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FOTOS: os 30 anos de um acidente que marcou toda a região

Há três décadas, a queda da ponte do Rio Jacuí transformou a rotina dos rio-pardenses e gerou impactos em todo o Vale do Rio Pardo. Além das perdas financeiras impostas pela restrição de mobilidade, o acidente representou o fim do transporte hidroviário no Jacuí, principalmente para o escoamento da produção agrícola. Naquele ano de 1990, a população que dependia da ponte também precisou se adaptar a um “novo normal”, em certos aspectos semelhante ao que vivemos hoje.

Hoje, apenas barcos de porte menor passam sob a estrutura

O barco Alazão, que navegava no Rio Jacuí carregado com 2,8 mil toneladas de trigo, chocou-se contra dois pilares e provocou a queda de 150 metros da ponte da BR-471, no dia 23 de setembro de 1990, um domingo. Conforme a reportagem de Irineu Gapinski na Gazeta do Sul, o acidente aconteceu às 11h40. O graneleiro da empresa Navegação Minuano havia saído de Cachoeira do Sul em direção a Rio Grande. O concreto derrubado ficou sobre a proa da embarcação, que só não afundou por ter ficado 10 centímetros acima do nível da água.

Laudir Rosa, que trabalhava na barragem do Anel de Dom Marco na época, recorda que o barco contava com três motores e dois lemes hidráulicos. Mas o sistema sofreu uma avaria e um varão de aço se rompeu, deixando a embarcação sem controle. “É como se a barra de direção do carro quebrasse. Não há como controlar”, compara. Nenhum dos dez tripulantes sofreu ferimentos. O comandante era Roni Oliveira Mello. “O rio estava cheio. Havia chovido muito nos dias anteriores”, conta Laudir, que na ocasião estava na casa dos pais, em Cachoeira do Sul, para aproveitar o dia de folga. O irmão dele, Laudares Rosa, estava no barco. “Fomos imediatamente a Rio Pardo para ver como ele estava. Então presenciamos a situação”, relembra.

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O barco, segundo Laudir, ficou preso até a tarde de segunda-feira. Uma equipe do porto de Estrela foi deslocada para liberar a embarcação. “Boatos começaram a aparecer. Falaram que os tripulantes estavam bêbados. A Marinha fez uma sindicância e apontou que foi um acidente inevitável”, acrescenta. Mello e a equipe chegaram a colocar os motores na marcha a ré, mas não conseguiram impedir a colisão. Nenhum carro passava na ponte no momento do acidente, e a tripulação usou panos vermelhos para sinalizar aos motoristas que viriam na sequência.

Reinauguração ocorreu no final de 1992

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A queda da ponte foi precedida por um acidente fatal. Na noite anterior, o desenhista Carlos Alberto Pimentel Severino perdeu a vida ao colidir a Variant que conduzia com um Chevette que vinha no sentido contrário, exatamente sobre a ponte – que viria abaixo na manhã seguinte, atingida pelo barco.

Na edição de 25 de setembro de 1990 da Gazeta do Sul, há o relato de um pescador que presenciou o choque do graneleiro contra os pilares. Ele contou que recebeu, como cumprimento, o soar do apito do barco. Porém, instantes depois, 20 metros antes da ponte, percebeu que algo estava errado com o leme, já que o graneleiro estava atravessado no canal. “O concreto parecia um isopor. Foi um enorme estrondo, que levantou água.” Havia muita correnteza e vento forte naquele momento.

Após o acidente, pescadores da Praia dos Ingazeiros começaram a oferecer o serviço de travessia das pessoas, por 200 cruzeiros. Mais tarde, balsas foram colocadas à disposição para a travessia de veículos. O caminho de desvio mais curto era por Pederneiras, onde já havia uma balsa para o transporte.

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O prefeito Paulo César Begnis tratou de se reunir com o secretário estadual de Transportes, Valdir Walter. A reconstrução da ponte poderia durar até cinco anos. Mas o prazo foi menor. A estrutura de 201 metros foi recuperada pela Cejen Engenharia entre 4 de abril de 1991 e 30 de setembro de 1992. A reabertura da travessia, com um total de 647 metros de comprimento, aconteceu no dia 13 de novembro de 1992. Segundo Laudir, o transporte de cargas pela hidrovia foi encerrado após o acidente e passou a ser feito exclusivamente por via rodoviária.

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Avalanche de prejuízos

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Nos dois anos sem a ponte, os prejuízos econômicos se acumularam em Rio Pardo. Empresas fecharam e o escoamento da produção agrícola foi severamente prejudicado. Sócio-proprietário de um posto de combustíveis, Dagoberto Menezes sentiu os efeitos do desastre na redução das vendas. “A gente vendia entre 180 mil e 200 mil litros de combustíveis por mês. Caiu pela metade depois. Nós começamos a ter prejuízos, e acabei por me desfazer da minha parte na sociedade”, relata.

Segundo ele, a associação comercial e o poder público municipal uniram-separa cobrar agilidade do Estado e União. “No início, o grupo se mobilizou para fazer os acessos às balsas, nas duas margens. O pessoal de Pantano Grande ajudou também. Uma era só para automóveis e outra para veículos pesados”, comenta. “Com a queda no movimento, foi parecido com a pandemia de hoje.”

Menezes: crise parecida com a da pandemia

Ex-bancário e atual conselheiro do Centro de Cultura, Tarciel Limberger estava se despedindo de Rio Pardo para trabalhar em Estrela, transferido pelo Banco do Brasil. Ele lembra do período de dificuldades enfrentado pelo município. “Havia o transporte de calcário de Pantano Grande para empresas em Rio Pardo. A produção agrícola para o porto de Rio Grande. O comércio local foi fortemente afetado”, frisa. Segundo ele, faltou mobilização política para maior agilidade na restauração. “No Rio Taquari ocorreu algo semelhante. Em seis meses, já havia uma ponte provisória construída pelo Exército. Em Rio Pardo, demorou bastante tempo por questões burocráticas”, recorda.

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O presidente do Sindicato Rural, Luiz Henrique Miguel Lau, cita o transtorno para permanecer na fila da balsa. “Tenho propriedade no Passo do Adão e ficava entre quatro e seis horas esperando para atravessar. A outra saída era a barca entre Pederneiras e Iruí, mas era bem mais longe”, conta. “O transtorno foi enorme e o prejuízo incalculável para todos os setores econômicos.”

Limberger: comércio duramente afetado

População quer melhorias

A construção da ponte original começou em 1951, sob a responsabilidade do engenheiro Carlos Souza. A conclusão ocorreu em 24 de novembro de 1957, e a estrutura foi batizada de General Gomes Freire de Andrade. Atualmente, a população pede por melhorias na ponte, como iluminação para maior segurança à noite e uma passarela nas laterais para pedestres e ciclistas.

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