Colunistas

Fim de campanha

Durou seis anos. Foi um longo tempo. Mais uma daquelas novelas inacabáveis. Mas acabou. Interessante que acaba registrando na partitura da História o sinal musical, em italiano, Da Capo. Para assinalar que o final já estava lá no começo, e agora basta repetir os acordes e a letra. O então ministro da Justiça e Segurança, a que se subordina a Polícia Federal, hoje senador Sergio Moro, lembra. Ele postou no X que em 2019 já apareciam o nome do mandante e o motivo. O governo na época quis terminar logo com a agonia e propôs que a Polícia Federal assumisse o caso para concluir o inquérito. Mas a reação foi gigantesca. Acabar logo com essa campanha que tem a força dramática de um corpo de mulher assassinada? Perder a força dos ingredientes? Jamais. Não; deixem a Polícia Civil do Rio conduzir a novela, sob a batuta do delegado Rivaldo Barbosa. Nem o Felix Caignet, de O Direito de Nascer faria melhor.

E durou seis anos. Desde o assassinato em março de 2018, os Brazão já estavam citados, talvez até a espelhar um triste trocadilho como aumentativo de Brasil. Mas ficaram ocultos, porque o alvo eram os Bolsonaro. Noticiaram até que miliciano, assassino de Marielle, fora à casa dos Bolsonaro em condomínio na Barra da Tijuca. Por 300 semanas, insinuava-se nas redes sociais ou na TV e jornais que o sobrenome Bolsonaro bordejava o assassinato de Marielle como a faca de Adélio tangenciou os órgãos vitais do candidato naquele mesmo ano de 2018. Mas não dá para comparar os dois casos. Um brigava pelo território da zona oeste do Rio; o outro queria o território inteiro do Brasil.

Era uma questão fundiária de Jacarepaguá e adjacências, mas a campanha a converteu em luta pela democracia e até pelo LGBT e feminismo. A exploração do assassinato rendeu até um ministério para a irmã da vítima. Seu currículo: ser irmã da vítima. Não podiam anunciar logo o que estava já evidente em 2019. Precisava render mais frutos. Havia outra eleição presidencial pela frente e era preciso manter os Bolsonaro como futuros indiciados pela morte de Marielle. Afinal, vivemos em tempos em que ninguém se pergunta o que está engolindo. Engolir sem perguntar fica mais fácil. E ninguém perguntava que interesse teriam os Bolsonaro na morte da vereadora. 

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As prisões não vão resolver muito. O conselheiro do Tribunal de Contas vai ganhar aposentadoria: o deputado vai ter um suplente sobrinho de bicheiro – nepotismo ao pé da letra. O delegado deve ter investido muito do que rendeu a Delegacia de homicídios. E, quem sabe, todos acabarão soltos antes de qualquer senhorinha da Bíblia flagrada derrubando o governo por abolição violenta do estado de direito. Agora a novela acabou. Terminou a campanha. É como uma segunda-feira após eleição, com o asfalto cheio de propaganda mentirosa deixada no chão. Pairando o desrespeito de usar um cadáver para tentar assassinar a reputação de viventes e de um sobrevivente. Aliás, o mistério que resta desvendar é de que gabinete da Câmara Federal partiu a autorização para o fantasma de Adélio entrar, enquanto ele enfiava a faca em Juiz de Fora.

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Heloísa Corrêa

Heloisa Corrêa nasceu em 9 de junho de 1993, em Candelária, no Rio Grande do Sul. Tem formação técnica em magistério e graduação em Comunicação Social, com habilitação em Jornalismo. Trabalha em redações jornalísticas desde 2013, passando por cargos como estagiária, repórter e coordenadora de redação. Entre 2018 e 2019, teve experiência com Marketing de Conteúdo. Desde 2021, trabalha na Gazeta Grupo de Comunicações, com foco no Portal Gaz. Nessa unidade, desde fevereiro de 2023, atua como editora-executiva.

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