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Felipe Kroth

Fora de pauta: é preciso um amigo

É um cara brincalhão. Divertido, solidário. Honesto, até onde se sabe. De um carisma absurdo. Sempre o vi tratar a todos igualmente, com exceção de um grupo: mulheres. O cara super gente boa, às vezes se tornava um boçal, um chato, pra dizer o mínimo, nos arredores de uma mulher, especialmente se ela o atraísse, indiferentemente de o interesse ser ou não mútuo.

Entre as meninas mais próximas, as piadinhas já eram hábito e algumas, quando o timing era bom (e esse é, quase com certeza, o fator-chave do humor), eram realmente muito engraçadas. Mas, clara e justificadamente, havia quem se incomodasse.

Eu me incomodava, às vezes. Afinal, é meu amigo. Então, certo dia, chamei-o para uma conversa. Sem crítica, sem julgamento, expliquei que achava erradas algumas atitudes e que, por saber que ele não fazia com deliberada má intenção e podia acabar severamente prejudicado, achei justo dar esse “toque”. Ele aceitou muito bem o comentário e eu percebi que realmente mudou. Por algum tempo depois, às vezes, enquanto uma mulher interessante se afastava, ele se aproximava de mim e dizia baixo: “lembrei da tua dica”.

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Não interessa quem foi, quando foi, nem se foi bem assim, mas conto isso para dizer que, às vezes, é preciso um amigo para promover certas mudanças. Os desafetos podem apontar um defeito, a Justiça pode discuti-lo, uma comunidade inteira pode reconhecê-lo e o culpado ainda se sentir, apenas, um perseguido.

Ser gregário é da essência do ser humano. Enquanto nossas personalidades estão em formação, nos tornamos atletas, artistas, nerds e até maus, racistas, homofóbicos, para tentar encontrar aceitação em algum grupo. O ambiente escolar é onde essas questões são mais facilmente observadas, mas algumas escolhas nesse contexto são levadas para a vida. O que importa é dizer que, por ser gregário, enquanto o ser humano encontrar aplauso, mesmo que seja de uma única outra pessoa, ele pode seguir mesmo com os hábitos mais lamentáveis. Então, é preciso um amigo. Alguém de confiança, que se importe com e cuja opinião importe para aquele que precisa mudar.

A amizade acomoda discordâncias, algumas até a tornam mais interessante, mas quando o problema está no nível do caráter, é preciso considerar: estando eu tão próximo de alguém que comete tais absurdos, talvez, no mínimo, eu esteja transmitindo uma imagem de conivência. Um amigo de verdade deve merecer que assumamos essa corresponsabilidade.

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