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ENTREVISTA

Fernando Schwanke completa dois anos junto ao IICA

Foto: Lula Helfer/Banco de Imagens

No mês de julho, Fernando Schwanke, ex-prefeito de Rio Pardo, completou dois anos à frente da diretoria de projetos do Instituto Interamericano de Cooperação para a Agricultura (IICA), órgão ligado à Organização dos Estados Americanos (OEA). Em 2021, ele deixou o cargo de secretário nacional da Agricultura Familiar no Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento e se mudou com a família para San Jose, na Costa Rica, onde fica sediado o IICA.

Ao longo desse período, enfrentou diversas dificuldades, que vão desde o idioma até a convivência com novos públicos e lideranças, e esteve envolvido em 204 projetos com orçamento somado de US$ 200 milhões ao ano. Nessa semana, Schwanke concedeu entrevista exclusiva à Gazeta do Sul, oportunidade em que falou sobre as conquistas e os desafios que ainda vêm pela frente, e preocupações com a questão climática, a COP 10 e o futuro da trajetória profissional.

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Entrevista – Fernando Schwanke, Diretor de Projetos do IICA

  • Gazeta do Sul – Em julho completaram-se dois anos desde que o senhor assumiu o cargo de diretor de projetos do IICA. Qual o balanço desse período, as principais ações e conquistas?
    Fernando Schwanke – O tempo passa muito rápido. Cheguei aqui em 10 de julho de 2021, novo país, novo desafio, outros idiomas, outras pessoas. Mudar de país é um grande desafio, mas, passados dois anos, me adaptei bem, a família se adaptou e estamos levando uma vida normal, em um país seguro, com uma boa qualidade de vida e um ótimo nível educacional.
    No trabalho, construí uma equipe muito entrosada, com excelente nível técnico, onde apoiamos nossas representações na identificação e na construção de projetos técnicos em cooperação técnica para a agricultura. Hoje, temos 116 sócios ativos, 204 projetos nos países em uma carteira de projetos de US$ 900 milhões. Executamos US$ 200 milhões por ano em projetos, e a meta do nosso diretor geral é chegar em US$ 300 milhões em 2025. Para tudo isto, o trabalho da direção de projetos é fundamental, pois é esta a unidade que constrói e, junto com as representações, capta estes recursos.
  • Como o IICA percebe a questão das mudanças e dos fenômenos climáticos e como atua para mitigar os efeitos deles?
    Nós temos um Programa de Câmbio Climático, que está no Plano de Médio Prazo do IICA, 2023 a 2026, definido na reunião de ministros da agricultura em 2022. Hoje, a maior parte dos projetos vai nesta direção, que é a mitigação e a adaptação da agricultura à mudança climática, que já é sentida nos países, alguns mais, outros menos, mas chegou. Somos acreditados no Fundo Verde do Clima para projetos de até US$ 50 milhões, e temos ajudado os países a buscar estes recursos em áreas definidas pelas NDAs – National Designated Authorities, autoridades nacionais. No Brasil, encaminhamos um projeto de pecuária sustentável (redução de metano), um projeto de produção agroflorestal de cacau, um projeto de resíduos sólidos e estamos preparando um projeto de redução de metano nas lavouras de arroz.
  • Como a agricultura digital pode melhorar a produtividade no campo e, ainda nesse sentido, como pensar em digital se o acesso à internet ainda é limitado ou mesmo inexistente em muitos locais?
    O IICA fez um estudo sobre a conectividade rural na América Latina e no Caribe, e os resultados nos mostram que:
    – Parte significativa da população não está conectada à internet, e parte significativa da que está conectada padece de problemas de qualidade e de custo;
    – Metade dos países da região não tem Agendas digitais;
    – Somente 7% dos trâmites governamentais podem ser concluídos online;
    – 60% dos países não têm estratégias de segurança cibernética;
    – Somente um país da região tem o histórico clínico digital implementado;
    – Faltam dispositivos de acesso à internet (69% de penetração de smartphones; 65,7% de computadores);
    – 50% da população não tem acesso à conta bancária ou a cartão de débito.
    De acordo com a CEPAL, as diferenças na conectividade entre a zona urbana e a rural são significativas. Na região, 67% dos lares urbanos estão conectados à internet, enquanto nas zonas rurais apenas 23% estão. Em alguns países, como Bolívia, El Salvador, Paraguai e Peru, mais de 90% dos lares rurais não dispõem de conexão à internet. Inclusive em países de melhor situação, como Chile, Costa Rica e Uruguai, apenas perto da metade dos lares rurais estão conectados.
    Como IICA, não temos dúvida de que a digitalização é fundamental para o futuro da agricultura; inclusive, também temos um programa de Agricultura Digital, que vai em direção a ajudar os países neste sentido, mas, como visto acima, nos números, temos enormes desafios pela frente.
  • Em que projetos o senhor está atuando neste momento e que impacto eles podem provocar no Brasil, no Rio Grande do Sul ou mesmo aqui na região do Vale do Rio Pardo?
