A pandemia foi o principal, mas não o único fenômeno a fazer de 2020 um ano muito esquisito. Houve o vai e vem das nuvens de gafanhotos, os estranhos relatos de óvnis na costa gaúcha em junho e, por fim, uma série de ocorrências astronômicas em dezembro: o eclipse solar, a chuva de meteoros e o raro alinhamento de Júpiter e Saturno. Os astrônomos foram ao delírio com esses três últimos eventos do ano que findou. Afinal, não são eles que precisam se desdobrar em explicações para aplacar a curiosidade das gurias lá de casa.
– Pai, e se um desses meteoros atingir a Terra? – quis saber a caçula, Ágatha.
Busquei tranquilizá-la. Expliquei que pequenos meteoros caem na Terra a todo momento, sem causar problemas.
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– Não há perigo algum – garanti.
– É mesmo? – retrucou a traquinas. – Pena que não podemos perguntar para um dinossauro o que ele acha disso…
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É fato que tantas notícias sobre tais eventos, apimentadas por toda sorte de teorias da conspiração na internet, aguçaram o interesse das gurias sobre os mistérios do universo. Lá em casa não vimos a tal chuva de meteoros, mas fomos bombardeados por uma chuva de perguntas ao longo desse mês:
– Como diferenciar um meteoro de um disco voador?
– Por que a Terra não tem anéis, como os de Saturno?
– Os reis magos tinham telescópios?
– Quem foi Stephen Hawking?
– Onde fica o final do universo?
– Stephen Hawking era um rei mago?
– Será que os gafanhotos são alienígenas?
– O coronavírus já chegou à Lua?
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Algumas das perguntas mais intrigantes vieram da Yasmin, irmã um ano mais velha que a Ágatha. Yasmin é a mais interessada por mistérios cosmológicos, existenciais e místicos, mas é também a mais propensa a buscar, antes de tudo, explicações lógicas, cartesianas e racionais para fenômenos estranhos.
– Pai? – abordou-me outro dia. – Se a Área 51 é secreta, como se sabe que ela existe?
Argumentei que a Área 51 é, na verdade, uma grande base militar utilizada para testar superaviões, algo difícil de se esconder por muito tempo. Acrescentei que em 2013 o então presidente americano, Barack Obama, confirmou a existência do lugar. Mas então veio a pergunta seguinte:
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– O Trump sabe que há alienígenas lá dentro?
Aí fiquei sem resposta. E desconversei. Disse que agora isso pouco importa e que, se houver mesmo ETs na Área 51, o problema é do Biden.
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No último dia 21, as gurias posicionaram-se no quintal para observar o tão esperado alinhamento de Júpiter e Saturno. O tempo ajudou na observação do fenômeno e a Isadora até conseguiu fazer algumas fotos, logo compartilhadas com as colegas de escola. Os comentários de curiosidade e admiração só pararam por alguns instantes, quando ouviu-se um misterioso cricrilar que vinha da escuridão entre as árvores. Mas as gurias não deram maior atenção ao ruído e a tensão logo se dissipou. Afinal, possivelmente era apenas um grilo. Mas, talvez, poderia ser também um gafanhoto…