O caso que marcou o final do ano em Santa Cruz do Sul segue em investigação com a Polícia Civil. Na última sexta-feira, durante patrulhamento na Rua Guilherme Kuhn, Bairro Belvedere, um policial militar da Força Tática efetuou disparos de arma de fogo contra dois homens. Um deles, João Omar Lenz, de 44 anos, morreu após ser atingido com quatro tiros, no umbigo, lateral do corpo e costas.
Ele perdeu quatro litros de sangue e teve o braço quebrado. Já Anderson Micael Pereira Padilha, de 26 anos, permanece internado na Unidade de Tratamento Intensivo (UTI) do Hospital Santa Cruz (HSC). Acompanhados do advogado Felipe Haas, familiares dos dois baleados procuraram a Gazeta do Sul para se manifestarem sobre os fatos. “Foi execução o que fizeram com o João”, disse a esposa Tamara Cristina Ferreira, de 41 anos. Para eles, João e Anderson foram atingidos pelas costas, sem esboçar qualquer menção de utilizar uma arma de fogo.
A versão é diferente da sustentada pelos policiais militares que atuaram na ocorrência. Segundo o que afirmaram, estavam em frente à residência onde mora Lenz, conhecido pelo apelido de Armeiro. Foi quando um PM teria visualizado um homem entrando em um corredor de forma apressada, o que gerou suspeita. Ao se aproximar para efetuar a abordagem, o indivíduo correu, mas foi logo alcançado. Na sequência, João teria sido visto dentro da casa com uma arma de fogo em punho.
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Junto dele estaria Anderson, também portando uma arma. Nesse momento, um PM deu voz de abordagem, que não teria sido acatada. Conforme o policial, os dois que estavam no imóvel teriam feito menção de disparar contra ele e, para neutralizar a ação, respondeu efetuando disparos.
Em paralelo a um inquérito policial militar instaurado pelo Comando Regional de Polícia Ostensiva do Vale do Rio Pardo (CRPO/VRP), a 1ª Delegacia de Polícia (1ª DP) já apura detalhes da ocorrência. Na tarde de segunda-feira, os agentes foram até a cena do crime e coletaram evidências para auxiliar na investigação. O Instituto-Geral de Perícias (IGP) também esteve no local.
O comandante do CRPO/VRP, coronel Giovani Paim Moresco, confirmou que irá realizar uma entrevista coletiva para falar sobre o caso nesta quinta-feira, 14, às 15 horas. A identidade do policial miliar da Força Tática que disparou contra os dois homens é mantida em absoluto sigilo pela Brigada Militar.
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Os familiares dos dois homens alvejados confirmaram que vão realizar uma manifestação em frente ao Fórum hoje, às 14 horas. “A família está desolada. Vamos trabalhar com a linha da execução. Ainda não tive acesso a informações do inquérito, mas já solicitei”, confirmou o advogado Felipe Haas. João Omar trabalhava em casa, consertando armas.
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Por isso era chamado de Armeiro, apelido que herdou do pai. Segundo os familiares, não fazia distinção sobre quem era seu cliente e trabalhava para ajudar a sustentar os gastos da casa. Tinha três filhos, uma jovem de 19 anos, uma menina de 11 e um menino de 7, além de um neto de 5 anos. Muito emocionada, a irmã de João, Elisângela Lenz, 37 anos, contou que ele estava na casa dela, que fica próximo, construindo um muro, pintando e trocando um piso.
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A residência estava sendo arrumada para as festas de fim de ano da família. Em determinado momento, ele foi para casa. “Me sinto culpada. Se eu pudesse voltar e ter dito para ele não ir, ele estaria vivo”, disse a mulher. Ela foi avisada por um menino de que seu irmão tinha sido baleado. “Fui correndo lá e não deixaram a gente chegar perto dele, que estava dentro da casa. Tivemos que ficar do lado de fora. De lá, eu escutava meu irmão pedindo socorro e dizendo que estavam ‘furando’ ele”, contou a mulher.
A esposa de João, Tamara Cristina Ferreira, recebeu a ligação no seu local de trabalho, em uma pastelaria da cidade. “Em virtude do trabalho dele, a polícia sempre estava na nossa casa, querendo saber de quem eram as armas, mas jamais haviam chegado dessa forma.”
Na saída, houve tumulto. Anderson saiu em uma maca e Lenz foi carregado pelos membros por policiais militares, com um lençol tapando seu corpo. Segundo os familiares, ninguém foi autorizado a acompanhar os baleados nas ambulâncias.
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A identificação de testemunhas, vídeos feitos por moradores da vizinhança, projéteis apreendidos pelos familiares e até luvas deixadas na cena do crime devem ser analisados pela Polícia Civil nos próximos dias. Peça-chave na investigação, por ter sido o único junto de João Omar que estava no imóvel ao ser alvejado, Anderson Micael Pereira Padilha permanece em atendimento no HSC e seu depoimento é muito aguardado.
No entanto, os familiares pedem proteção, pois temem por sua vida. Conforme a esposa dele, Stefany Machado, de 23 anos, um disparo pegou de raspão na mão, outro atingiu o quadril e dois nas costas, que teriam ficado alojados e depois foram removidos. A mãe de Anderson, Iracema de Fátima Pereira, de 52 anos, conta que havia pedido ao filho, que estava de folga na distribuidora de produtos alimentícios onde trabalha desde os 17 anos, para ir à casa de João, que fica perto, e lhe pedir um serviço de mudança em sua residência.
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“Depois, vimos as ambulâncias e achávamos que era um acidente grave. Logo depois fiquei sabendo de tudo. Me sinto culpada porque eu que pedi pra ele ir lá”, disse a mãe. A filha mais velha de João, Thaisa Lenz, de 19 anos, continua muito abalada. Ela escreveu um poema para ele. “Meu pai, sei que não era sua vontade partir, mas que teve que deixar aqueles que ama. Farei a justiça por ti”, dizia parte do texto.
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Os familiares ficaram decepcionados com os comentários e julgamentos nas redes sociais. “Não é certo nem justo isso, achar que eram bandidos. Foram taxados assim por muitas pessoas, sendo que não são, como muitos comentaram nas matérias. São pais de família, que nunca foram condenados por nada. Buscamos por respostas, queremos que se faça justiça, que venha a verdade à tona”, salientou a esposa de Anderson, Stefany Machado.
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