De ontem para hoje sou outro. Aliás, nem precisa de tanto. Da frase passada para esta já houve mudança. O que quero dizer é que estamos de forma inerente nas mãos do tempo. Não há escolha, nem choro. Não há lamúria ou esperneio que consiga segurar este compasso contínuo e até cruel. Não há dúvida, portanto, de que a transformação seja constante, assim como o aprendizado. Neste contexto, as dores são inevitáveis, mas os afetos surgem como um sopro de leveza.
Se a passagem do tempo é infalível, ao menos podemos tentar escolher como vamos conduzir nossas decisões. Muitas vezes isso é impossível, verdade. A sensação, em alguns dias, é de que a vida nos carrega como uma locomotiva sem freios, não é? Muitas vezes tentamos controlar nossos destinos, mas esbarramos em muros que parecem intransponíveis. No entanto, existem ocasiões em que conseguimos traçar um caminho e seguir por ele. E mesmo que a parada seja a única opção, ainda podemos escolher como encarar a adversidade. E é aí que quero chegar com essa reflexão.
A pandemia nos tirou da zona de conforto. Não que antes a vida fosse simples, fácil, tranquila. Longe disso. A questão é que a Covid-19 nos tirou do eixo, abalou as estruturas e, como consequência, as prioridades. Foi e continua sendo um tremendo desastre. Só no Brasil, conforme a última atualização do Ministério da Saúde, 190.488 mortos. Quase 7,5 milhões de infectados. Felizmente, quase 6,5 milhões de pessoas se recuperaram. No Mundo, os óbitos superam 1,7 milhão. São 79,5 milhões de casos e 44,8 milhões de recuperados. Não são dados, números. São vidas perdidas, famílias abaladas, economias em ruínas. E onde isso vai terminar? Impossível precisar. Entretanto, as vacinas desenvolvidas e as campanhas de imunização que iniciam surgem como esperança.
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Porém, este não é um texto sobre a pandemia, mas sobre o que vamos fazer a partir de agora. Como vamos conduzir a vida após esse divisor de águas. Proponho, nesse sentido, a reflexão sobre o conceito de ALTERIDADE, pouco usado no nosso vocabulário, menos ainda praticado. Alteridade significa colocar-se no lugar do outro, entender a dor e a angústia do outro, reconhecer e respeitar as diferenças, mesmo que sejam estranhas ao nosso lugar de fala. Mesmo que não se enquadrem na nossa verdade. Alteridade combina com humanidade. Humanidade se encaixa perfeitamente com unidade. E precisamos de união para enfrentar todo esse sofrimento.
Quem sabe seja hora de olharmos para dentro. De percebermos a beleza nos detalhes. De ouvirmos o silêncio. De enxergarmos o invisível. De enfrentarmos nossos monstros. De espalharmos gentileza e não ranço. De ouvirmos com atenção e só depois falarmos. Quem sabe seja tempo de percebermos nossos erros, a nossa intolerância, antes de apontarmos para o outro. Quem sabe seja o momento certo para firmarmos um pacto pela coletividade, amparados pelo bom senso e pela ciência. Sonhador para um jornalista? Até pode ser, afinal, preciso continuar acreditando que ainda temos jeito e que tudo isso vai passar.
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