O comportamento das pessoas tem muito a ver com hábitos. Sedentários, obesos, alcoolistas, perdulários, etc., tem em comum hábitos prejudiciais às suas vidas. Já outros hábitos não são prejudiciais, ou são menos, mas são hábitos, também, como dormir sempre do mesmo lado da cama, frequentar os mesmos lugares, fazer os mesmos trajetos para ir ao trabalho, ouvir um mesmo tipo de música, enfim, não importa o que a pessoa é: sua vida é repleta de hábitos. O autor americano Charles Duhigg cita, em seu livro “O Poder do Hábito”, a definição de William Jones de que “toda a nossa vida, na medida em que tem forma definida, não passa de uma massa de hábitos – práticos, emocionais e intelectuais – sistematicamente organizados para nossa felicidade ou nosso sofrimento e nos conduzindo irresistivelmente rumo a nosso destino, qualquer que seja ele”. Assim como adotamos inumeráveis hábitos, não racionais nem conscientes, como, por exemplo, vestir primeiro a perna direita ou esquerda da calça, podemos, também, aprender a poupar dinheiro, evitar compras descontroladas e elaborar um planejamento financeiro.
A maioria das pessoas acredita que suas decisões financeiras são sempre feitas com fundamentação e com muitas análises e justificativas. Isso pode ser verdade, mas geralmente só quando se trata de um valor maior que pode impactar de forma considerável o orçamento. Em contrapartida, os gastos cotidianos, sobre os quais não nos preocupamos ou aparentemente não necessitaríamos avaliar a decisão a tomar, ficam por conta do “piloto automático”, ou seja, são feitos sem questionar.
Os padrões que utilizamos para a construção de qualquer hábito também servem para nossa organização financeira. Ainda de acordo com Charles Duhigg, citado anteriormente, todo hábito, tanto o que queremos eliminar, quanto o que queremos adquirir, tem os mesmos três componentes: 1º) o gatilho: perguntar-se o que ganha ou perde com um hábito; 2º) a ação: consciente do gatilho, interromper a ação que o leva a gastar demais ou tirar algum obstáculo que faz, por exemplo, não dar bola para a condição financeira; 3º) a recompensa: não se recompensar por não ter comprado, mas por ter insistido na mudança de comportamento; ou, então, se conseguiu vencer uma tentação de comprar, comer ou fazer algo prazeroso.
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Hoje, já se sabe que, geralmente, os problemas financeiros não são decorrentes de baixos salários ou de crises econômicas do país, embora, em alguns casos, isso seja verdade, ainda mais quando a pessoa ficou desempregada ou perdeu seu negócio. Tanto assim que até pessoas com receitas acima da média também tem dificuldades até para pagar suas contas mais essenciais, que dirá conseguir acumular algum patrimônio. Muitos problemas financeiros ocorrem simplesmente pelo fato de as pessoas repetirem hábitos prejudiciais quando se trata de dinheiro, como não elaborar e acompanhar um orçamento pessoal ou familiar, comprar por impulso, não definir objetivos financeiros, não poupar, não planejar os investimentos. Em resumo, a pessoa quer viver da forma mais prazerosa o aqui e agora, nem que para isso tenha que apelar ao cheque especial ou ao crédito dos cartões.
Quem não está satisfeito com sua atual situação financeira, pode mudar isso. Embora seja possível em qualquer época, o início do ano, tempo de mudanças, a começar pelo calendário, é sempre uma oportunidade especial para repensar alguns pontos de nossas vidas. Isso inclui, evidentemente, a área financeira. Algumas dicas podem ajudar: 1ª) conhecer e organizar suas finanças: o primeiro passo, então, é fazer um diagnóstico, levantando e acompanhando suas despesas, por um período de 30 dias (para quem tem ganhos fixos) e 90 dias (quem tem ganhos variáveis); 2ª) começar a pensar nas suas finanças de forma contínua; 3ª) incorporar a administração financeira à sua rotina; 4ª) utilizar lembretes para atualizar sua planilha; 5ª) traçar metas financeiras do que quer alcançar em curto (até um ano), médio (até 10 anos) e longo prazo (mais de 10 anos).
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Com base no diagnóstico inicial das finanças pessoais e familiares, as pessoas tem em mãos uma radiografia de seus gastos, tornando-as mais conscientes na hora de fazer alguma compra e, às vezes até sem perceber, conseguem economizar. A atitude inicial e principal é identificar os hábitos prejudiciais que precisam ser mudados. Depois, educar-se financeiramente. Não só em aprender a elaborar e acompanhar um orçamento, fazer cálculos, pesquisar preços, que são providências necessárias, mas não fundamentais. A ideia de que educação financeira se resume a praticar algumas técnicas (elaborar um orçamento, por exemplo) e guardar dinheiro é tão equivocada quanto a ideia de guardar dinheiro debaixo do colchão… A educação financeira que a metodologia DSOP, por exemplo, está disseminando pelo Brasil, vai além: ela trabalha o comportamento das pessoas. É mais uma questão de bons hábitos e práticas do que de bons gastos e crenças. O sucesso financeiro não depende do quanto se ganha, mas de como se lida com o que se ganha. Esse é um hábito que pode ser aprendido.
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