Há 170 anos, os alemães Cristiano Dominico Putzke e Anna Edwiges Putzke chegaram ao Vale do Rio Pardo com três filhos pequenos, dispostos a recomeçar sua vida no Brasil. Inseridos em um movimento de imigração que trouxe para o continente americano um imenso número de cidadãos europeus, Cristiano e Anna começaram uma história que, hoje em dia, é mantida viva por um de seus tataranetos, o músico vera-cruzense Neuri Putzke, de 47 anos.
Ele mora na casa que seus antepassados construíram, no ano de 1851, em uma área então pertencente à Freguesia de Santa Cruz. Só a partir de 1858 o lugar passaria a ser chamado de Vila Teresa, povoado a partir do qual formou-se o município de Vera Cruz, emancipado de Santa Cruz do Sul em 1959.
A residência histórica fica na localidade de Linha Um, não muito distante da área urbana de Vera Cruz. Neuri vem dedicando muito empenho e suor para restaurar e manter a história da construção desde 1996. Nesse ano, ele recebeu o imóvel de herança de seu pai após casar com sua esposa, Rose, com quem tem duas filhas, Mariana e Manuela Putzke, de 14 e 10 anos, respectivamente.
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A missão não foi fácil. Quando começou a restaurar o imóvel, o telhado teve que ser totalmente refeito. Neuri correu atrás de materiais antigos para manter o espírito da construção. Janelas, portas e muitos ambientes mantêm o aspecto de 170 anos atrás.
“A gente veio morar aqui por necessidade. Quando casamos, não tínhamos nada. Foi a melhor opção que arrumamos, pois não tínhamos dinheiro para alugar nada.” Hoje, a casa dos Putzke é, além de um marco histórico, um refúgio cheio de paz e tranquilidade bem perto da zona urbana de Vera Cruz e também de Santa Cruz do Sul, já que o terreno fica a menos de um quilômetro da RSC-287.
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Como era comum no século 19, a moradia foi construída em diferentes espaços. No galpão de madeira, os imigrantes moraram inicialmente em um andar superior, enquanto guardavam os animais da propriedade na parte inferior. Já a cozinha ficava em uma construção de pedra, ao lado. Por volta de 1886, a casa recebeu uma ampliação para a construção dos quartos da família ao lado da cozinha e o galpão, que foi a morada original, ficou restrito aos animais.
Atualmente, Neuri mantém no galpão um espaço de lazer. Construiu um palco que serve de salão de festas e de ensaios para a N’Band, conjunto musical que ele fundou no ano 2000. Na construção ao lado, onde ficam os quartos, o músico ainda tem um estúdio no andar superior, o que lhe permite trabalhar em casa.
Toda a preservação foi feita com o esforço do próprio Neuri. Muitas peças foram obtidas em construções antigas, preservando o estilo original. Na entrada do terreno, foi mantido o muro de pedras erguido na época da chegada dos Putzke. Rente ao muro, recentemente foi construída uma capela, que remete à forte religiosidade da família e já recebeu celebrações tanto católicas quanto evangélicas.
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Por poder manter a história da família Putzke, Neuri se diz abençoado. Ele guarda com carinho vários documentos que registram um pouco da vida de seus antepassados – seu tataravô Cristiano, o trisavô Justin, o bisavô Thomas, o avô Pedro e seu pai, Rami Putzke.
“Eu tenho muita fé. Mais agradecendo do que pedindo. Depois que começamos a construir e cercamos a parte da frente, minha esposa sonhou, naquela noite, que meus avós, Pedro e Olinda Putzke, estavam passeando de mãos dadas e achando legal que havia alguém restaurando tudo isso”, lembra Neuri, que completa: “Hoje eu não me vejo morando em outro lugar. Eu tenho muita sorte que tenha sido minha a missão de tomar conta de tudo isso”.
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Neuri é conhecido nos palcos do Estado por animar festas de todos os tipos. Porém, a pandemia impediu o músico de se apresentar com a N’Band. O prejuízo é incalculável, já que ele precisa deixar todo seu equipamento parado. Desde março do ano passado, a estimativa é de que seu conjunto deixou de fazer entre 120 e 130 apresentações.
Sem poder exercer seu ofício, o artista hoje trabalha com bicos na construção, auxiliando em obras. No início da pandemia, foi obrigado a vender alguns instrumentos para pagar contas.
Mas o tempo parado, sem apresentações, serviu para incrementar a residência histórica. Recentemente, Neuri trabalhou na construção de uma ligação entre a cozinha e o espaço onde ficam os quartos. O galpão também recebeu reparos, como pinturas e pequenas reformas. A ocupação com a casa serviu como forma de esquecer a triste situação que a pandemia impôs aos músicos, impedidos de trabalhar há cerca de um ano.
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Mesmo com a situação difícil, Neuri, que começou sua carreira nos palcos em 1989, mantém o otimismo, visando o futuro. Ele projeta seguir melhorando a sua casa, mantendo sempre o estilo original da construção.
Na música, o artista tratou de se manter em atividade. Mesmo sem os shows, ele compôs duas músicas durante a pandemia. Uma delas já está gravada, chama-se A música não pode parar e está em fase de gravação do clipe. “Uma hora isto tudo vai passar, e a banda precisa estar preparada”, aponta Neuri Putzke, já planejando o retorno da N’Band aos palcos, assim que for possível.
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