Nando Reis abre o portão de sua casa, na zona oeste de São Paulo, e lança olhares desconfiados para a reportagem do Estado. “Hoje não é comigo. Vocês vieram falar com eles, né? Estou sabendo. Podem entrar, fiquem à vontade”, diz o músico. Theodoro, 30, e Sebastião, 21, logo aparecem para a entrevista. Ansiosos, driblam o nervosismo quando o assunto é música. Tião exibe o limpador de vinis. Desenvolto, fala sobre Pink Floyd e Janis Joplin. “É simples. Só colocar o disco aqui. Sai limpinho”, explica. Theo, mais comedido, esboça uma risada tímida. Os talentos da dupla se complementam. Theo, o filho mais velho, assume os vocais. Tião, o terceiro, dedilha o violão com precisão. Juntos, os irmãos montaram a banda 2 Reis. Neste projeto, que começou em 2013, eles caem na estrada tocando as composições de Nando.
Foram apresentações pequenas em cidades do interior de São Paulo Algumas, inclusive, gratuitas. Eles também participaram do reality musical SuperStar, da Globo, e agora se preparam para fazer show no Sesc Bom Retiro. “A gente sempre teve o hábito de tocar as canções do nosso pai. De vez em quando, fazíamos algumas participações com ele em duas ou três músicas. Um dia, estávamos indo para Santos e pensei, poxa, Tião, tem tanta coisa do papai que gostamos. Por que não montamos um projeto? Várias composições legais dele não entram no repertório final”, conta Theo.
Além dos hits e músicas nem tão conhecidas do público de Nando Reis, Theo e Tião tocarão suas próprias composições. Passageiro do Vento, Repartir e Abri as Portas, escritas pela dupla, são peças fundamentais do show. As três lembram bastante a maneira sutil de compor de Nando. Não se trata, todavia, de uma coincidência. O duo cresceu ouvindo o pai com o violão na sala de casa. Os primeiros acordes aprendidos no instrumento, inclusive, foram inspiração familiar. “Não tem como negar que tudo isso veio dele (Nando). A gente começou a tocar as músicas do papai desde muito cedo. Foi o começo de tudo. Não temos vergonha de dizer isso. O nome da banda, inclusive, surgiu para homenageá-lo”, diz Theo.
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Apesar da idade, os meninos já possuem alguma bagagem. Theo tem uma trajetória interessante de 10 anos à frente do grupo de reggae Zafenate. Já Tião, fã do rock dos anos 1970, tocava violão na banda Elefantes. “O Theo investia em composições próprias e eu fazia cover de Led, Tim Maia e Novos Baianos. Quando as bandas se formaram, demorou muito tempo para que tocássemos alguma coisa do papai. Não era um tabu, mas o momento era outro. Queríamos ir a diante com nossas próprias pernas, sabe?”, afirma Tião. “Quando tocamos Marvin pela primeira vez no estúdio, foi demais. Gostamos muito do resultado”, complementa Tião.
A versão de Família, clássico dos Titãs, no programa SuperStar, da Globo, chamou a atenção do público. “Com uma roupagem mais moderna”, segundo Theo, o duo fez uma apresentação enérgica e contagiante. “Acho que todo mundo se surpreendeu um pouco com a escolha e ainda mais quando souberam que éramos filhos do Nando Reis. Houve alguns comentários, acho que o Paulo Ricardo percebeu e fez elogios”, relata.
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Os 2 Reis ainda não têm disco de estúdio. O primeiro trabalho da dupla foi um EP lançado em agosto do ano passado. O material trazia a compilação Passageiro do Vento, parceria de Theo com o cantor Marcelo Mira, e uma versão de E.C.T., canção de Nando, Marisa e Carlinhos Brown que ficou famosa na voz de Cássia Eller O trabalho está disponível nas plataformas digitais Spotify, Deezer, Itunes e Google Play. “Estamos aproveitando a oportunidade para fazer shows e criar uma casca. Em contrapartida, também trabalhamos num novo disco ainda sem data para ser lançado. A hora vai chegar. Há todo um processo”, afirma Theo.
Ao lado da voz de trovão de Cássia Eller, Nando Reis desenvolveu uma das parcerias mais marcantes da história recente da música popular brasileira. Apesar da proximidade entre os dois, tanto Theo quanto Tião não tiveram tanto contato com Cássia. “Eu percebi mais a presença dela durante os ensaios para a gravação do Acústico MTV Cássia Eller, em 2001, produzido pelo meu pai. Ela era uma pessoa muito tímida e fechada, porém muito educada. Com aquele vozeirão todo, assustava bastante quando ela abria a boca. A Cássia, que sempre foi uma inspiração para gente, se transformava quando subia ao palco”, lembra Theo.
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