Como estamos em tempo de férias, despertou-me interesse pesquisar um pouco sobre a origem dessa palavra. Em outra coluna, já lamentei o empobrecimento do ensino e da aprendizagem da língua portuguesa ao abandonar o estudo dos étimos, vocábulos que constituem a origem, o estágio ou estágios anteriores aos que utilizamos no presente. A etimologia é a parte da gramática que estuda a origem das palavras.
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Vejamos, pois, o caso de férias. Como a maior parte do nosso vocabulário tem procedência latina, também esta provém dali. Férias é uma palavra plural. Vou tirar férias, dizemos. Féria, no singular, tem outros sentidos: salário dos trabalhadores, soma dos salários da semana, rendimento de um dia de feira.
As feriae (em latim) eram os dias em que os romanos não trabalhavam por motivos religiosos, dias de repouso dedicados a banquetes e celebrações às divindades. Essas férias passavam de cem dias por ano. Os demais, destinados ao trabalho, eram chamados dies vacantes, dias vazios.
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De um outro termo latino – vacare, que significa estar livre, vazio – derivam vacations (inglês), vacaciones (espanhol), vacances (francês), vacanze (italiano), todos com o sentido de férias. Portanto, o que para os romanos significava dia de trabalho, para os herdeiros de sua língua significa folga, cessação do trabalho.
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Muito próxima a essa família de palavras está feriado, que procede do latim feriatus, significando desocupado, ocioso. O feriado parte de sentido religioso, era dia reservado para ir à igreja, ao templo, cultivar o sagrado, do que hoje está muito distante. Na tradição cristã, a Sexta-Feira Santa, por exemplo, recomendava e exigia intenso recolhimento, silêncio, devoção. Atualmente, muitas festas profanas se sobrepõem a essa prática. Finados, dia de reverenciar os mortos, tornou-se praticamente data mundana, com outras finalidades. A maioria torce para que a data enseje um feriadão.
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Férias, então, podem ser traduzidas como uma sequência de feriados, de dias desocupados do exercício profissional. São, ou ao menos deveriam ser, dias de ócio, de trégua, de descanso, de repor energias para tocar a vida. Muitas pessoas viajam, vão à praia, à serra, acampam à beira de rios, aproveitam para visitar parentes e amigos. Constituem excelente tempo para ler os livros, ver os filmes que, por exigência do trabalho, foram deixados de lado ao longo do ano. Tempo também para cuidar da casa, fazer consertos, retocar pinturas, ajeitar o jardim, plantar flores e cultivar amores.
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Outras pessoas, por sua vez, limitadas pelas condições financeiras, têm como única opção permanecer em casa, tantas vezes sem saber o que fazer. Para estas, férias pode ser sinônimo de tédio, de tempo que se arrasta sem graça, sem fim. Tempo melancólico de adiar sonhos. O que mais desejam é retornar ao seu espaço de trabalho, onde se ocupam o dia inteiro, seja com as mãos, seja com a cabeça. Não sei se nas empresas existe uma capacitação para tirar férias, mas poderia.
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Seja como e o que for, férias são necessárias e, de preferência, inadiáveis. Previnem o estresse, a insônia, o mau humor, a doença. O trabalho, quando prazeroso, nos envolve, nos faz realizados. Mesmo assim, é preciso parar para, logo ali adiante, percorrer o caminho com leveza, com alegria. Como diz o poeta pernambucano Ascenso Ferreira: “Hora de comer – comer!/ Hora de dormir – dormir!/ Hora de vadiar – vadiar!/ Hora de trabalhar?/ – Pernas pro ar que ninguém é de ferro!”
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