desenvolvimento Regional pela mesma instituição. Iniciou carreira profissional em Cachoeira do Sul com experiência em assessoria de comunicação em um clube da cidade e na produção e apresentação de programas em emissora de rádio local, durante a graduação. Após formada, se dedicou à Academia por dois anos em curso de Mestrado como bolsista da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES). Teve a oportunidade de exercitar a docência em estágio proporcionado pelo curso. Após a conclusão do Mestrado retornou ao mercado de trabalho. Por dez anos atuou como assessora de comunicação em uma organização sindical. No ofício desempenhou várias funções, dentre elas: produção de textos, apresentação e produção de programa de rádio, produção de textos e alimentação de conteúdo de site institucional, protocolos e comunicação interna. Há dois anos trabalha como repórter multimídia na Gazeta Grupo de Comunicações, tendo a oportunidade de produzir e apresentar programa em vídeo diário.

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