Há cerca de dois meses, fiz um investimento em qualidade de vida que considero da maior importância, apesar da relativa simplicidade: comprei um chuveiro. Não que antes eu não tivesse um, mas era um de baixíssima qualidade, que até servia bem nos dias quentes, no entanto se tornava fonte de estresse quando as temperaturas caíam. Além disso, as duchas eletrônicas, como a que adquiri, permitem economia de energia e água, o que é sempre interessante.
Minha insegurança para fazer instalações elétricas adiou um pouco a estreia do novo equipamento – e tive que pagar pela instalação mais de um terço do valor do produto. Acabei usando por pouco mais de um mês até que o chuveiro estragou, na última semana. O problema não era a resistência. Venci o receio e desinstalei, eu mesmo, a ducha – a alternativa era pagar a desinstalação e a posterior reinstalação, um custo similar ao do próprio chuveiro –, que levei, acompanhada da nota – que eu havia guardado – até a loja em que fiz a compra.
Neste ponto, deparei-me com o que acho uma norma sem muito sentido na legislação brasileira: a garantia não é responsabilidade de quem vende. A loja me informou que eu mesmo devia procurar uma assistência técnica autorizada, para que eles avaliassem o produto. Me indicaram, então, qual empresa faria isso. Me indicaram a errada. Atravessei a cidade à toa, com a gasolina a R$ 6,00 o litro, até uma empresa que não trabalha com chuveiros. Enfim, cheguei ao estabelecimento correto, mas o conserto levaria alguns dias. Mais uma vez, tive que encarar a insegurança com eletricidade para instalar a velha e gasta ducha que não esquenta e tomar banhos quase frios até resolver a situação.
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Tenho certeza de que esse relato em nada interessa ao leitor, mas o faço para chegar a um ponto: várias vezes, já me peguei com a constatação em mente de que um banho é um dos poucos prazeres a que um ser humano adulto tem acesso no seu dia a dia. Por isso, embora eu seja favorável a qualquer ação de preservação de recursos naturais, sempre fui contra as campanhas que colocam o banho diário como vilão do fim da água potável no mundo – enquanto interesses econômicos matam rios e nascentes todos os dias.
Hoje, com meu chuveiro estragado e enquanto aguardo a efetivação da garantia a que tenho direito, o banho volta a ser mais uma obrigação no meu dia a dia. O ser humano adulto, em média, deve levar a vida mais miserável entre todos os seres vivos deste planeta – sendo exceções os animais explorados pelo próprio ser humano. O homem é o único bicho que ocupa grande parte de seu tempo em busca de pedaços de papel com valores simbólicos, é o único que precisa comprar coisas com esses pedaços de papel e precisa guardar outros pedaços de papel, a fim de pedir a garantia dos produtos que dão defeito, e é o único que consome gasolina e energia elétrica e é capaz de saber que essas coisas custam mais pedaços de papel com valores simbólicos do que deveriam. Uma voz na minha cabeça diz: “também é o único que toma banhos quentes”. Mas há dias em que a gente simplesmente não quer saber do lado bom das coisas.
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