Via de regra, herdamos a paixão por um time dos nossos pais – o que torna o futebol ainda mais apaixonante. No futebol, pais reacionários e filhos revolucionários encontram um ponto de convergência. O futebol harmoniza os lares, amplia os laços entre o genitor e a prole e proporciona, entre estes, momentos de pleno convívio, seja no estádio ou diante da televisão.
As exceções ocorrem nos casos em que o filho é tão birrento, mas tão birrento, que escolhe outras cores só para aborrecer o pai. Ou quando um ou outro não gosta de futebol – por incrível que pareça.
O saudoso professor Luiz Carlos Düren não gostava de futebol. Achava uma tolice perder tempo assistindo a um bando de sujeitos correndo atrás de uma bola, enquanto o mundo desabava ao redor – havia a inflação, havia denúncias de corrupção aparecendo na esteira da abertura democrática, havia uma nova ordem mundial surgindo com o fim da guerra fria. E, enquanto isso, tinha gente que brigava nas arquibancadas “porque a bola rolou mais para este lado do que para aquele”.
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Com isso, não herdei de meu pai a preferência por um time e tive que escolher, sozinho, para quem torcer. E escolhi o Internacional.
Hoje vejo que foi um processo meio estranho. Tudo começou quando a profe Reni inventou o Gre-Nal do ditado: sempre que um aluno tirava dez no ditado, marcava um gol para seu time. Só que eu não tinha time. Então, optei pelo azul, pois era cor de menino. Mas bastaram algumas rodadas para ver que os colegas mais inteligentes eram colorados – só dava Inter nos Gre-Nais da prô Reni. E virei a casaca.
Dessa descompostura de criança surgiu uma paixão. Com o tempo passei a cultuar a história mítica do Clube do Povo, concebido para acolher os oprimidos e discriminados. Aprendi a cantar seu hino e a reverenciar seu passado alvirrubro/motivo de festas em nossos corações. A invocar lembranças de Carlitos, Tesourinha, Caçapava, Escurinho e tantos outros que não vi jogar.
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Foi uma juventude difícil, com o Colorado sempre patinando, enquanto o rival levantava a taça de bi da Libertadores. Mas o rebaixamento parecia um pesadelo tão distante quanto o sonho de ser campeão do mundo.
Ontem resistimos e a esperança continua. Hoje, seremos Coritiba desde pequeninos. Mas a chance de cair ainda é imensa. Se acontecer, vai doer. Será uma injustiça, talvez não com o grupo de atletas, mas com uma legião de torcedores apaixonados e com uma tradição de glórias. Porém, a vida vai seguir e continuaremos torcendo, talvez até conformados. Afinal, há coisas bem mais graves do que cair para a Segundona. Tem a inflação, a corrupção e seja lá o que acontecer com o mundo na era Trump.
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