O Rio Grande do Sul é conhecido mundialmente pelos fósseis dos “tataravôs” dos mamíferos – os cinodontes. Esses animais viveram durante o Período Triássico (entre 251 e 201 milhões de anos atrás), à sombra dos primeiros dinossauros que habitaram o planeta.
O estudo dos fósseis desses animais é importante pois é neles que estão as primeiras aparições de características que hoje definem o que é um mamífero. Um estudo publicado no periódico científico Journal of Mammalian Evolution, descreve um novo espécime de cinodonte que viveu há cerca de 233 milhões de anos, durante o Período Triássico, onde atualmente é a região central do Estado do Rio Grande do Sul.
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O estudo foi desenvolvido por pesquisadores do Centro de Apoio à Pesquisa Paleontológica da Universidade Federal de Santa Maria (CAPPA/UFSM) e do Museu Argentino de Ciencias Naturales “Bernardino Rivadavia” (Buenos Aires). Trata-se de um novo e mais completo espécime de Prozostrodon brasiliensis, considerado um dos crânios de cinodontes melhor preservado do mundo para a idade (Carniano 237–227 milhões de anos atrás). O animal pertence ao grupo dos cinodontes derivados
(Prozostrodontia), linhagem que inclui os ancestrais dos mamíferos atuais, e representa a primeira radiação adaptativa do grupo.
A recente descoberta refere-se ao quarto espécime de Prozostrodon brasiliensis conhecido. O primeiro material fóssil (holótipo) da espécie foi coletado na década de 1980, na cidade de Santa Maria (RS), e é representado pela metade anterior do crânio, mandíbulas com dentição e partes do esqueleto pós-craniano. Originalmente, o material foi nomeado de Thrinaxodon brasiliensis, devido às semelhanças morfológicas com a espécie africana, Thrinaxodon liorhinus. Mais tarde, um novo estudo reavaliou o referido material fóssil e sugeriu que este pertencesse a um gênero diferente, passando, dessa forma, a ser chamado de Prozostrodon brasiliensis.
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Além do holótipo, outros espécimes de Prozostrodon brasiliensis são conhecidos atualmente. O segundo registro para a espécie, descrito em 2017, refere-se a uma mandíbula direita encontrada no município de São João do Polêsine (RS), enquanto o terceiro espécime, registrado em 2020, encontrado na mesma localidade fossilífera do holótipo, corresponde à parte anterior do crânio do animal e parte da mandíbula.
O novo registro do fóssil foi encontrado no município de São João do Polêsine (território do Geoparque Quarta Colônia Aspirante Unesco), durante a preparação mecânica laboratorial de um grande bloco rochoso, com aproximadamente uma tonelada, contendo o esqueleto quase completo do dinossauro predador Gnathovorax cabreirai e espécimes de rincossauros (réptil herbívoro).
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Inicialmente, era conhecida apenas a presença de materiais fósseis desses répteis dentro do bloco rochoso. Com o andamento da preparação mecânica, em meados de 2016, foi encontrado o segundo espécime conhecido de Prozostrodon brasiliensis, representado por uma mandíbula direita com dentes, conforme mencionado anteriormente. Mais tarde, para a grande surpresa da equipe, no ano de 2017, foi encontrado um novo material – o quarto espécime conhecido, um dos mais completos e, provavelmente, melhor preservado, representado pelo crânio e mandíbulas.
O espécime de Prozostrodon brasiliensis em questão é excepcionalmente bem preservado, apresentando a região posterior do crânio preservada, até então desconhecida para os outros materiais. Esse novo achado fornece informações anatômicas adicionais importantes para a espécie, além disso, possibilita uma maior compreensão, por parte dos pesquisadores, a respeito das principais transformações anatômicas cranianas ocorridas nesses animais, antes do desenvolvimento das características mamalianas presentes nas formas modernas.
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Segundo os pesquisadores, esse pequeno cinodonte se caracteriza por uma média corporal pequena (pesando um pouco mais de um quilo e com aproximadamente 40 centímetros de comprimento, quando adulto) e provavelmente, devido à sua dentição, teria uma dieta alimentar predominantemente carnívora/insetívora, alimentando-se de insetos e de animais menores. Possivelmente, Prozostrodon brasiliensis apresentava hábitos noturnos, sendo presa de predadores maiores, como dinossauros, tal qual o encontrado ao lado, no bloco rochoso.
O trabalho de pesquisa faz parte da tese de doutorado da paleontóloga Micheli Stefanello, doutora pelo Programa de Pós-Graduação em Biodiversidade Animal da UFSM, sob orientação do Prof. Dr. Leonardo Kerber e contribuição técnica dos paleontólogos Agustín G. Martinelli, Rodrigo T. Müller e Sérgio Dias-da-Silva.
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