Não sou um homem que se emociona facilmente. No entanto, nos últimos dias, duas histórias que contei aqui nas páginas da Gazeta do Sul despertaram em mim esse sentimento, não incomum ao jornalismo. A primeira delas foi a do vera-cruzense Kelver da Silva, de apenas 27 anos e que passou 101 dias internado na UTI do Hospital Santa Cruz por complicações causadas pela Covid-19. Quando já estava no leito clínico, recebeu a mim e ao fotógrafo Alencar da Rosa para contar tudo o que viveu nesse período.
Passado quase um ano e meio desde o início da pandemia e em um momento em que a morte já nos parece tão normal e corriqueira, a trajetória de Kelver nos remete ao oposto: à vida. Mesmo com todas as sequelas deixadas pela doença, que ainda o impedem de respirar normalmente, dificultam a fala e limitam os movimentos, sua vontade de viver e sua determinação para recuperar a saúde são, certamente, uma inspiração para todas as pessoas que o conheceram recentemente. Kelver é um legítimo sobrevivente dessa tragédia que já há tanto tempo nos assola e agora, finalmente, parece dar sinais de arrefecimento.
A segunda história foi publicada nessa quinta-feira e também é sobre a vida, e nesse caso, uma nova vida. A santa-cruzense Débora dos Santos, então com 34 semanas de gestação, foi internada por complicações da Covid-19 e a equipe médica teve de realizar uma cesariana de emergência. Durante as mais de três semanas em que permaneceu na UTI, Débora não pôde conhecer o pequeno Pedro Henrique, seu primeiro filho. É possível imaginar o que passou essa mulher, que além de não poder ver o filho recém-nascido ainda tinha de lutar pela própria vida?
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Passados alguns dias da alta hospitalar, a família me recebeu em sua casa para contar essa trajetória de garra e superação. E eu, mais uma vez, fui tomado pela emoção contida nos fatos relatados por eles ao longo da entrevista, e pela vontade que todos demonstraram de viver intensamente daqui para frente, aproveitando cada minuto que a vida puder proporcionar. Histórias como essas e como tantas outras que já presenciei exercendo a reportagem me enriquecem enquanto profissional e me engrandecem enquanto pessoa, pois o jornalismo, como dizem, é a arte de contar histórias.
Nem sempre o jornalista consegue, com palavras e de forma objetiva, transmitir ao leitor todos os sentimentos e sensações que experimenta durante o trabalho, mas eles certamente estão lá, e é isso que o torna tão apaixonante. Em tempos onde a profissão é tão criticada e desvalorizada – mesmo por quem deveria defendê-la –, ela se mostra cada vez mais importante. Se não fosse o jornalismo, quem contaria histórias como as que mencionei acima?
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