Lorenzo de Medici era conhecido como o mais poderoso mentor político e cultural da Idade Média. Era o chefe da família mais poderosa da Itália, de onde saíram banqueiros, dois papas e os principais mecenas, financiadores da arte no Renascimento. Colada à Basílica de São Lourenço, em Florença, está a Capela Medici, o mausoléu da família. Ali, é impossível não ficar boquiaberto com a arquitetura e as magistrais esculturas de Michelangelo Buonarroti, que projetou até mesmo as escadas do local.
O ponto mais conhecido da cidade é a Catedral de Santa Maria del Fiore, conhecida como Il Duomo. Sua cúpula, construída há 600 anos pelo arquiteto Filippo Bruneleschi, ainda é a maior do mundo construída de tijolos. O campanário de Giotto e o Batistério de São João, com a espetacular obra “Os Portões do Paraíso”, de Lorenzo Ghisberti, fecham o magnífico conjunto.
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Perto dali, a poucos metros da principal estação ferroviária, a Basílica de Santa Maria Novella e seus afrescos, por si só, já valem a visita à cidade. O Rio Arno corta a cidade antiga. De todas as suas pontes, a milenar Ponte Velha (Ponte Vecchio) se sobressai, construída sobre pilares inovadores dos etruscos. Ao longo dela, corredores elevados conduziam os Medici de seu centro administrativo, hoje Museu Uffizzi, até a residência da família, o Palazzo Pitti.
Florença tem dezenas de museus de arte e história, todos a poucos passos um do outro. O Museu da Academia de Belas Artes se destaca pelas esculturas de Michelangelo, em particular o “Davi”, que foi substituído por uma cópia em seu local original, em frente ao Palazzo Vecchio.
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A Galleria delle Uffizzi guarda uma das maiores coleções de arte do mundo, incluindo sua pintura mais famosa, “O Nascimento de Vênus”. Por curiosidade, Simonetta Vespúcio, prima de Américo, serviu de modelo para o pintor Sandro Botticelli. O Museu Bargello também se dedica a esculturas, incluindo o Davi de Donatello, que, sendo a primeira escultura de um nu, marca o início do humanismo do Renascimento.
O Museu de História da Ciência, além de um espetacular acervo, guarda um dos dedos de Galileu Galilei, arrancado antes de seu sepultamento em Florença. Dezenas de outros museus, teatros, templos e construções históricas também merecem, ou melhor, exigem uma visita.
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Quase sempre a trabalho, estive em Florença dezenas de vezes, e sempre que possível arrumo algumas horas para conhecer algum novo local da cidade, que parece fonte inesgotável de cultura e história. Em uma das últimas passagens, enquanto hordas de turistas se concentravam em torno das famosas esculturas dos mestres renascentistas na praça principal de Florença (Piazza della Signoria), caminhei até uma parte mais vazia da praça, quase em frente ao imponente Palazzo Vecchio. Eu procurava um disco metálico incrustado no calçamento medieval, marcando o local de duas fogueiras históricas.
No final do século 15, um carismático e populista líder religioso, frei Girolamo Savonarola, fazia discursos agressivos contra a corrupção e o sistema vigente na república, então capitaneada pela família Medici. Com o tempo, ele convenceu grande parte do povo da cidade de que era preciso manifestar seu protesto queimando obras de arte, livros raros, esculturas e outros instrumentos que, na opinião dele, eram diabólicos. As pessoas que o seguiam cegamente alimentavam essas “fogueiras das vaidades” com pinturas, algumas de Botticelli, livros raros de autores como Dante e Boccaccio, e outras obras de arte que queimaram naquele exato ponto da praça.
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Segundo seu contemporâneo Maquiavel, Savonarola era incompetente e mal preparado para governar. Mesmo assim, em 1497 ele se tornou o líder “de facto”, com o apoio da maioria dos florentinos. O que se seguiu foi a maior perseguição moral e destruição da cultura que o berço do Renascimento assistiu. O povo foi aos poucos se dando conta do erro monstruoso que havia feito, e no final o próprio papa Alexandre VI se voltou contra Savonarola e o excomungou. Pouco tempo depois, outra fogueira ardia sobre aquele mesmo lugar da praça. Queimava o próprio Savonarola e alguns de seus comparsas. As obras de arte e os livros jamais foram recuperados.
Outro líder carismático italiano, Benito Mussolini, teve trajetória parecida e destino semelhante, executado por uma revolta popular em 1945. O ditador eternizou o termo “fascista” para práticas como as dele e de Savonarola. Os homens são ciclicamente influenciáveis, por medo de falsos fantasmas ou pela esperança em algum salvador de seus próprios interesses. Não se pode, contudo, enganar a todos por muito tempo. Só é uma pena que as perdas às quais o próprio povo se submete são muitas vezes irreparáveis.
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