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Fica pra depois

Essa frase não nos é estranha, certo? Normalmente, está associada a alguns eventos específicos, previstos anualmente, que nos sugerem o adiamento de tarefas e projetos pessoais e coletivos.

Neste momento, por exemplo, “tudo” está adiado para depois da Copa do Mundo de futebol. São os negócios, a política, a procura do novo emprego, o plano “disso e daquilo”.

Os candidatos dizem que a campanha eleitoral só vai começar depois da Copa. As pesquisas eleitorais, segundo palavras dos candidatos, não seriam ainda representativas, eis que nosso povo estaria “concentrado” no futebol.

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Outros eventos se equiparam à Copa do Mundo, tais como o carnaval, a semana santa e os feriadões em geral. O que pode parecer esdrúxulo é, entretanto, verdadeiro. Nossos hábitos pessoais, nosso padrão de conduta social, estão adaptados e incorporados à comemoração e administração desses interesses e eventos coletivos.  

Essa vocação pelo adiamento de tarefas e obrigações, dissimuladamente absorvidas e justificadas por datas especiais, traduz lastimável e literalmente nosso “estado de coisas”.

O melhor exemplo de nossa não seriedade no trato das obrigações e na execução das tarefas é o histórico não cumprimento de horário. O “vai começar mais tarde!” já está incorporado às nossas tradições, assim como o “fica para depois da Copa!”.

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O não cumprimento de horário combinado é uma praga nacional. Uma prática pessoalmente desrespeitosa, porém socialmente tolerável. A prática do adiamento se equipara ao desrespeito do horário.

Não respeitar prazos e horários, submeter o outro a atraso e perda do seu tempo, é, objetivamente, uma apropriação da vida do outro, do seu tempo de vida. Sem esquecer o ditado popular: tempo é dinheiro. Alerta: é hora de mudar de comportamento, se não por educação e respeito, como uma atitude preventiva. Já há decisões judiciais indenizatórias e compensatórias. Tribunais têm aceitado a tese da perda do tempo útil.

Em resumo, submeter o outro a desperdício do seu tempo pessoal, causar sofrimento e humilhação caracteriza o dano moral e é punível. Submeter uma pessoa a espera exagerada, para além do horário combinado, independentemente das desculpas e explicações do responsável, não é apenas uma questão de falta de educação e negligência.

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É, basicamente, uma apropriação do tempo alheio, da vida do outro. Rico tempo em que poderia estar fazendo algo em causa própria – ler, praticar esportes, namorar, encontrar amigos, filhos e netos, lhe é desapropriado sem dó.  
Ninguém tem “tempo a perder”!

TI

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