“Seu fofoqueiro!” Estou acostumado com a qualificação que poderia soar como ofensiva. Eu afirmo:
– Tens razão! Sou um fofoqueiro diplomado e remunerado! – referindo-me à situação de jornalista profissional formado na Unisinos.
Em tempos de radicalização, a ânsia em contar “novidades” transcende o bom senso. Esse comportamento é até compreensível em decorrência da velocidade dos fatos.
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A informação envelhece em minutos, tamanha a intensidade dos dias recentes vividos na ilha da fantasia, conhecida como Brasília.
Há séculos que a troca de notícias “informais” – a popular fofoca – é esporte nacional. Esse processo de distribuição de novidades envolve simpatias e antipatias típicas das relações humanas. Se o protagonista do “causo” é uma pessoa querida, é comum minimizar seus erros e exagerar nas qualidades.
A vida é um “telefone sem fio”, uma das brincadeiras infantis mais antigas do mundo. Sentadas no chão, em círculo, as crianças ouvem, ao pé do ouvido, uma frase ou notícias do vizinho, e passam adiante. O último integrante fala em voz alta o que compreendeu e todos caem na risada, tamanho disparate entre uma e outra mensagem.
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As revistas de circulação nacional promovem um “telefone sem fio” em dimensões continentais, com consequências devastadoras. Uma delas solapou reputações até então inatacáveis. Cito duas: Ibsen Pinheiro, então presidente da Câmara Federal, e Alceni Guerra, que era ministro da Saúde. Sem falar do episódio da Escola Base, de São Paulo.
Foram dois “escândalos” que soterraram biografias ilibadas que se desmancharam quando a publicação chegou às bancas. Hoje isso se agravou através das redes sociais.
São visões diferentes, conforme a ótica de cada um. Homens, mulheres, jovens, aposentados, autoridades de todas as raças, credos e sexos. Todos “trocam informações” constantemente. Ampliam virtudes, suavizam defeitos, carregam nas cores, alteram detalhes que, no frigir dos ovos, podem transformar heróis em vilões. E vice-versa
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Diplomado ou não, o fofoqueiro é um personagem que vive dentro de cada um. Mas que é odiado quando interpretado pelos outros.
(Esta crônica publicada foi em meu blog no dia 30 de março de 2016.)
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