Criado a partir de um sonho de preservação ambiental, o Parque Witeck é um convite à contemplação e bem-estar em meio à natureza. Em uma área de 70 hectares, praticamente toda recuperada, é possível dar uma volta ao redor do globo e viajar por florestas do mundo todo. O espaço, que segue aberto mesmo nesta época de pandemia, tem ajustes nas regras de visitação, mas mostra-se como uma opção de lazer e contato com o verde.
Na área, a conexão é com a vida. O sinal de telefonia e internet parece desaparecer à medida que se avança sobre a preservação. O passeio, que pode durar até um dia inteiro, tem três quilômetros por trilhas acessíveis que mostram a diversidade de plantas e animais silvestres atraídos pela vida em abundância no local. Prepare-se para viajar pelas dezenas de tons de verde que, durante a primavera, colorem o espaço. O Witeck ensina o ser humano a repensar a sua relação com o mundo onde vive.
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A revolução do médico cachoeirense
A área onde fica o Parque Witeck – localizado em uma propriedade de 200 hectares –, no interior do município de Novo Cabrais, era considerada terra ardida. Na linguagem de quem vive no campo, uma propriedade que não dá nada, degradada, sem futuro. Tudo que se plantasse lá não vingaria, na mais popular das expressões.
O pai de Henrique Witeck (foto) – atual diretor do espaço –, Acido Witeck, ou doutor Witeck, era médico e teimoso. Nascido em Cachoeira do Sul, fixou residência em Novo Cabrais e contrariou o senso comum ao comprar as terras, em 1962. “Ele sabia que a missão dele era construir este local. Além de ser médico, tinha que criar este espaço”, conta Henrique.
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Doutor Witeck era clínico-geral, no tempo em que se fazia do parto até o socorro antes do último suspiro do paciente. Ao lado de dona Emília, ele teve seis filhos e deixou para o mundo um legado de amor e respeito à vida. Plantou boa parte das árvores, 2,7 mil espécies que têm raízes fincadas na terra ácida da época. Cultivou jardins e camélias, as preferidas da esposa, e inspirou Henrique a dar sequência ao seu projeto.
O parque é aberto à visitação. O passeio pode ser guiado, especialmente aos fins de semana, ou um simples piquenique em um dos vários jardins montados. “Traga uma cesta de vime, coisas gostosas e uma tolha xadrez e passe momentos felizes conosco”, convida o diretor do parque. Por conta da pandemia, é preciso ligar e contatar com a administração, para poder acessar o local. “Também é bom vir cedo, pois a caminhada por toda a trilha leva umas duas horas”, recomenda.
O trajeto pode levar até um dia inteiro. Na verdade, um dia até é pouco no Witeck. São tantas plantas e arranjos de natureza que a contemplação exige uma visita longa, ou pelo menos mais de uma. “Não pode existir limite quando o assunto é preservar”, justificou Henrique, que sempre que pode é um dos anfitriões de quem se aventura no Witeck.
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Os tons da natureza do mundo
O pai de Henrique viajou o mundo em busca das plantas e árvores, com características dos quatro cantos da terra. Na carona das mais de 2,7 mil espécies, 150 tipos de pássaros ajudam a compor a sinfonia das florestas do Witeck.
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O caminho de três quilômetros é inspirado na filosofia oriental, em curvas, entre os bosques e jardins. “Em linha reta o mal prevalece. No caminho em curvas, o mal perde força”, citou o administrador do parque. Nenhuma trilha corre em linha reta no local.
Alternam-se em meio a amoreiras gigantes, túneis de araucárias, jardins com plantas da Nova Zelândia, Alemanha, Japão e Suíça. Há também um típico jardim inglês e, como na letra de Nei Van Sória, é possível esperar o mundo girar ao contemplar a natureza.
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Na primavera, diferente do que se espera de um jardim convencional, a cor predominante no parque é o verde e seus tons. A espécie de árvore Acer, natural da Ásia, contribui para esta coloração. As variações da planta vão do verde musgo aos tons fluorescentes. No outono mudam de cor, preparando-se para inverno – ficam amarelas, laranjas e vermelhas.
Há flores que nascem agora, como a roseira que, no jardim inglês, dá flores nos 365 dias do ano. Ou como as bromélias e as vitórias-régias, que vão até o verão florescendo. “Aqui tem flor o ano todo. As cores vão mudando, de acordo com a estação”, acrescentou Henrique.
