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Rio Pardo

“Foi uma desgraça anunciada”, diz antiga moradora da Estação Férrea

Bombeiros conseguiram evitar que as chamas se espalhassem, mas o telhado ruiu

Pilhas de escombros, telhas de barro quebradas e madeira carbonizada ocupam hoje o espaço que, nos anos de ouro da antiga Estação Férrea de Rio Pardo, servia de morada para funcionários da ferrovia e seus familiares. Na manhã dessa quarta-feira, 8, o ambiente foi consumido por um incêndio, que começou no terceiro andar do prédio de 137 anos. As chamas devoraram o forro e o assoalho desse pavimento, colocaram abaixo quase todo o telhado e destruíram um pedaço relevante da história do Rio Grande do Sul.

Inaugurada em 1883, a Estação Férrea de Rio Pardo também converteu-se em ponto de encontro e de comércio. Ao redor dela, cavalheiros com chapéus-coco, senhoras com longos vestidos e fazendeiros de bota e bombacha disputavam espaço com meninos que vendiam lambaris fritos aos viajantes, entre as banquinhas onde também era possível saborear os afamados sonhos de Rio Pardo.

Dentre os registros históricos da edificação, destaca-se também a fotografia da enchente de 1941, que cobriu a linha férrea e forçou uma raríssima parada no fluxo dos trens. O encerramento definitivo das atividades só ocorreria em 1996, quando os trens de passageiros pararam de funcionar no Rio Grande do Sul.

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Hoje com 74 anos, a professora aposentada Mariza Christoff, ex-presidente do Conselho Regional de Desenvolvimento do Vale do Rio Pardo (Corede/VRP), guarda boas recordações da época em que viveu nas dependências atingidas pelo incêndio. Filha do agente de viação férrea Alberto da Motta, Mariza residiu com a família na antiga estação de 1954 a 1965 e lembra do quanto o lugar era agitado no período. Agora, contudo, ela está muito abalada por causa do incêndio. “Fiquei muito, muito triste. Estou chocadíssima, mesmo que essa tenha sido uma desgraça anunciada, já esperada”, desabafou.

Para a professora, o sinistro foi consequência do abandono. “É o que vem ocorrendo em Rio Pardo. Nossos prédios históricos estão ruindo, um a um.” Ela acredita que caberia ao Executivo municipal ter dado mais atenção à antiga estrutura. “Ainda que o prédio seja do Dnit, a Prefeitura é o órgão mais próximo de nós e que deveria ter agido a tempo.”

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Opinião parecida tem o primo dela, Dagoberto Freitas de Menezes, 72, que também passou parte da infância na estação. Na época, seus pais viviam no interior e, para estudar na cidade, o pequeno Dagoberto foi morar sob a tutela de Alberto da Motta. Menezes recorda que no terceiro pavimento da estação ficavam, naquele tempo, dois dormitórios, reservados ao casal e às filhas. No segundo pavimento havia, além da sala e da cozinha, outros dois quartos, onde dormiam o próprio Dagoberto e o irmão de Mariza. O escritório ficava no térreo.

“Perdemos nesta quarta-feira um pedaço de nossas lembranças e de nossa cultura. É um dia triste para os rio-pardenses, infelizmente, por conta do abandono imposto à estação por várias instâncias de governo. Aquele prédio nunca teve o respeito que merecia.” Para Menezes, o poder público ainda não acordou para a relevância do turismo como fonte de receita. “O turismo é a maior indústria sem chaminé que existe, é um grande gerador de emprego e renda. Porém, ao invés de investir nesse mercado, nossos governos deixam os prédios históricos se acabarem.”

O que afirma a Prefeitura

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A última recuperação da Estação Férrea aconteceu em 2005, com um investimento de R$ 76 mil. Na época, a América Latina Logística (ALL), concessionária da rede ferroviária, investiu R$ 72,8 mil, com contrapartida de R$ 3,2 mil do Executivo, após acordo firmado com intervenção do Ministério Público. Depois das obras, as instalações abrigaram a Secretaria de Turismo e Cultura até 2014, quando o Centro de Referência de Assistência Social (Cras) da Ponte passou a realizar oficinas no local. Em 2016, o contrato de cedência do prédio não foi renovado e, desde então, a estrutura encontrava-se desocupada.

Segundo o oficial administrativo e assessor direto da Prefeitura de Rio Pardo, Paulo Gilberto Granada Pereira, o atual governo já havia encaminhado proposta para o Dnit, responsável pelo prédio, para que fosse feita nova restauração. Contudo, a resposta nunca veio. “Buscamos verbas do governo federal, sem sucesso. Temos todo o interesse em restaurar a antiga estação, mas nossos recursos não o permitem.”

Pereira também ressaltou que o Município vinha realizando pequenas intervenções no local, mesmo sem “legitimidade para tanto”. “Vínhamos recolocando a vedação no prédio, devido à violação de janelas e portas realizada por intrusos. Assim como toda a comunidade rio-pardense, o Executivo também lamenta a destruição causada por este incêndio. O sinistro destruiu um registro de parte da história de nosso município.”

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