Atualizado às 20h
O presidente da Confederação Brasileira de Futebol (CBF), Marco Polo del Nero, está sendo investigado pelo Comitê de Ética da Federação Internacional de Futebol (Fifa). O processo sigiloso foi aberto no mês passado após o órgão da entidade máxima do futebol receber documentos de autoridades brasileiras. “Eu posso confirmar que a Câmara de Investigação do Comitê de Ética abriu um processo formal contra o senhor Del Nero no dia 23 de novembro”, disse Andreas Bantel, porta-voz da Fifa, à Folhapress, nesta quinta-feira, 3. Bantel, porém, não deu detalhes sobre a investigação. No começo da noite, após reunião com dirigentes da CBF e presidentes de federações estaduais, Del Nero anunciou o seu licenciamento do cargo na entidade nacional – renúncia não está em seus planos – e nomeou um de seus vices, o deputado federal Marcus Antônio Vicente (PP-ES), para substituí-lo.
O Comitê de Ética da Fifa pode suspender ou até mesmo banir cartolas das atividades do futebol. Se punido, Del Nero terá que deixar a presidência da CBF. Desde maio, quando o seu antecessor no cargo na entidade nacional, José Maria Marin, foi preso na Suíça, o dirigente não viaja para o exterior. Marin foi acusado de receber propina na venda de contratos de direitos de torneios realizados no Brasil e fora do país. Del Nero foi o principal executivo da gestão de Marin, encerrada em abril deste ano.
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Os dois dirigentes são investigados pelos senadores da CPI do Futebol. Na terça-feira, 1º, os parlamentares quebraram o sigilo telefônico de Marin e Del Nero, e terão acesso às mensagens enviadas dos aparelhos da dupla, além de emails. A compra de duas coberturas no Rio de Janeiro por Del Nero no ano passado faz parte da documentação do processo de investigação da Fifa. O negócio foi revelado pela Folha de S.Paulo em abril e é investigado pelo Ministério Público Federal, no Rio, e pela Receita Federal.
Uma das coberturas, no valor de R$ 5,2 milhões, foi adquirida de uma empresa dos filhos do empresário Wagner Abrahão, antigo parceiro comercial da CBF e amigo do ex-presidente da entidade Ricardo Teixeira. Antes, em maio do ano passado, Del Nero registrou em cartório que comprou outro duplex, no mesmo local, por R$ 1,6 milhão. Os imóveis têm cerca de 250 metros quadrados. À época, ele negou qualquer conflito ou irregularidade na transação. “Me chama a atenção estes valores distintos para dois imóveis semelhantes no mesmo local. A apuração vai responder se quiseram burlar a Receita ou se houve alguma irregularidade”, afirmou o procurador da República, Daniel Prazeres, ao abrir em junho um procedimento administrativo para apurar o caso.
Na semana passada, Del Nero renunciou ao cargo de representante da Confederação Sul-Americana de Futebol (Conmebol) no Comitê Executivo da Fifa. Ele foi substituído por Fernando Sarney, que é um dos vices da CBF e filho do ex-senador e ex-presidente da República, José Sarney.
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Departamento de Justiça dos EUA enquadra dirigentes
Marco Polo del Nero e Ricardo Teixeira, ex-presidente da CBF, foram indiciados pelo Departamento de Justiça dos Estados Unidos por corrupção, junto com mais 14 pessoas. Segundo a investigação norte-americana, eles são acusados de estarem envolvidos em esquemas criminosos envolvendo mais de US$ 200 milhões em subornos e propinas.
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Ex-presidente da CBF, Ricardo Teixeira está entre os 16 indiciados (Banco de imagens)
Outros presidentes ou ex-presidentes de entidades que dirigem o futebol da América do Sul estão entre os investigados: Luis Chiriboga, que comanda a federação do Equador; Carlos Chávez, da Bolívia, que está preso em seu país acusado de desviar dinheiro da federação e ainda é o tesoureiro da Conmebol; e Manuel Burga, ex-presidente da federação peruana. Além deles estão indiciados dois ex secretários-gerais da entidade sul-americana, os argentinos Eduardo Deluca e José Luis Meiszner, além de um ex-tesoureiro, o boliviano Romer Osuna. Entre os dirigentes da Concacaf adicionados ao processo está até um ex-presidente de Honduras, Rafael Callejas, que além do país (de 1990 a 1994) também comandou a federação de futebol.
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CBF banca confraternização com cartolas
O presidente da CBF, Marco Polo del Nero, vai dar uma demonstração de força nesta sexta-feira, 4. Num encontro que será pago pela entidade máxima do futebol nacional, ele receberá o apoio da maioria dos presidentes de federações estaduais num almoço no Rio. O convite foi feito na segunda-feira com a justificativa de ser uma confraternização do cartola pelo final do ano com os dirigentes. Apenas o presidente da Federação Catarinense de Futebol, Delfim Peixoto, não foi chamado. Crítico da administração Del Nero, ele é o primeiro na linha sucessória em caso de renúncia.Nesta quinta (3), O Comitê de Ética da Fifa anunciou que investiga o presidente da CBF.
“Estou aqui para fazer a confraternização com o presidente. Ainda não sabemos o que aconteceu direito na Suíça”, disse o presidente da Federação Cearense de Futebol, Mauro Carmélio. Até a última eleição, as federações eram maioria no colégio eleitoral da CBF. Os outros votos eram dos 20 times da Série A. A partir da próxima eleição, os 20 clubes da Série B também votarão.
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Fifa aprova reformas e discute ampliar número de seleções na Copa
O Comitê Executivo da Fifa aprovou nesta quinta-feira um programa de reformas em seu estatuto. As propostas, agora, serão votadas no congresso extraordinário da entidade no dia 26 de fevereiro de 2016. Entre os artigos aprovados está a limitação a 12 anos de mandato do presidente, que poderá ficar no poder por no máximo três mandatos de quatro anos. Esse período também valerá para os membros do Comitê Executivo da entidade.
Uma das propostas do programa de reformas é o aumento do número de seleções na Copa do Mundo, de 32 para 40 times. Segundo o relatório da entidade, a iniciativa visa “reforçar a universalidade da Fifa”. Este item, porém, ainda está em discussão. “Essas reformas movem a Fifa a uma melhor administração, maior transparência e mais responsabilidade. É um marco em nosso caminho para restaurar a credibilidade da Fifa como uma moderna, confiável e profissional organização esportiva”, disse Issa Hayatou, atual presidente da entidade.