Iniciamos esta reportagem com a seguinte pergunta: você tem o costume de revelar as fotos que fez de algum momento em família, com os amigos, ou de alguma paisagem de que gostou? As fotografias são importantes guardiãs da história, da vida de uma comunidade, das modificações do mundo e do progresso de uma cidade, como Santa Cruz do Sul. Ter em mãos esse material é uma forma de preservar o passado, discutir o presente e construir o futuro.
Desde a criação da cidade de Santa Cruz, em 1877, o progresso foi e continua como uma marca forte do Município. Nestes 145 anos, muitas coisas mudaram: ruas e prédios tomaram forma; outros desapareceram ou foram derrubados para dar lugar a nova era urbanística. Todo esse processo está registrado em fotografias que foram feitas pela família Kuhn, que contribuiu muito com a cidade, e preserva, até hoje, um pouco da história do povo santa-cruzense.
O acervo da família, atualmente, está sob os cuidados de Luiz Kuhn, 72 anos, que mora no centro da cidade. As mais de três mil fotografias foram feitas pelo avô, Guilherme Kuhn, e por seu pai, Hugo Kuhn. Os diferentes retratos guardam importantes registros, como o processo de construção da Catedral São João Batista e a evolução da Rua Marechal Floriano.
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Boa parte das fotografias antigas de Santa Cruz do Sul foram feitas pelo professor, jornalista, comerciante e fotógrafo Wilhelm Kuhn. O profissional foi responsável por registrar os principais eventos e a evolução da cidade na primeira metade do século passado.
De acordo com pesquisa do jornalista José Augusto Borowsky, publicada na Gazeta do Sul em 2012, a história da família Kuhn com o município inicia-se quando Guilherme migra da cidade onde nasceu, Briedel, na Alemanha, e se estabelece no Brasil, em 1895. Em Santa Cruz, ele foi professor em Linha Travessa, no meio rural, e passou a adotar o nome de Guilherme Kuhn, a tradução de seu nome alemão.
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Depois de nove anos, veio morar na cidade, onde trabalhou como tipógrafo. Em novembro de 1902, lançou o jornal Fortschritt (Progresso), patrocinado pelo Partido Republicano. Seu jornal encerrou as atividades em 1904. No ano seguinte, fundou o Santakruzer Anzeiger (Indicador Santa-Cruzense), que foi até 1908. Foi como jornalista que tomou gosto pela fotografia.
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Com sangue empreendedor, após o encerramento de seus antigos trabalhos, o jornalista fundou o Bazar Kuhn e foi o primeiro agente da Varig na cidade. Mesmo no comércio, nunca abandonou as fotografias. Ele começou a dedicar-se a registrar os acontecimentos sociais e culturais marcantes, a evolução e o progresso da cidade, em especial entre o período de 1905 a 1945.
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O reforço na captura de imagens ocorreu em 1940, quando seu filho Hugo Gregor Kuhn começou a auxiliá-lo, e este também deixou centenas de fotos nos arquivos. Guilherme faleceu em 1º de julho de 1957, aos 79 anos, e Hugo em 1989. Desde então, é a terceira geração da família que cuida do amplo acervo.
O filho de Hugo, Luiz Kuhn, 72 anos, preserva em um armário todas as imagens e suas respectivas histórias. As primeiras fotos feitas pelo seu avô estão gravadas em chapas de vidro. Com a compra de uma máquina modelo Kodak 3A, fabricada a partir de 1914, ele utilizava o equipamento que fazia fotos em material celulose.
Após o falecimento do avô Guilherme e do pai Hugo, todo o acervo fotográfico ficou nas mãos de Luiz Kuhn. Aos 72 anos de idade, ele preserva as fotos em um armário (que passa por reforma) e, em tempos de tecnologia, também está digitalizando as mais de 3 mil fotografias, como forma de tê-las no online.
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Kuhn destaca que sua família é a que mais possui os registros da época da colonização de Santa Cruz, da chegada dos imigrantes alemães e da evolução da cidade. Muitos fotógrafos daquele tempo faziam fotos de casamentos e festas, mas seu avô Guilherme gostava mais de paisagens. “Ele tinha um bazar, e naquele tempo não existia cartão-postal. Então, resolveu fazer fotos de pontos da cidade para vender. As primeiras eram feitas em chapa de vidro.”
Desde a primeira foto até os dias atuais, passaram-se 110 anos. Para Luiz, é por meio desses registros que se conhece o passado de Santa Cruz. “A foto da construção da Catedral é a que eu mais considero importante, pois é um ponto turístico conhecido no mundo”, ressalta.
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Luiz começou a atuar no mundo das fotografias como um hobby. Hoje, ele também trabalha com a instalação de telas em janelas de prédios e casas. “Aproveito a vista das estruturas grandes para fazer alguma foto”, conta.
Quem ajuda Luiz na conservação das fotos é seu filho Charles Kuhn, 42 anos. “Eu disse pra ele que, no futuro, todas as fotos vão ficar com ele. No momento, não penso em colocá-las em um museu ou outro local, pois não sei como as pessoas vão cuidar dessas fotos”, ressalta Luiz.
Sobre o avanço da tecnologia, quando qualquer pessoa pode fotografar utilizando um celular ou outro aparelho, Luiz reflete: “Hoje em dia, as pessoas tiram quantidade e não qualidade. Uma boa foto tem seu momento.”
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A Viação Aérea Rio-grandense (Varig), criada em 7 de maio de 1927, foi uma das principais empresas do setor no mundo. Em 1929, iniciou as linhas comerciais para algumas cidades do interior do Estado.
A empresa também manteve boa relação com Santa Cruz, já que o fundador, o alemão Otto Mayer, e outros membros da direção possuíam amigos e familiares na cidade. O santa-cruzense Harry Schuetz, que foi funcionário, vice-presidente e presidente, era irmão de Nelly Frantz, esposa de Francisco José Frantz, fundador da Gazeta do Sul, e de Wally Heller, esposa de Oscar Heller. O fato influenciou para que o município recebesse uma das primeiras linhas da Varig.
De acordo com a pesquisa do jornalista José Augusto Borowsky, no início, os voos eram com hidroaviões. Na região, o pouso e a decolagem ocorriam na atual Praia dos Ingazeiros, no Rio Jacuí, em Rio Pardo. Com a aquisição de aeronaves com trem de pouso, foi possível baixar e decolar em campos, o que permitiu a ampliação do serviço.
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No dia 16 de agosto de 1930, um avião da Varig sobrevoou Santa Cruz, soltando folhetos que anunciavam a instalação de um campo de pouso e decolagem na cidade, que ficaria onde hoje é a Metalúrgica Mor, no Distrito Industrial.
No folheto, recolhido pelo fotógrafo Guilherme Kuhn, constava que a empresa queria também um representante em Santa Cruz. Ele fez contato e foi nomeado como primeiro agente na cidade.
Kuhn, junto ao seu bazar, na Rua Júlio de Castilhos, vendia passagens, recebia e despachava mercadorias. Diariamente, telefonava para a Varig informando as condições do tempo, pois não havia voo por instrumentos. A primeira linha regular semanal entre Porto Alegre, Santa Cruz e Santa Maria começou no dia 23 de fevereiro de 1931, em uma aeronave modelo Junker F-13.
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