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FOTOS: eletricista constrói veleiro no quintal de casa

Fruto do sonho de conhecer o mundo do casal Vanderlei Becker e Ieda de Camargo, moradores do interior de Santa Cruz, o Lelei – barco construído pelo próprio Vanderlei, em dias e horas de folga – está pronto para ganhar os sete mares. A embarcação que levou quatro anos e oito meses para ser construída está no ajuste final e os primeiros testes de navegabilidade serão em março.

Se o Lelei se der bem na água doce – e tudo indica que sim –, a partir do próximo ano começa a grande viagem do casal pela costa brasileira. O sonho do casal é viver a bordo e conhecer o mundo todo na embarcação, preparada até para navegar na água gelada dos polos.

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Há 15 anos, após uma viagem para o Nordeste, Vanderlei, que é eletricista, começou a nutrir um sonho pela navegação. Na época, o plano era voltar a Maceió e fazer uma jangada. Mais tarde, o projeto evoluiu para um barco, na verdade um veleiro, munido com tecnologia suficiente para enfrentar o alto-mar. Peça por peça, rebite por rebite, o sonho tomou corpo e em breve se transformará em realidade. “Eu queria construir o barco, por isso comprei o projeto e não as peças recortadas”, conta.

Nos fundos de casa, em Cerro Alegre Alto, ele ergueu um estaleiro com uma marcenaria. As peças foram usinadas na oficina de Becker e quase tudo o que está pronto no barco foi obra dele. “O estofado dos bancos será feito pelo estofador”, confessa, em meio ao riso. Becker diz que, além de eletricista, atua em qualquer frente e que a construção do barco, desde o casco até o arremate final, também foi uma espécie de desafio.

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O casal está se preparando para a vida a bordo. Embora seja uma embarcação para até 12 pessoas, com dois quartos, sala de jantar, banheiro com ducha quente e toda a área externa, não cabe muita coisa no Lelei. Ieda, que é professora aposentada, tem dó dos livros que vai ter que deixar para trás.

Viver sobre as águas também desafia um costume muito feminino: comprar roupas. Mas no barco, a lei do desapego é a máxima. Toda vez que entra uma coisa nova, outra, mais velha, tem que sair. “O armário para guardar as roupas tem duas prateleiras, a gente tem que se virar com isso”, conta Ieda. Na verdade, ela não precisa de muita roupa mesmo. A vida na água não requer tanta etiqueta social. O dress code a bordo do Lelei é sentir-se bem. “Preciso ter uma roupa melhor quando a gente chegar em alguma cidade, por exemplo, para fazer compras. Ou um casaco mais pesado, quando viermos para o Sul”, diz.

A vida de quem se aventura em um veleiro é simples. A experiência é o que mais ocupa espaço, assim como os equipamentos de segurança. Becker caprichou nos dispositivos eletrônicos: o veleiro é capaz de medir até a temperatura da água, a direção e força dos ventos e tem tudo para funcionar com autonomia. “A ideia é essa: não acumular nada, porque não cabe muita coisa no barco mesmo”, decreta.

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A epopeia das peças

Como Becker decidiu fazer o barco a próprio punho, conseguir as peças e equipamentos foi uma grande aventura. Um teste de marinheiro. Ele foi até a Bahia, onde uma embarcação agonizava por falta de manutenção. Recheado de peças e dispositivos úteis à navegação em alto-mar, ele foi buscar o barco e veio com ele até Porto Alegre, passando primeiro por Rio Grande. “O porto de Porto Alegre não tem ligação com o mar. Era preciso ingressar na Lagoa dos Patos e aí chegar à capital”, revela o capitão do Lelei.

A aventura de trazer as peças junto com o barco era para durar 15 dias, mas levou 40. Vários imprevistos ocorreram durante a travessia pela costa brasileira, situação que pós-graduou o marujo de primeira viagem. “Eu também tenho que fazer a carteira, para estar habilitada à condução do veleiro”, diz Ieda.

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Agora o veleiro está praticamente pronto. Apenas a fixação de painéis solares e últimos detalhes do casco estão sendo finalizados. A expectativa é fazer os testes no decorrer do mês de março. Eles vão navegar pelo Jacuí e testar o casco.

Em Porto Alegre, também será preso o mastro, com as velas, em uma estrutura de 13 metros. O Lelei terá condições de navegar com a força do vento, o que faz com que o uso dele não seja tão caro. Com a manutenção correta, a embarcação pode durar o tempo de até três gerações.

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