A menos de 80 quilômetros de Santa Cruz do Sul, está localizado um município que mais parece um cenário montado para a gravação de um filme de época. Trata-se de Forquetinha, próxima a Lajeado, no Vale do Taquari. Com 22 anos de criação e apenas 2,4 mil habitantes, a cidade tem boa parte de suas construções inspiradas na técnica enxaimel, trazida pelos colonizadores germânicos que chegaram àquele vale a partir de 1870, vindos, em maioria, da região de Hunsrück, no sudoeste da atual Alemanha.
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Muito do que Forquetinha conquistou, seja na emancipação ou na valorização da cultura e dos costumes dos colonizadores, está diretamente relacionado aos esforços de Waldemar Richter. Além de ter sido o responsável, enquanto vereador de Lajeado, pelo projeto de criação do Distrito de Forquetinha, em 1983, teve forte atuação na luta pela emancipação a partir de Lajeado, em 1996; e foi também o primeiro prefeito do novo município, em 2001. Hoje, afastado da vida política, dedica-se a pesquisa e publicação de livros sobre a imigração germânica e genealogia.
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Licenciado em Estudos Sociais pela Fundação Alto Taquari de Ensino Superior (Fates), precursora da Univates, e em História pela Universidade de Caxias do Sul (UCS), Waldemar Laurido Richter é um entusiasta da língua e da cultura alemã. Morou por duas vezes na Alemanha e estudou no Goethe-Institut. Na vida pública, foi vereador de Lajeado por cinco mandatos, entre 1977 e 2000. Ao longo desses 23 anos, destacou-se com iniciativas de preservação da história e da memória, como a criação do Deutscher Kolonie Park, ou Parque Histórico da Imigração, criado em 1997, quando Richter foi secretário municipal da Cultura.
Descendente de uma família de imigrantes, Richter sempre manteve interesse pela temática, mas foi no início da década de 1980 que sua atuação na pesquisa se intensificou. Por intermédio do empresário Lauro Mathias Müller, da Rádio Independente, Richter começou a percorrer as comunidades do interior dos diversos municípios do Vale do Taquari, com o objetivo de auxiliar na criação de festas e no resgate da história delas. Em 1991, por ocasião do centenário de Lajeado, ele foi novamente convidado para organizar a comemoração.
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“Eu sugeri um desfile histórico e cultural, com a participação de todas as localidades, cada uma contando a sua história em alegorias. Achavam que não ia dar certo e me pediram para reconsiderar três vezes, mas por fim o desfile saiu”, frisa. Considerando que a população de Lajeado na época era de pouco mais de 60 mil pessoas, a apresentação reuniu quase a metade delas e ficou marcada como um dos maiores eventos já realizados na cidade.
Enquanto vereador, foi proponente do projeto-piloto para implantação do ensino da língua alemã nas escolas municipais e estaduais. Foi também fundador e primeiro presidente do Centro de Cultura Alemã de Lajeado e ainda da Associação Nacional de Pesquisadores da História das Comunidades Teuto-Brasileiras, da qual foi coordenador dos três primeiros seminários, no fim da década de 1990.
Apesar de ter sido emancipada de Lajeado em 1996, Forquetinha só conquistou a independência administrativa em 1º de janeiro de 2001, com Waldemar Richter sendo eleito o primeiro prefeito, acompanhado de nove vereadores. No mesmo ano, o Plano Diretor do recém-criado município foi estabelecido e serviu como base para o desenvolvimento que se percebe atualmente, mais de 20 anos depois. “Todas as 50 ruas foram demarcadas e denominadas com os nomes dos primeiros colonizadores”, explica.
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No primeiro ano, três áreas foram adquiridas pela Prefeitura: um terreno no Centro, onde seriam erguidos os prédios do poder público; outro onde seria instalado o Distrito Industrial; e um terceiro, de 14 hectares, onde foi criado o parque de exposições Christoph Bauer. “Foi tudo planejado desde o primeiro dia e, como consegui ser prefeito por três mandatos, foi possível concluir quase tudo”, observa. Algumas casas chegaram a ser transferidas de localidades no interior, onde foram originalmente erguidas pelos imigrantes, para a sede.
