Por Daniela Neu
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Este não é um texto contra os homens. Mas em favor das mulheres e para as mulheres. Sororidade é um termo bastante usado há algum tempo, e talvez por isso mesmo um pouco vulgarizado. O principal, no entanto, reside em observar se a sororidade, ou a solidariedade e a empatia entre meninas e mulheres, é praticada no nosso dia a dia.
Depois de uma década e alguns meses instalada na Capital, vim morar em Santa Cruz do Sul e cá estou há pouco mais de um ano. Quando se muda de cidade, é preciso construir novas rotinas, trajetos e relações profissionais e sociais. Foi esse processo que me fez pensar a respeito das correntes que vamos formando e cujos elos são essenciais para que as nossas vidas sigam seu curso com alguma eficiência.
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Quantas mulheres fazem parte do seu dia a dia? A mãe, a sogra, a dentista, a faxineira, a manicure, a esteticista, a massoterapeuta, a costureira, a instrutora de pilates, a atendente da loja, as colegas de trabalho à esquerda e as colegas de trabalho à direita, a amiga, a cozinheira cujo rosto em geral desconhecemos – e tantas outras. Todas elas fazem parte da minha rotina e me enchem de orgulho, admiração e gratidão todos os dias. E todas somos tão diferentes entre nós: áreas profissionais, preferências culturais ou de estilo, orientação sexual, desejos, biotipos, personalidades, lutas diárias, conquistas.
Juntas, nós, mulheres, formamos correntes que nos fortalecem – não para sermos melhores que os homens, mas para que tenhamos reconhecido o direito aos mesmos espaços. Por que, então, volta e meia diminuímos umas as outras? Por que, afinal, é tão difícil reconhecer as qualidades alheias?
A competitividade é saudável, sem dúvida, mas quantas vezes você já fez comentários que procurassem diminuir aquela colega que foi promovida e que nada tinham a ver com a competência dela? Ou sobre a ex-namorada do seu namorado ou da sua namorada? Ou sobre a atual namorada do seu ou da sua ex?
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“Ela só chegou lá porque se insinuou para o chefe”. “Ela era maluca” – defina “maluca”, por favor. “Se pelo menos ele tivesse me trocado por uma mulher melhor do que eu”. “Eu sou muito melhor do que ela”. Por que a dificuldade em reconhecer que ela merece estar lá, mesmo que você também merecesse, e que ela ser uma mulher maravilhosa não diminui o que você é?
E quantas vezes um homem incentivou a sua competitividade com outra mulher? “Ela era louca”. “Você é muito melhor do que ela”. “Você é diferente das outras”. Esta última frase, aliás, é parte de uma canção que me foi apresentada por uma das tantas mulheres incríveis que fazem parte da minha vida, e que trabalha ao meu lado: Most girls, de Hailee Steinfeld. Ouça e preste atenção à letra.
Disputarmos entre nós quem é a melhor para “merecer” ser o amor de alguém ou para alcançar determinado cargo pressupõe o entendimento de que somos inferiores por natureza e que precisamos que uma de nós seja diminuída para chegarmos lá. Além disso, chegaremos sozinhas, uma de cada vez, quando poderíamos chegar mais fortes juntas.
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E o homem que alimenta essa disputa o faz de uma posição confortavelmente soberana e inatingível: enquanto digladiamos entre nós, a posição dele não estará ameaçada.
É disso que se trata.
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