Festival Santa Cruz de Cinema: um evento que ingressa no cenário nacional

O 4º Festival Santa Cruz de Cinema, realizado pelo Sesc/RS – Unidade de Santa Cruz do Sul, Universidade de Santa Cruz do Sul (Unisc) e Pé de Coelho Filmes, chega a seu final com o fato de ter entrado para a história. O retorno do público para assistir aos filmes motivou a participação dos realizadores e serviu como incentivo para a formação de plateia para os curtas-metragens.

Foram 682 de 25 estados mais o Distrito Federal inscritos, o que deu um expressivo trabalho para a curadoria, que acabou selecionando 18 filmes, limite máximo para o tempo de realização do evento. A sua maneira, cada obra levantou temas que mexeram com os espectadores, fizeram refletir e serviram de alerta para questões sociais e culturais vividas pela sociedade. Não faltaram suspiros, reações de indignação e gritos na plateia, dando eco à abordagem orientada pelos diretores.

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Presença de estudantes, além dos realizadores dos filmes e dos amantes do cinema nacional, com a retomada do público, foi um dos pontos fortes da quarta edição do Festival Santa Cruz de Cinema, durante a semana | Foto: Alencar da Rosa

Integrante da comissão organizadora, Rudinei Kopp ressaltou a presença dos estudantes do Ensino Médio. Conta que houve a confirmação mínima de 40 e máxima de cem jovens das escolas Ernesto Alves, Willy Carlos Fröhlich, Família Agrícola de Santa Cruz do Sul (Efasc) e Vera Cruz. “A presença dos estudantes foi um ponto muito positivo. Considerando as restrições, o público foi um dos destaques do Festival”, afirma. Antecipa que a intenção, para os próximos anos, é aumentar o número de instituições de ensino convidadas, além de incentivar a presença de mais pessoas da comunidade. A afirmação é corroborada pela diretora do Sesc, Roberta Pereira. “Um dos objetivos é a formação desta plateia, que vai acabar gostando e até fazendo esse tipo de arte no futuro”, aponta.

O público voltou a ocupar os espaços do auditório central da Unisc, onde ocorreram as exibições. Além de assistir, teve a responsabilidade de escolher o melhor filme de acordo com a plateia. A votação foi possível por meio do acesso, via QR Code, divulgado no final de cada dia de exibição, enquanto ocorriam os debates dos realizadores participantes.

E, assim como os avaliadores oficiais, os votantes da plateia tiveram grande dificuldade, devido à equiparação técnica apresentada. “A diversidade temática chamou a atenção positivamente do público, realizadores e avaliadores”, enfatiza Kopp. “A qualidade e a quantidade de filmes fizeram com que a curadoria e os avaliadores tivessem muito trabalho”, acrescenta Roberta. Também da comissão organizadora, Diego Tafarel reforçou a capacidade das obras de promoverem reações nas pessoas. “Foram três noites ótimas, com filmes que fizeram o público se divertir, pensar e abriram questões essenciais para a sociedade.”

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Todo esse envolvimento das escolas, a participação dos realizadores de diferentes partes do País e a retomada de uma oficina de preparação de artistas, que teve como professora a consagrada atriz Ítala Nandi, são apontados por Roberta Pereira como fatos que colocam o Festival Santa Cruz de Cinema entre os maiores do Brasil. Acredita que a cultura e a formação de profissionais são um compromisso do Sesc. “Terminamos o evento deste ano com a sensação do dever cumprido, com o retorno das ações presenciais e pelo fato de ter um dos maiores eventos do Brasil destinados a curtas-metragens”, garante.

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Ações de melhoria podem ser tomadas nas próximas edições. Kopp acredita que uma das dificuldades encontradas, neste ano, foi a variação dos preços das passagens aéreas. Com o aumento, foi demandado investimento além do que estava previsto. Entende, também, que uma boa ideia seria a expansão das atividades paralelas e que antecedem o evento, como o Concurso de Crítica Cinematográfica, em que alunos das escolas Ernesto Alves e Willy Carlos Fröhlich assistiram ao flme Waterboys e fizeram críticas, as quais foram avaliadas por jurados.

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Um fato que foge ao controle da organização, mas é ressaltado por Kopp, é a impossibilidade de o homenageado do ano, Matheus Nachtergaele, comparecer. “Ele teve questões particulares que acabaram inviabilizando a sua presença”, explica.