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Os lagos que espelham as estrelas do céu
Pelo menos três áreas – as mais degradadas na época em que a terra do Witeck era ardida – hoje são lagos. Os lagos da Paz, Mágico e Espelho do Céu têm, cada um, um tipo de vida e natureza diferente.
Seguindo pela trilha, o primeiro é o Espelho do Céu. Com nome também inspirado na filosofia oriental, o local reflete o amor à natureza. Nele estão plantadas árvores que vivem parte na água, parte na terra. Em uma das margens, elas exibem raízes em cima da terra. Como narizes, elas captam o ar e transportam para a planta, que está plena, refletindo sua beleza nas águas. Com sete metros de profundidade, o local não é aberto ao banho.
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O Lago da Paz é o berço da flor de Lótus. De tão especial ela abre uma vez por ano, geralmente perto do verão, e não dura muito mais que um dia. Sobre as águas da paz, as plantas aguardam a hora de exibir seu esplendor.
A última parada é no deque do Lago Mágico. O ponto é o mais fotografado no Witeck. Histórias de amor, de renascimento da vida ou de grandes encontros de alma são registradas nesta paisagem. “Ele é mágico, pois quando as árvores estão com folhas, no verão, quem grita às margens dele percebe que as ondas sonoras se transformam em pingos sobre a água. “Faz parte da magia deste local”, disse o diretor do parque. Sob a ótica de quem valoriza a vida, um fenômeno da física torna-se mágica.
Com tantas plantas, árvores e flores, os bosques do parque são também o habitat de criaturas da fantasia e do imaginário infantil. “Para quem acredita em duendes, fadas e gnomos, estamos no lugar certo. Se existe algum espaço capaz de preservar a essência da natureza, ele é o nosso parque”, acrescentou o filho do fundador.
HISTÓRIA DE AMOR
Henrique conta que as camélias que foram semeadas por vários jardins do parque eram as preferidas da mãe dele. O grande amor de Acido, a dona Emília. “Ele plantava camélias por todo o parque como forma de fazer a mãe caminhar por toda a área.”
Em 2 de agosto de 2004 o fundador do Witeck partiu da vida na Terra. Dezesseis anos e um dia depois, dona Emília foi atrás dele conferir se as camélias do céu já tinham florescido. “Quase que ela morreu no mesmo dia. A história de amor deles era muito bonita, eles sempre foram apaixonados.”
A história do casal tem também uma lenda, a lenda do amor. Conta Henrique, como quem declama um poema que fala muito sobre a vida do pai, da mãe e da história do parque. “Quando Deus criou o mundo, reservou pérolas para pessoas especiais. Esta pérola se transforma em vários tipos de sementes, que transformam-se em árvores”, conta.
Quando Acido faleceu, levou um punhado de terra. Já dona Emília teve as cinzas espalhadas por seis jardins do parque, para lembrar que o fruto do amor dos dois rendeu seis filhos e uma pequena mostra do Éden na Terra.
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Um bosque da vida
A pandemia interrompeu apenas um ritual no Witeck. Cenário escolhido para fazer as fotos de gestação de futuras mamães, toda grávida que lá posa para o registro pode plantar uma palmeira em homenagem à nova vida.
No Bosque da Vida, centenas de árvores povoam o espaço dedicado aos bebês. Ensaios fotográficos não estão proibidos, porém a pandemia não permite o plantio da árvore da vida. Os protocolos de segurança e distanciamento social da Covid-19 não autorizam a realização do ato. A promessa é que, quando tudo isso passar, o ritual seja retomado no parque.
Para visitar durante a pandemia
O Parque Witeck abre todos dias, porém visitar o espaço durante a pandemia é possível apenas mediante agendamentos pelo WhatsApp. O número é (51) 99880 7701. É preciso informar nome, cidade de origem e quantas pessoas acompanham a visita. Os valores de entrada são: R$ 10,00 para visitantes com idade acima de 10 anos e R$ 5,00 dos 4 aos 10 anos, para cada passeio. O horário de funcionamento é das 9 às 17 horas e o limite para acesso à tarde é 15 horas, pois estima-se que sejam necessárias duas horas para concluir a trilha de 3 quilômetros, que dá a volta completa pelos bosques do Witeck.
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