Aidir Parizzi Júnior*
Exclusivo para o Magazine
Lan Chang, nome que significa “terra de um milhão de elefantes”, reinou gloriosa em um longínquo passado. Seguiram-se longos períodos de dominação siamesa (Tailândia) e ocupação francesa. Desde 1955, é um país independente, que conhecemos como Laos. A monarquia durou 20 anos, até 1975, e desde então um regime comunista clássico e moderado, de partido único, governa os pouco mais de 6 milhões de habitantes.
Situada às margens do lendário Rio Mekong, Vientiane é uma cidade pequena e aprazível, e provavelmente a capital mais tranquila do mundo. Tem lugares muito interessantes e pode ser percorrida caminhando tranquilamente em uma tarde. Em frente à stupa dourada (Phat That Luang), um dos símbolos do país predominantemente budista, segui uma tradição local. Comprei um pequeno pássaro em uma gaiola, e o libertei diante do monumento budista. Um ritual importante para um povo que foi escravo na maior parte de sua história conhecida. Como em outros tantos exemplos do passado, um povo escravizado sempre ganha algo permanente que obviamente nunca é a intenção dos opressores: uma forte identidade.
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O fato que mais marcou, contudo, não foram os belos templos budistas nem o imponente Arco do Triunfo Patuxai, símbolo da independência da ocupação francesa, construído no belo estilo local. Gravei na memória algo que mais tarde também veria em outros países budistas, e principalmente no Nepal e no Sri Lanka: a felicidade silenciosa das pessoas que encontrei. Apesar de (ou talvez por causa disso) viverem de forma humilde e com um passado carregado de sofrimento, quase todos ali estampam um sorriso sereno, sempre muito prestativos, simpáticos e autênticos.
Recentemente, visitando uma caverna convertida em templo budista no interior do Sri Lanka, conversei com um monge e, entre outras coisas, perguntei qual seria o segredo desta serenidade e alegria. A resposta foi imediata e sem hesitação: o autoconhecimento.
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Como cristão, preciso reconhecer que temos muito a aprender com estes povos, confiantes sem serem arrogantes, autênticos no tratamento e nas relações, e, principalmente, por saberem viver muito bem com esta autenticidade.
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Com o tempo, e aprendendo com as outras culturas, vejo que ter a própria felicidade como objetivo perde completamente o sentido. Os motivos são vários. Sendo emoção transiente impulsionada pelo ego, sua busca nos força a correr sem parar, sem nos levar a lugar algum. Está ligada a uma busca exterior, ao invés de ser gerada internamente ou autoinduzida. Momentos de felicidade relacionados à satisfação pessoal se dissolvem rapidamente, gerando uma subsequente nova e ansiosa busca, em um ciclo incessante.
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Serenidade definiria melhor o que podemos buscar. Está mais ligada à realização emocional, e, para os que acreditam, espiritual. Uma sensação muito mais perene e que dispensa euforia. Significa aceitar as pessoas como são, aprender com tudo o que estiver ao alcance e frear a busca frenética por bens materiais e satisfação pessoal. Obviamente não é tarefa fácil. Envolve, com contemplação e reflexão, andarmos na contramão da pressão que o ambiente e nossa própria mente exercem. Altruísmo e autoconhecimento podem nos dar um mapa valioso neste árduo e necessário caminho.
*Aidir Parizzi Júnior – Natural de Santa Cruz do Sul, é engenheiro mecânico e reside no Reino Unido. É diretor global de suprimentos para uma multinacional britânica que atua no fornecimento de sistemas de controle e segurança para usinas de geração de energia, usinas nucleares e indústria de petróleo, gás natural e petroquímica.
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