Pesquisadores da Fundação Instituto Oswaldo Cruz (Fiocruz) estudam se a bactéria Wolbachia, usada no Aedes aegypti para evitar a transmissão da dengue, impede também a propagação do vírus Zika. De acordo com o pesquisador Luciano Moreira, que coordena o projeto Eliminar a Dengue: Desafio Brasil, estudos internacionais tiveram resultados positivos.
“Tem já trabalhos publicados na literatura científica. [A bactéria] também reduz a transmissão do vírus da febre amarela, do vírus Chikungunya. Não está publicado ainda, mas recentemente colaboradores do programa internacional realizaram experimento e foi mostrado que o mosquito com Wolbachia também tem efeito sobre o vírus Zika”, disse o pesquisador.
Desde 2014, os pesquisadores usam os chamados mosquitos do bem como um meio natural de controle da dengue. São insetos criados em laboratório, que não têm a capacidade de transmitir a doença. O pesquisador Luciano Moreira esclarece que não se trata de modificação genética, mas de uma bactéria que é naturalmente encontrada em mosquitos e em até 60% dos insetos do mundo inteiro. “Foi descoberto que, quando colocada no Aedes aegypti, ela bloqueia e reduz muito a transmissão do vírus da dengue”, explica.
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Atualmente o projeto é testado em Tubiacanga, na Ilha do Governador, zona norte da capital fluminense e em Jurujuba, Niterói. Moreira afirma que pode demorar anos para que a tecnologia seja usada em grande escala. “Ainda é um projeto de pesquisa, a gente passou por todas as fases de aprovação regulatória governamental, hoje a gente está no campo em pequena escala. Isso dando certo, um próximo passo seria a expansão do projeto. A gente já está em conversa com o ministério [da Saúde], há interesse, mas isso tem que ser muito planejado e pode levar alguns anos para ter resultado numa área maior”, disse o pesquisador.
Pernilongo
O departamento de entomologia da Fiocruz também investiga se o mosquito Culex, conhecido popularmente como pernilongo ou muriçoca também pode transmitir o vírus Zika. A coordenadora da pesquisa, Constância Ayres, diz que até agora não há comprovação da tese, motivada pela rapidez com que ocorreu a propagação do Zika.
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“A primeira coisa que me chamou a atenção foi a rapidez na transmissão. Na maioria dos países em que o Zika vírus foi introduzido, ele gerou um número de casos muito grande em um espaço de tempo muito curto. Então isso já mostra um padrão um pouco diferente das outras viroses que o Aedes transmite, por exemplo a dengue. Então isso foi uma das coisas que me levou a investigar a possibilidade de outros mosquitos estarem envolvidos”, disse Constância.
De acordo com a pesquisadora, saber qual é o agente transmissor é fundamental, pois os hábitos do pernilongo e do Aedes são bem distintos. “Infelizmente, os mosquitos são completamente diferentes. Essas duas espécies têm hábitos completamente diferentes, enquanto o Aedes se alimenta durante o dia, o Culex quinquefasciatus se alimenta preferencialmente à noite, quando a gente está dormindo. Os criadouros também são diferentes. O Culex tem preferencialmente criadouros que contém água extremamente poluída, como esgotos, fossas, canaletas, água rica em matéria orgânica. Já o Aedes aegypti prefere colocar seus ovos em água parada, em água limpa”.
Ela ressalta, no entanto, que ainda é cedo para mudanças de estratégia e que as ações devem continuar voltadas para o controle do Aedes aegypti, comprovadamente vetor das duas doenças. “A priori é o Aedes aegypti. Então as ações estão voltadas para o controle do Aedes”. De acordo com estimativa da Organização Mundial da Saúde (OMS), entre 3 milhões e 4 milhões de pessoas do continente Americano devem ser contaminadas com o vírus Zika em 2016.
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