“Mana, será que a gente podia ir de novo naquela igreja, onde a mãe estava dentro do baú aquele dia? Quero ver ela de novo, estou com saudades.” Na conversa com a irmã Lilian, a pequena Gabrielly, de apenas 5 anos, não sabia que aquela imagem da mãe Lisiane Vieira Bicca, de 40 anos, velada junto ao Cemitério Ecumênico da Paz Eterna, no Bairro Santo Antônio, que ficou marcada em sua memória, não voltaria a se repetir.
Nessa quinta-feira, 14, Lilian da Silva, de 19 anos, rompeu o silêncio e conversou com a Gazeta do Sul. “Foi uma crueldade o que fizeram com a minha mãe. Eu tento não chorar, mas é difícil. Eu digo pra Gaby que a mãe foi morar com Deus, e que sempre que ela quiser falar com a mãe, é só olhar pro céu e conversar com ela. De vez em quando a pego olhando pro céu e conversando”, disse a irmã mais velha da pequena Gabrielly.
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A vida da família mudou radicalmente no dia 26 de junho deste ano. Naquela tarde, por volta de 17h20, a safreira Lisiane havia descido do ônibus da firma perto da creche onde deixava a pequena. Após pegar a menina, as duas foram a pé para casa, que fica a cerca de um quilômetro da escolinha, na Rua José de Oliveira Lopes, no Bairro São João. Gabrielly estava no banho com a mãe quando ouviu gritos na frente da residência. Lisiane, que estava grávida, foi assassinada com um disparo de pistola calibre 9 milímetros ao sair do banho, após dois criminosos entrarem na residência, chamarem pelo seu ex-companheiro e dispararem contra ela, ao receberem a resposta de que ele não estava em casa.
A jovem de 19 anos agora cuida sozinha da menina de 5 e de dois irmãos menores, Marcos, de 9, e Bruno, de 12 anos. Na última segunda-feira, na chamada Operação Juramento Divino, a Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher (Deam) prendeu dois homens, de 34 e 23 anos, que são tio e sobrinho, apontados como participantes no assassinato de Lisiane. O mais velho seria o executor do disparo, e o mais novo o motorista do carro.
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Lilian relatou como acompanhou os desdobramentos do caso até o momento, e a angústia de receber a notícia sobre a mãe baleada. “Por volta de 17h50, meu irmão Bruno ligou e disse que tinham dado um tiro na mãe. Eu fiquei em estado de choque e precisei ser amparada pelas minhas colegas de trabalho.” A jovem trabalhava em uma loja de açaí, no centro de Santa Cruz do Sul, enquanto seus três irmãos menores estavam em casa.
A patroa de Lilian a levou na residência da família. Ao dobrar a esquina da Rua José de Oliveira Lopes, viu a ambulância passar em deslocamento no sentido contrário, em direção ao Hospital Santa Cruz. “Quando vi o sangue no chão eu senti, chorei e falei pro meu avô: a mãe não vai conseguir sobreviver, ela perdeu muito sangue.” O óbito foi confirmado às 20h03.
Dor e falta
Lilian da Silva contou que ficou sabendo das prisões dos dois apontados como envolvidos no crime pelo Portal Gaz, logo cedo, na última segunda-feira pela manhã. “Minha mãe estava grávida de um bebê que nem sabia por que estava ali, inocente. Mataram duas pessoas. Quem fez isso tem muita maldade no coração.”
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A Deam ainda não confirma uma possível motivação para o crime e mantém o decorrer das investigações em total sigilo. Lilian contou que o pai voltou para casa em fevereiro e ficou até abril morando com eles, depois foi embora. “Os próprios criminosos tinham medo de atentar contra o meu pai porque sabiam que ele iria revidar. Ele estava em casa e ninguém foi ali fazer algo contra ele. Todo mundo sabia que ele estava ali. Foi um bom tempo depois de ele sair da cidade que foram e chamaram por ele.”
Perguntada, Lilian diz não saber qual motivo poderia ter ocasionado algo tão brutal. “O meu pai tinha envolvimento com o crime. A própria família sabia que se acontecesse algo com ele, teria uma noção de que é porque ele é envolvido com o crime. Quem tá nessa vida corre o risco, mas a minha mãe era uma pessoa muito boa, ajudava todo mundo, tirava da boca dela pra dar pros outros. Não tem explicação.”
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Outra perda sentida pela família foi do cão Thor. O cachorro tentou defender os ocupantes da casa do ataque dos criminosos, mas também foi alvejado e veio a falecer, posteriormente. “Isso também foi algo que tirou o chão das crianças, pois elas adoravam ele. Vai fazer três meses no dia 26. Sentimos a dor e a falta da nossa mãe, mas precisamos seguir”, salientou a mulher.
“A gente não deseja o mal pra eles que fizeram isso. Tudo que a gente planta, a gente colhe. Deus tem um propósito para cada um. Todos os dias, eu e as crianças fazemos uma corrente de orações, e eu peço que Deus possa limpar o coração desses homens envolvidos nisso, para que no futuro eles se arrependam e peçam perdão para Deus”, finalizou. A jovem de 19 anos, que perdeu o emprego, vem tentando criar os três irmãos menores sozinha. Quem quiser auxiliar a família pode efetuar um Pix pela chave (51) 998303911, em nome de Lilian da Silva.
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