O ser humano é complexo. Durante uma pandemia, talvez sobre algum tempo para refletir sobre o que estamos vivendo e chegar, quem sabe, nesta conclusão. Não que esse pensamento já não tivesse me ocorrido antes, mas ele ganha força agora. Fazendo uma busca rápida na internet sobre a nossa espécie, algumas características são evidenciadas. Temos um cérebro altamente desenvolvido, o que nos proporciona habilidades como as de raciocínio e comunicação. Também somos definidos como seres sociais por natureza, criando estruturas de grupos, como a família, até organizações muito mais amplas. Inovamos com as artes, a filosofia, as ciências, as religiões, etc.
Pensar em todas essas questões traz um sentimento de orgulho, inclusive, de quanto somos capazes enquanto sociedade. Agora, se analisarmos essas características no atual contexto, em que um vírus vem provocando uma série de mudanças no nosso cotidiano – além de milhares de mortes diariamente –, já percebemos o quanto somos vulneráveis quando saímos de uma determinada “zona de conforto”. O quão difícil tem sido para nós, seres sociais, termos as atividades mais banais modificadas por medidas de distanciamento? Dou meu exemplo. Há dois meses, não posso mais ter um almoço de domingo com toda a família reunida, não tem mais chimarrão em roda e nem cervejinha no bar com amigos. Essas interrupções em questões tão enraizadas na nossa rotina causam desconforto, ansiedade, trazem irritação, e por aí vai.
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Essa insegurança toda que paira no ar também parece ser um desafio. Saúde e economia vêm sofrendo no mundo todo. Não sabemos se vamos adoecer, se alguém próximo poderá ter contato com esse vírus que nos assombra, se o emprego será mantido ou por quanto tempo estaremos sem trabalho. Pior ainda, no caso das famílias que não sabem nem quando terão a próxima refeição – e aí, abro um parênteses para dizer que a desigualdade social é uma realidade muito triste e que está presente sempre, mas fica ainda pior diante de todos os fatos que estamos vivendo. Essa sequência de incertezas – que não temos controle absoluto em momento algum – no mínimo pode nos tirar o sono.
Penso que não sou a única que enfrento dias em que me sinto mais impaciente, mais apreensiva e até mais desesperançosa. Somado a tudo isso, nossas interações andam mais conflitantes, por vezes. É claro que é saudável que haja diversas opiniões sobre os mais diferentes assuntos. O que me incomoda é ver que ideias divergentes vêm sendo motivos de discussões, brigas políticas e desafetos com muita frequência. Às vezes, dá até a impressão de que perdemos a capacidade de conviver com o oposto, tamanha a agressividade que aparece em certos debates.
Precisamos buscar uma qualidade também inata ao Homo sapiens para convivermos neste cenário. A de adaptar-se. Em meio a tantos desafios, podemos respirar fundo, adequar certos hábitos ao momento e seguir firmes na crença de que tudo vai melhorar. Que possamos acolher nossos sentimentos e entender que teremos alguns dias mais difíceis pela frente. Mas, ao mesmo tempo, buscando forças naquilo que pode fazer bem. Seja uma boa música, um filme, um livro, um momento de meditação, uma oração, uma sessão de terapia, uma palavra carinhosa a quem amamos ou a forma mais humana possível que possa trazer algum conforto a estes dias.
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