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“A técnica enxaimel permite isso. Todas as madeiras eram numeradas em algarismos romanos. Então, foi só uma questão de desmontar e montar novamente em outro lugar.” Já os prédios maiores, com mais de um piso, foram inspirados na arquitetura germânica preservada nas localidades europeias de onde saíram os imigrantes. Assim, todas as estruturas públicas colaboram para essa recuperação da memória pensada por Richter.
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Entre elas estão a própria Prefeitura, unidades de saúde, escolas, creche, biblioteca, salão e até mesmo o parque de máquinas da Secretaria de Obras. Ao passar por Forquetinha durante um deslocamento, um desavisado pode pensar mesmo que se trata de uma cidade cenográfica criada especialmente para alguma produção televisiva, tudo isso a menos de 20 quilômetros do centro de Lajeado. Toda essa beleza é aprimorada pela presença de inúmeros exemplares de ciprestes em frente às casas e nos espaços públicos.
A partir de Santa Cruz do Sul, Forquetinha fica a apenas 76 quilômetros de distância. O trajeto mais rápido é pela RSC-287, até Venâncio Aires, onde o motorista deve ingressar na RSC-453 e seguir até Lajeado. Do Centro até o acesso a Forquetinha, são dez quilômetros; e, a partir do pórtico da entrada do município, mais nove até a sede.
Em condições normais, o deslocamento exige cerca de uma hora e 20 minutos, mas esse tempo pode variar muito em função das obras de manutenção da RSC-453 e da duplicação da BR-386, além do trânsito em alguns dias e horários específicos. Já em relação aos pedágios, o custo para carros de passeio é de R$ 4,10 na RSC-287, em Venâncio Aires, e de R$ 6,30 na RSC-453, em Cruzeiro do Sul.
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Depois que se aposentou da vida pública, em 2017, Waldemar Richter passou a dedicar a maior parte de seu tempo à pesquisa da história e da genealogia das 50 famílias que batizaram as ruas de Forquetinha. Quando encaminhou o projeto à Câmara de Vereadores precisou fazer uma breve biografia de cada uma delas e, diante do material coletado, surgiu a ideia de publicar livros compilando tudo o que havia encontrado. “Eu queria publicar volumes pequenos, mas só a parte dos Bauer deu mais de 500 páginas”, relata.
O conteúdo das publicações envolve o histórico de cada família, de onde saíram, o que faziam, como vieram, quando chegaram, como foi a adaptação no Vale do Taquari, quais profissões exerciam, entre muitas outras abordagens. “Eu faço os registros de até quatro gerações, tanto do esposo como da cônjuge, e isso deu muito trabalho”, afirma. Dos descendentes que consegue encontrar, o autor destaca também onde residem, tudo para facilitar a localização entre os parentes e outros possíveis interessados.
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“O meu grande propósito é que as famílias de hoje consigam descobrir as suas origens.” Richter reforça que não são livros focados na estruturalidade da genealogia, que apontam somente os nomes e locais de origem e de destino dos integrantes. Suas obras buscam contextualizar quais foram os motivos que levaram essas pessoas a deixar a Europa e rumar ao Brasil, e muitos outros pontos importantes que facilitam a compreensão e a busca dos leitores por eventuais familiares desconhecidos.
Tudo isso será custeado com recursos próprios e sem pretensão de obter retorno financeiro. Além da obra sobre a própria família Richter, lançada em 1998, a série Nie Gedacht (Nunca Pensei) já contemplou as famílias Kremer, Pilger, Bauer e Strassburger, enquanto as outras 46 seguem em produção. Ao final, a expectativa é de ultrapassar as 14 mil páginas.
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