Dois homens pré-históricos fofocam.
– A vida anda difícil, hein?
– Ô… Cada vez mais.
– Pois é. A comunidade só cresce e a comida nos arredores tá começando a ficar escassa.
– Sim, a comunidade tá grande demais e muito bem instalada para mudar de lugar. Então, nós, caçadores, temos que ir cada vez mais longe em busca do que comer.
– Chegamos cansados e fracos às boas caças.
– O risco aumenta.
– E ainda temos de carregar a comida para os demais por longas viagens!
– É um saco.
– Precisávamos de mais braços, mais caçadores.
– Sim, mas isso também representa mais gente para comer…
– É um paradoxo…
– Pois é.
– E se as mulheres ajudassem a caçar?
– Mas quem cuidaria da comunidade? E das crianças?
– E se tivéssemos menos crianças?
– Nós vamos envelhecer ou morrer, quem vai nos suceder?
– É… Você tem razão.
– Mas as crianças estão cada vez mais difíceis!
– Nem fale! Não respeitam mais os pais como respeitávamos no nosso tempo!
– Ah, é. Para nós não tinha choro.
– São as mulheres… Estão mimando as crianças.
– Só pode ser. Ou é a vida de hoje, que é muito mais fácil para todo mundo, com a comunidade e tudo mais.
– É. Mas para nós anda difícil…
– Lembra quando éramos nômades? Andar por aí, caçar o que aparecesse, coletar uns frutos pelo caminho, se abrigar em cavernas, aquela tensão de ser devorado durante o sono…
– Ah, sim! Aquilo é que era vida.
– E essa história de agricultura?
– Parece promissora, mas vai lenta. E eu quero comer carne, e carne não se planta.
– É… Você tem razão.
– E aquele cara que parou de caçar?
– Ah, aquele maluco? Chato pra caramba.
– Sim, agora só fala em um tal de… Como é que é, mesmo?
– “Veículo”… Acho que é assim que ele chama.
– Bah, insuportável, só quer se aparecer: tá querendo inventar a roda.
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