Um dos pontos altos do evento, reforça a atriz santa-cruzense Jéssica Ruviaro, é o espaço dedicado à Mostra Olhares Daqui, que apresenta obras realizadas por equipes locais. Ela fez parte de duas dessas produções: Cacicus e Paraíso para Duas. Conta que sempre quis atuar, o que a levou ao Rio de Janeiro e depois à formação do curso na Casa de Teatro de Porto Alegre. Retornando a Santa Cruz, pensou que diminuiria o ritmo de trabalho, o que não ocorreu. Cacicus chegou a ser indicado para o Festival de Cinema de Gramado. “Estou muito realizada, feliz. O cinema independente passa muito trabalho, mas é muito bom fazer dessa forma. As pessoas acreditam no que fazem”, resume.

Representando a Secretaria Estadual de Cultura, Zeca Brito adiantou que será lançado o edital Primavera Gaúcha, para ajudar cineastas na circulação e participação de eventos como o Festival Santa Cruz.

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Diego Tafarel: produções fizeram o público refletir
Roberta Pereira: formação e educação no evento
Rudinei Kopp: vamos ampliar formação de plateias

“Uma forma de ampliar a visão de mundo”

O monitor de Ciências Humanas e Sociais e coordenador da Escola Família Agrícola de Santa Cruz do Sul (Efasc), Antônio Carlos Gomes, reforça a importância da ação de formação de plateia proporcionada pela organização do Festival. “Nossos alunos são filhos de agricultores familiares, não conseguem acompanhar muito o cinema, então, com essa oportunidade, têm uma forma de ampliar a visão de mundo”, diz. A instituição que representa foi uma das quatro participantes. Também estiveram a Ernesto Alves e Willy Carlos Fröhlich, a Polivalente, de Santa Cruz do Sul, e a Vera Cruz.

Na Ernesto Alves, a supervisora Claudia Vogt destaca que o professor de Língua Portuguesa está trabalhando com os estudantes sobre os temas abordados nos curtas. “Ele discutiu, no dia seguinte, e pediu uma resenha crítica”, acrescenta. Entende que a educação, além dos muros da escola, proporciona uma compreensão maior da importância do ensino formal trabalhado em sala de aula.

Da Polivalente, foram cerca de 80 estudantes. “O Diego Tafarel é ex-aluno da Polivalente, então temos um carinho mais especial. Ele nunca deixa de nos convidar”, conta a vice-diretora, Rejane Frantz Henn. Na instituição houve debates sobre os filmes assistidos.

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O trabalho de discussão entre os alunos e o repasse para aqueles que não foram também foram praticados na Escola Vera Cruz, de acordo com a orientadora educacional do noturno, Neoli Gabe. “Muitos ainda não tinham olhado curtas e acharam bem diferente a forma com que eles são produzidos”, destaca.

Diariamente, os estudantes foram desafiados pela reportagem da Gazeta do Sul a avaliarem o que assistiram. Augusto Pozzebon, da Ernesto Alves, ficou motivado com a realidade brasileira apresentada em obras como 25 Anos Sem Asfalto. Além disso, se disse chocado com o final de Desvirtude, em que a protagonista é vítima de preconceito racial por parte de uma professora.

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Moradora de Vale Verde e aluna da Efasc, Maria Rosa da Silva foi pela primeira vez no Festival. “Superou minhas expectativas, me chamando a atenção o filme Paraíso para Duas (da Mostra Olhares Daqui)”, cita. Tendo trabalhado em salas de cinema, Henrique Gonçalves da Silva, da Polivalente, esperava boa construção de roteiros e abordagem diversa. Sua expectativa foi atingida. “Copacabana Madureira atraiu pela parte técnica, reunindo informações colocadas para trazer desconforto interno, que leva à reflexão, versatilidade de informações”, opina.

A ação de formação de plateia teve a atenção da estudante Gabriele de Lima Marques, da Escola Vera Cruz. “Entendo ser a abertura para visitação das escolas um ponto positivo para a aproximação dos estudantes com a universidade e com a arte.”

Na quinta-feira, Maurício Machado, da Polivalente, assistiu aos curtas, incluindo o vencedor Inabitável. Em sua segunda ida ao Festival – já havia acompanhado em 2019 –, acredita ser uma forma diferente de valorização da cultura, com o fato especial de que é gratuito. “Ser Feliz no Vão foi meu preferido, pela forma como o tema foi apresentado, em um estilo de documentário”, justifica.

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