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INSEGURANÇA

FOTOS: a prostituição que provoca crimes e causa medo a moradores do Bairro Goiás

Foto: Albus Produtora

Profissionais do sexo ocupam parte das ruas e exibem os corpos para motoristas. Clientela fixa é o entrave para saírem das imediações

Virou rotina para Noeli*, 54 anos, moradora do Bairro Goiás, em Santa Cruz do Sul. Ela sai para trabalhar às 6h30 todas as manhãs, mas antes realiza um ritual. Levanta às 5h10 e vai ao pátio recolher todo o lixo – pinos de cocaína e principalmente os preservativos jogadas no terreno. Depois, solta seus cães, presos todas as noites na garagem. Os animais não são trancados sem motivo.

“Depois que vi minha cachorrinha comendo uma camisinha usada e tive que escovar a boca dela com creme dental, prefiro ter que levantar mais cedo e verificar antes de soltá-los.” Mas não é apenas por esse fato. “Eu morro de medo de darem veneno, porque vários cachorros do bairro que ficavam acoando na noite e na madrugada apareceram mortos no outro dia.” O nome da mulher é fictício, pois ela, assim como outros, teme represálias. Mas o drama vivenciado é real e atinge muitas pessoas.

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No início dessa semana, um grupo de residentes do Bairro Goiás chamou a Gazeta do Sul para denunciar os casos de prostituição a céu aberto, que atingiram níveis alarmantes. Na chegada da equipe ao local de encontro, a primeira surpresa: um sutiã vermelho estava jogado na frente de uma casa. Na reunião, todos os moradores foram unânimes em dizer: não aguentam mais. São frequentes os dias em que eles acordam e se deparam com garrafas de bebida, urina, fezes humanas, camisinhas e até pinos de cocaína usados em frente a suas casas ou estabelecimentos.

Não são raras as noites em que eles, ao irem com os filhos para casa, enxergam pessoas com pouca ou nada de roupa, ou fazendo sexo em um terreno baldio. A prostituição é legalizada no Brasil, mas para eles, passou do limite de apenas atuação de profissionais do sexo. Nos últimos meses, foram muitos os registros de crimes cometidos na região, como perturbação do sossego, desavenças, ameaças, lesões corporais, injúria e até movimentações intensas relacionada ao tráfico, com o consumo e a venda de drogas ilícitas.

Camisinhas e fezes estão pelas calçadas | Foto: Divulgação

Em junho, a reportagem policial da Gazeta do Sul detalhou casos semelhantes no Bairro Goiás. Dias depois, em 5 de julho, o assunto foi tema de uma reunião do Gabinete de Gestão Integrada Municipal (GGIM). Foram debatidas medidas para combater os transtornos aos moradores e comerciantes da região. Dentre as sugestões apontadas, uma era realizar uma espécie de acordo com as três cafetinas que dominam a oferta de prostituição naquela área.

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A sugestão seria que o grupo que atua se deslocasse para outra área, onde não causasse mais transtornos aos moradores. Contudo, não houve acordo. Os pontos estratégicos no Goiás foram mantidos pelos profissionais do sexo, que se negaram a sair do local, motivados pela intensa clientela. Segundo os moradores, a situação vem piorando nas últimas semanas e medidas urgentes precisam ser tomadas.

Foto: Albus Produtora

“O tráfico é intenso na rua”, revela um residente

Natural da Região Metropolitana de Porto Alegre, outro morador, de 50 anos, veio residir em Santa Cruz na pandemia. “Meu filho tinha 8 meses, pesquisei cidades boas, com qualidade de vida para morar, e achei aqui. Logo falaram do Goiás. Ouvi falar muito bem desse bairro e compramos um imóvel. Hoje, levo meu filho na escolinha aqui perto e não consigo explicar tudo que tem nas esquinas, de garrafas, vidro quebrado, camisinhas, fezes e sujeira”, disse ele.

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“À noite, quando volto da academia, vejo de tudo. Não estou mais seguro de deixar minha esposa e meu filho em casa. Estamos cogitando trocar de lugar”, salientou o morador, que desistiu de manter uma frente aberta em sua residência. “Isolei tudo, para não ter contato com a rua e não ver mais isso. Temos um pátio apenas para os fundos, porque não dá mais.”

Na sequência da fala do vizinho, outro homem, de 50 anos, contou que sua residência também é fechada, modificada a partir do movimento intenso da prostituição na rua. “Minha casa é uma fortaleza. Coloquei grade, ferro em tudo, fio-choque, arame. Estamos vivendo em prisões”, disse ele. “E não se trata apenas de prostituição. O tráfico é intenso na rua, correria, coisa pesada. Essa é a prostituição que põe medo na população, pois está atraindo um público envolvido no comércio de entorpecentes, no furto e no roubo.”