    Como falei anteriormente, hoje temos mais de 200 projetos, em muitas áreas, porém cabe destacar a adaptação e a mitigação dos cultivos agrícolas às emissões, ou seja, a agricultura é parte da solução dos problemas do câmbio climático, é pela agricultura que podemos ajudar muito o planeta, e muitas destas soluções estão a caminho. Estive há pouco com o secretário da Agricultura do Estado, Geovani Feltes, e com o vice-governador, Gabriel Souza, conversando sobre os desafios do Rio Grande do Sul, e três áreas são prioritárias: arroz, pecuária e água. Lançamos há duas semanas uma iniciativa hemisférica de água e agricultura, por uma solicitação dos países, porque sem água não existe segurança alimentar.
  • Pretende acompanhar a COP 10? Como o senhor enxerga o cenário atual e quais são as expectativas?
    Acompanhamos se os países nos pedem. Por exemplo, estamos preparando uma grande ação para a COP 28, em Dubai, a COP do Cclima, onde o IICA tem liderado a participação da agricultura nas discussões ambientais. Desde a última COP 27 do Clima, tivemos um pavilhão que intitulamos Pavilhão da Agricultura das Américas, onde se levou a cabo várias ações e discussões de como a agricultura pode contribuir com a crise climática.
    Com relação à COP do tabaco, acompanharei de longe (nem tanto, pois será aqui ao lado, no Panamá), mas tenho certeza de que o setor e sua representação e o Ministério da Agricultura farão a defesa da produção e das 150 mil famílias de agricultores. Na minha passagem pelo ministério, sempre defendemos a produção do tabaco, onde o Brasil exporta 90% de sua produção. A produção de tabaco gera benefícios econômicos, sociais e ambientais nos municípios onde é produzido, e o setor soube trabalhar a diversificação nas propriedades de forma muito eficiente. Este tema me trouxe um processo na comissão de ética da presidência da República, sobre um possível “desvio ético decorrente da suposta fragilização do Programa Nacional de Diversificação de Áreas Cultivadas com Tabaco (PNDACT).
    Desvio ético decorrente de suposta situação de conflito de interesses.”, que, ao final, foi arquivado, onde o relator, ao final do processo, referendou que “considero inexistentes os indícios de suposta situação de conflito de interesses nos fatos apresentados à CEP, uma vez que, após realizadas as devidas análises e buscas por indícios de materialidade, foi possível concluir pela inexistência de qualquer irregularidade na conduta do interessado.” Existe um ativismo muito grande nesta área, e quem defende a produção lícita do tabaco acaba virando alvo deste ativismo, mas sempre tive a consciência tranquila e o sentimento do dever cumprido em defender um setor que conheço muito bem.
  • A América Central é uma grande produtora de tabaco para charutos. Quais são os rumos da produção e as novas tecnologias que essa região já emprega? Eles se preocupam com a COP da mesma forma que o Brasil se preocupa?
    Existe uma grande produção e um mercado muito especial para os charutos do Caribe (principalmente Cuba e a República Dominicana) e a América Central tem crescido neste mercado, com charutos de excelente qualidade na Nicaragua e em Honduras. Não percebo o mesmo ativismo contra as indústrias de charutos que contra a de cigarros. Talvez por sua relevância econômica e abrangência, mas certamente não é a mesma coisa.
  • Há duas semanas o Brasil perdeu Alysson Paolinelli. Qual foi a importância dele para a agricultura e qual legado deixa?
    Tive a oportunidade de conhecer o ministro Paolinelli em minha passagem no Ministério da Agricultura, e ele estava lúcido até o final de sua vida. Quando digo lúcido, não apenas nos aspectos pessoais, como uma pessoa de mais de 80 anos deseja estar, mas também nos aspectos profissionais. No auge dos seus mais de 80 anos, sonhava, incentivava, propunha ações, queria influenciar os rumos agrícolas do país. Impressionante. Foi indicado ao Prêmio Nobel da Paz, pela sua obra, que é a revolução na agricultura tropical no Brasil, e que incentivou outros países a buscarem este caminho. Graças a esta agricultura feita nos trópicos é que o Brasil se transformou numa potência mundial na produção de alimentos, onde, através de sua produção, mata a fome de 1 bilhão de pessoas. Isso não é pouco! Feliz é um país que tem um homem como Alysson Paolinelli!
  • Qual sua expectativa de ficar fora do Brasil? Pretende voltar quando? Quais os planos para o futuro?
    Não é muito fácil responder a está pergunta, pois minha vida tem me conduzido a lugares que sinceramente não esperava. Primeiro como secretário nacional da Agricultura Familiar e Cooperativismo do Mapa, depois o convite para assumir esta posição internacional, sendo responsável por uma área importante e que abrange 34 países. Mas minha ideia é voltar no final de 2025, quando a Júlia termina o ensino médio e se encerra o mandato do diretor geral Manuel Otero, argentino que me convidou a vir para cá. Vamos ver o que acontece até lá.

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