Caçapava do Sul também festeja o dia de hoje. É o que cochicha o mano Pêndulo. Berra para eu conseguir escutar. Todo dia é festa nesta terra baiana. De sínteses aparentemente impossíveis fora do coração que ama. E tudo pode.
Em Salvador, onde me encontro com minha gente do outro lado de mim e que também me preenche no compasso do pêndulo do relógio, pensar no Rio Grande é uma viagem festiva e querida.
A gente contempla – percebe – a riqueza e a diferença deste Brasil de imensas divisas e ínfimos limites. Sim, minha gente. Cidadãos (será que somos, mesmo, ou fomos algum dia?!?) zombados em matéria de decoro e respeito. E mesmo assim, povo que canta, faz festa e prossegue celebrando. Talvez pequena consciência do que realmente encara nestes dias e noites de vergonha verde-amarela. Corrupção fedendo insepulta; reforma trabalhista que faria até o próprio Getúlio corar de vergonha no além túmulo; deboche e silêncio obsequioso de conveniência. E tome-lhe blablablá.
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Que os poderosos não se iludam. Barracos construídos no morro tendem a desabar e invadir planícies. É a ação pendular da História, diz o mano que ajuda a escritora a escrever e sonhar…
Mesmo assim, feito o “Bêbado equilibrista”, há quem creia. Amém. Assim seja. Axé.
Também para quem não nasceu nestas bandas sulistas farroupilhas e ignora o gosto delicioso do mate em uma roda falante, conhecer o Alegrete é feliz aventura. Com suas prendas, fala carregada nos “dês” e “tchês”, o fogo de chão, os CTGs das danças, cânticos e versos; os galpões de gente pilchada e cheia de civismo gaudério…
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Guapo, tudo isso. O que sempre me fascinou no Rio Grande e na Bahia de São Salvador de santos e orixás de braços dados é a maneira única e própria de ser brasileiro. De ser diferentemente nacional com desejo semelhante de ser feliz.
Alegrete é a terra de um dos maiores poetas: Mário Quintana. Cuja firmeza cheia de sensibilidade no trato com a vida, em sua arte-poesia, nos faz ler mais e mais – e outra vez – e perceber a universalidade nos perfumados versos.
Vivemos tempos de deboches assassinos contra as religiões de matriz africana. Templos destruídos, sonhos pisoteados, mártires caídos em nome da fé.
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O Pêndulo me contou um fato que partilho com vocês, leitores. Em 1936, a baiana Eugênia Anna dos Santos, Mãe Aninha, tomou um vapor até o Rio e conseguiu de Osvaldo Aranha – ministro da Justiça de Vargas, gaúcho do Alegrete – autorização para o uso de instrumentos sagrados (atabaques) em seu terreiro no bairro do Cabula, em Salvador: o Axé Opô Afonjá, tombado pelo Iphan em 1999. Sua neta espiritual, Mãe Stella (92 anos), integra a Academia de Letras da Bahia.
Penso na ação de pássaros e borboletas. Possibilitam a germinação de flores cá e acolá. O perfume é diverso e o mesmo. “… A esperança equilibrista, sabe que o show de todo artista, tem que continuar”…
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