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Há duas semanas, a mulher de 54 anos, que há 30 está no Goiás, chegou em casa às 23 horas, depois de um curso, e se deparou com um travesti fazendo sexo com um cliente na frente do seu portão. “Entrei em pânico. Liguei de dentro do carro para o meu marido abrir a porta. Eles ficaram me cuidando e depois saíram.” A troca de roupas ocorre próximo da janela dela. “Eles chegam homens e se ‘montam’. Colocam peruca, salto alto e brilho.”

Morador grava movimentação de motos que chegam, deixam ilícitos e vão embora | Foto: Divulgação

Os xingamentos também são rotineiros. “Eu só ouço e não respondo. São homens, de cerca de 30 anos, musculosos. Jamais vou falar algo e arriscar ser agredida. Abaixo a cabeça de medo e entro para dentro.” À noite, já deitada para dormir, é obrigada a ouvir histórias pornográficas.

“Ficam relatando alto tudo o que fazem com os clientes, citando os nomes deles. Não tem como não escutar, mesmo com o volume da TV alto.” A avó, de 94 anos, já não a visita mais. “Ela tem saúde, está bem, mas na última vez que veio me pediu desculpas e disse que não viria mais, pois não é obrigada a ver esse tipo de coisa.”

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Para residentes, desvalorização imobiliária já é uma realidade

Um dos moradores de 50 anos que falou com a Gazeta do Sul criou os dois filhos no bairro, o mais velho de 27 anos e uma jovem de 22. “Meus filhos estão com raiva. Se eles querem fazer alguma festinha lá em casa, são abordados por esse público na frente, na hora de entrar. Quando vão sair, pelas 2 ou 3 horas da madrugada, eles vêm pra cima, perguntando se querem fazer programa. É ostensivo.” Segundo ele, a desvalorização imobiliária já é sentida pelos donos das residências.

“Anos atrás, qualquer casa que colocava para vender, era questão de 30 a 60 dias e estava negociada. Agora não vende mais”, afirmou. “Quem vai comprar uma casa na frente de um prostíbulo? Isso aqui tá virando uma mini-Farrapos”, disse uma empresária de 58 anos, fazendo referência à avenida de Porto Alegre que historicamente concentra grande parte dos estabelecimentos ligados à prostituição.

Segundo um morador de 48 anos, as brigas entre os travestis, que causam tensão entre os vizinhos nas madrugadas, acontecem quando um profissional do sexo invade a área de esquina de outro. Uma das vizinhas dele, mais idosa, está sofrendo por permanecer trancada em casa. “Ela ficou com depressão por causa disso. Gostava de sentar na frente de casa, olhar o movimento. Agora, quando chega 19h30, não pode sair, se chaveia e fica dentro. Tempos atrás, ia no supermercado que tem próximo a pé e voltava com a sacolinha. Agora é abordada no caminho.”

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As ruas Carlos Trein Filho, Sete de Setembro e Presidente Epitácio Pessoa são as que mais sofrem com a situação. Destas, os travestis vêm para o bairro. Um terreno baldio sem cerca ou grade, na esquina da Epitácio com a Carlos Trein, é utilizado como motel, segundo os moradores, onde ocorrem algumas das sessões de sexo explícito. Os filhos pequenos olham e questionam o que é e por que as pessoas estão fazendo isso na rua.

Os pais não têm como responder. “Era o melhor bairro de Santa Cruz. As coisas saíram do controle. Já passou longe do que é apenas prostituição”, disse um morador de 48 anos. Com medo das reações dos travestis e cansados da falta de ação efetiva na área, muitos não procuram mais a polícia para efetuar um boletim de ocorrência.

Vídeos mostram movimentação

A Gazeta do Sul acompanhou a movimentação intensa dos travestis ao longo da última semana. A maioria ocupa as esquinas, invade a pista e mostra partes íntimas para os motoristas. A reportagem também teve acesso a um farto material com vídeos e fotos feitos por um morador que mostra a movimentação na frente das residências, com chegada e saída de motocicletas nos pontos, e alguns dos travestis defecando e urinando na frente das casas.

Cena comum, dizem residentes: travestis urinando nos canteiros em frente às casas | Foto: Reprodução

“Dali eu vejo tudo que eles fazem, para provar que não é mentira o que estamos dizendo”, relatou o homem que produziu o conteúdo. A Brigada Militar tomou ciência da situação. No último dia 26, em entrevista ao programa Estúdio Interativo, da Rádio Gazeta, o coronel Giovani Paim Moresco detalhou as medidas legais que a instituição pode empregar. “Compreendo que as pessoas não queiram ver determinadas coisas na rua. Estamos realizando operações para coibir esse tipo de situação.”

Nos últimos dias, após reunião entre o comandante e pessoas do bairro na Câmara de Vereadores, os residentes notaram maior presença de viaturas, sobretudo nas ruas do Goiás em que os travestis concentram suas atividades. No entanto, a migração para outro ponto histórico foi imediata. “Eles só desceram uma rua. Estão ali na Assis Brasil. Passados alguns dias, como sempre acontece, vão retornar para cá”, disse um morador, sem esperança de que algo permanente seja feito.

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