Nestas férias, cuidando de mim, resolvi não viajar.
Fiquei em casa, descansando, lendo, escrevendo, vendo televisão, ouvindo o Sala do Cafezinho, cuidando das plantas, da gata (a Pudim) e da cachorra (a Preta). Abrindo e fechando a porta da geladeira. Espiando o quase nenhum movimento na rua onde moro e me arriscando na cozinha, para o deleite do meu próprio paladar. Fazendo alguns reparos domésticos, também, e acumulando recordes naqueles muitos joguinhos que dá para baixar no celular.
E foi bom! Muito bom!
Você descobre coisas que não consegue perceber, em casa, no restante do ano, por absoluta falta de tempo: um restinho de sol, no final da tarde, que entra por uma fresta de persiana; uma certa brisa, pela manhã, que faz tilintar o móbile da sala… Fantasmas que te provocam com a maior cara de pau. Se férias é para descansar, uma coisa lhes digo: eu descansei! O split lá de casa é testemunha, apesar de toda a sua “frieza” em nosso relacionamento.
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O restante do clã, minha esposa e filho (Josiane e Luan) até que foram bem compreensivos e me deixaram, aqui, com os meus “programetes de velho”, me recuperando de problemas que tive – problemas bem dolorosos, na coluna cervical. Cumpriram eles o que haviam estabelecido para essa folga mais prolongada e, claro, ficamos também um bom tempo juntos, em casa, o que é uma maravilha.
Cheguei ao ponto em que já não há mais pressa nesta vida. Nem a necessidade de, ao entrar em férias, sair correndo para longe de casa. Eu amo a minha casa, e a minha biblioteca me dá o mundo que eu realmente necessito.
Nestas de ficar zapeando pelo Netflix, descobri coisas incríveis como o fato de Jim Carrey, por exemplo, o ator humorista aquele, não ser apenas um comediante exagerado, cheio de caretas e trejeitos, mas também um artista plástico primoroso, concentrado em sua arte. Sim, Carrey pinta. E muito bem:
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Das muitas leituras que fiz, descobri que um outro ator, o Tom Hanks, é também um grande escritor. O seu livro de crônicas Tipos incomuns (Editora Arqueiro, 350 páginas) foi um grande parceiro nestas férias, com histórias bem verossímeis, entre o dramático e bem-humorado, do universo lá onde ele transita: o muito estranho – para nós – cotidiano das pequenas cidades norte-americanas. Gostei, também, do que o Steve Martin escreveu na orelha do livro: “Quer dizer que Tom Hanks é também um escritor hilário e perspicaz com uma mente que não para de nos surpreender? Que droga!”.
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Do que li nas férias, recomendo também, para quem está entrando agora: Noite e Solo de clarineta, ambos do Erico Verissimo, que até agora, perplexo, não consigo compreender por que demorei mais de 50 anos para ter em mãos; A casa inventada, da nossa querida Lya Luft, que fantasia um universo de infância tão próximo à infância que todos nós tivemos um dia; o Alquimia na quitanda, do Ferreira Gullar, com uma seleção de crônicas que ele publicou na Folha de São Paulo; e, por fim, um livro que, no passado, me passou meio batido e que agora eu recuperei, “escalando” as prateleiras de minha biblioteca: A corneta, histórias e estórias do mundo da bola, do meu querido amigo Guido Knak.
Pra quem conhece o Guido, é difícil de imaginar ele, sossegado, concentrado, escrevendo, com toda a energia que emana desse figuraça. Mas ele fez, sim, um livro muito agradável de ler, divertido ao extremo, com as histórias que recolheu nos bastidores do “esporte bretão”. Eu reli nestas férias e me diverti pra caramba! E como eu sou um baita interesseiro, vou até sugerir pro Guido uma nova edição, revista e ampliada!
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Seriado
Caçador de mentes
Costumo dizer que minha vida se resume em dois momentos: antes e depois do Netflix. Para quem se liga em filmes, documentários, musicais, desenhos, séries e assemelhados, é um “paraíso”. Do que vi nas férias indico o seriado Mindhunter, que começa “morno”, mas “esquenta” já no segundo episódio e “pega fogo” na sequência. É um drama policial criado por Joe Penhall e baseado no livro Mind Hunter: Inside the FBI’s Elite Serial Crime Unit, de John E. Douglas e Mark Olshaker (que eu tô louquinho para ler!). Se passa em 1977 e gira em torno de dois agentes do FBI, interpretados por Jonathan Groff e Holt McCallany, que entrevistam assassinos em série presos para tentar resolver casos em andamento. E se tudo isso não te convenceu, xeque-mate: é produzido por David Fincher!
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