O presidente francês Emmanual Macron reconheceu na última quinta-feira, 27, a responsabilidade de seu país no genocídio que matou 800 mil pessoas em Ruanda. “Com humildade e respeito, venho me posicionar ao seu lado hoje. Venho reconhecer a extensão de nossas responsabilidades”, afirmou em discurso no memorial às vítimas localizado em Kigali, capital do país africano. O evento faz parte de uma viagem de dois dias de Macron ao país.
A posição é resultado do trabalho de uma comissão estabelecida por Macron e liderada pelo historiador francês Vincent Duclert. O relatório do comitê, entregue ao governo francês em março, analisou a relação de proximidade entre o país, à época comandado pelo ex-presidente François Mitterrand, e o governo de Ruanda, liderado pelo ditador hutu Juvenal Habyarimana, concluindo que a França também foi responsável pelo genocídio. Em seu discurso, Macron afirmou que a França ignorou os avisos de um possível massacre.
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Apesar de reconhecer responsabilidade, o relatório de cerca de mil páginas absolveu a França de culpa direta pelo assassinato de 800 mil pessoas, a maioria da etnia tutsi. “Os assassinos que perseguiam os pântanos, as colinas, as igrejas não tinham a face da França. A França não era cúmplice”, disse Macron, ao prometer que levará à Justiça qualquer autor do genocídio que viver em território francês.
As reações ao discurso foram mistas. A associação de sobreviventes Ibuka lamentou a falta de um pedido de desculpas de Macron. O presidente de Ruanda, Paul Kagame, afirmou que as palavras foram mais poderosas que um pedido de perdão. “Esta visita é sobre o futuro, não o passado. Quero acreditar que esta reaproximação é irreversível”, afirmou em entrevista coletiva. Em Kigali, onde 250 mil vítimas do massacre estão enterradas, as ruas estavam vazias durante a visita do presidente.
Esta é a primeira vez que um chefe do executivo francês visita Ruanda desde 2010. O último foi Nicolas Sarkozy, mas sua presença no país deixou mais dúvidas que certezas sobre o posicionamento da França sobre o tema. Onze anos depois, Macron revisou a postura francesa e deve nomear um novo embaixador à Ruanda – um movimento que leva ao resgate diplomático. Por conta das acusações de Kagame de que a França seria cúmplice do genocídio, o país não indicava um embaixador desde 2015.
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Em 6 de abril de 1994, um atentado contra o avião em que o ditador Juvenal Habyarimana viajava com o ex-presidente do Burundi, Cyprien Ntaryamira, matou os dois líderes. Extremistas hutus culparam a Frente Patriótica de Ruanda pelo assassinato e iniciaram um massacre que durou cerca de 100 dias – vitimando principalmente membros da etnia minoritária tutsi.
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