Muitas pessoas ainda se lembram quando, em 2008, faliu o Lehman Brothers, um banco americano de investimentos e provedor de outros serviços financeiros, fundado em 1850 e com atuação global. Na época, desencadeou uma crise financeira de grandes proporções, conhecida como crise dos subprimes, principalmente nos Estados Unidos e na Europa; no Brasil, a crise também se manifestou com aumento dos juros e restrições de crédito, além de perdas na bolsa de valores.
Referindo-se à quebra do citado banco, a atual presidente do Banco Central Europeu, Cristine Lagarde, em 2018, proferiu a frase “Se fosse Lehman Sisters em vez de Lehman Brothers, o mundo seria muito diferente hoje”. Entre as várias interpretações para a frase, parece que está o papel da mulher, com ou sem filhos, na economia e nas finanças.
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Antigamente, as mulheres eram preparadas para o casamento, para cuidar da casa e educar os filhos. Não tinham direito a opinião, decisão política e, tampouco, a recursos financeiros independentes dos homens. Felizmente, ao longo dos anos, a sociedade se transformou e as mulheres passaram a ter oportunidade de ingressar no ambiente acadêmico, direito de voz e voto, de escolher ter ou não filhos e independência financeira e outras importantes conquistas.
Mesmo assim, falar em dinheiro ainda é um tabu entre as mulheres. Para piorar a situação, são acusadas, injustamente, de “gastadeiras”, no sentido de consumistas por excelência, embora em alguns casos realmente o sejam. Uma consultoria americana observou o comportamento de consumidores em 27 países, inclusive no Brasil, constatando que as mulheres são mais racionais, preparadas e disciplinadas para comprar, limitando-se à “listinha” e disponibilidade financeira.
Nos orçamentos domésticos, também, o poder de controle está cada vez mais nas mãos de mulheres, mesmo quando não são elas as principais provedoras do lar. É crescente o número de mulheres que sustentam e chefiam seus lares que, conforme dados de 2020 do IBGE, já seriam 50%. Quando uma mulher toma as rédeas das finanças de uma casa e o faz com educação financeira, tende a geri-las de forma mais eficiente que o homem, evitando correr riscos e sendo mais propensa ao planejamento com base em metas financeiras.
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Com maior presença no mercado de trabalho e também no orçamento doméstico, as mães, muitas vezes, são as pessoas que comandam e até são a principal fonte de renda da família. Acontece que, por conta da educação e barreiras que a sociedade impunha, muitas vezes as mulheres fazem tudo isso sem ferramentas e conhecimentos técnicos. Barreiras de tecnologia, como excesso de planilhas, podem desestimular as mães a se interessarem pelo assunto.
Nesse cenário, os filhos, muitas vezes, podem ter um papel essencial em ajudar as mães a aprenderem mais sobre o universo financeiro, apresentando fontes de informações e ferramentas que podem ajudar na tarefa, incentivando o aprendizado e apoiando a evolução nesse conhecimento e prática.
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Em termos de organização, a CFP (certificação profissional para o exercício da atividade de planejador financeiro pessoal) e conselheira do Planejar, Patrícia Palomo, sugere uma sequência para um planejamento financeiro que os filhos podem passar para suas mães:
- Fazer um diagnóstico da situação financeira: identificar os ganhos, gastos, aplicações e dívidas durante 30 ou 60 dias, anotando em uma planilha ou um aplicativo, todos os ganhos e desembolsos efetuados, por menores que sejam. Esse levantamento vai mostrar o caminho que o dinheiro pessoal ou familiar percorre, mostrando o verdadeiro “eu financeiro”, em que efetivamente é gasto o dinheiro que, muitas vezes, pode ser diferente do que a pessoa ou família pensam ou imaginam.
- Elaborar e observar um orçamento pessoal ou familiar: com base no levantamento de gastos, em que já é possível reduzir, substituir ou eliminar itens, adotar a fórmula inovadora da metodologia da DSOP Educação Financeira que prevê receitas ou ganhos líquidos (-) sonhos (-) prestações/dívidas (-) reserva estratégica (=) gastos. Diferente da velha fórmula tradicional de receitas/ganhos (-) gastos (=) sobra ou falta de dinheiro, a nova fórmula estabelece valor para os gastos pessoais ou familiares, depois de deduzidas, principalmente, prestações/dívidas já assumidas; é com esse valor que a pessoa ou família deve contar e viver, correspondendo ao seu padrão de vida.
- Aplicar um plano de ação: se perceber que está saindo mais dinheiro do que entra será necessário um plano para equilibrar o orçamento; observar o que não pode faltar e o que pode ser substituído e renegociado, como dívidas, troca de pacotes de serviços (celular, streamings, etc).
- Ter ou criar uma reserva de emergência: deve ser um valor suficiente para cobrir todos os gastos médios mensais, incluídos os valores para longevidade, sonhos e compromissos financeiros de, no mínimo, três meses, sendo o ideal de seis meses a um ano. Quem dispõe de uma reserva de emergência passa com tranquilidade por imprevistos ou uma simples conta inesperada ou, então, pode aproveitar alguma oportunidade de negócio.
- Pensar no futuro: o planejamento financeiro não pode ater-se apenas ao orçamento mensal ou anual; precisa incluir aportes para a longevidade. Com a expectativa de vida cada vez mais longa, é prudente o cidadão incluir em seu orçamento mensal um valor para formar um fundo para a aposentadoria. Organizadas as contas e formada uma reserva de emergência ou em vias de, uma boa orientação dos filhos às suas mães é conversar sobre aposentadoria como objetivo de deixá-las mais tranquilas para o futuro; uma das formas é aderir a algum plano de previdência privada.
Por fim, como diz a educadora financeira Cintia Senna, os filhos precisam dialogar e escutar as necessidades e os desejos de suas mães, inclusive na área financeira. Esse diálogo entre filhos e mães pode render bons frutos.
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