Feliz Ano Novo! O pêndulo do relógio insiste em dizer que perdemos o prazo: um fiasco… Qual o quê! O incansável tic-tac caminha sempre no mesmo ritmo… Não tem férias… Que o ano seja um tempo de prosperidade para nós, cidadãos, preocupados com o andar da bruxuleante carruagem brasileira.
Precisamos de paz. A cor branca – da virada – é símbolo firme deste desejo; que nem sempre tocamos com as mãos.
Hoje, quatro, dia em que a talentosa Zilda Cardoso conquista os 80 janeiros, relembro fragrâncias de damas-da-noite. Paliativo, em um calor alucinante e antipático. Amo esta flor! Outrora, ao transferir-me da cidade da Bahia para Santa Cruz do Sul – no compasso de uma crônica que tomou diferentes cores e roupagens – trouxera um pezinho. Pedia a Deus um sinal. Se tivesse de enraizar-me, que a plantinha crescesse. E cresceu.
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O tempo passou, no compasso do pêndulo do relógio. Sábado, sete, comemora-se o famoso “Fico” (1822). Então, o príncipe regente era o Pedro I do Brasil. Pai do II. Muitos confundem os retratos e acham que o sucessor – um velho de barbas brancas – é o progenitor doo jovem falecido na casa dos 30… Incrível como as aparências enganam. E como nós, muitas vezes serezinhos acomodados, não conseguimos contemplar além daquilo que imaginamos.
Por isso gosto tanto das damas-da-noite: flores discretas, altivas, efêmeras… Que possamos, neste verão, devagarinho, sorver, delicadamente, a fragrância meio encantada que repartem conosco. Muitas cidades parecem calmas. Vários moradores, no desfrute das férias familiares, estão em outras paragens: preferencialmente nas praias circunvizinhas.
Mas há os que seguiram além das divisas. Para Salvador da Bahia, por exemplo. Próxima quinta será a famosa lavagem do Bonfim.
Nesta época, têm início a Novena e celebrações diárias. Mas o ponto alto turístico é oferecido por mulheres de branco: as queridas baianas de alegres saias rodadas sem medo de serem felizes.
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Durante muito tempo, os negros estiveram excluídos das possibilidades; tinham que fazer malabarismos por conta de sua fé… O ser humano – graças a Deus – ajeita da melhor forma o coração no peito… Na segunda quinta-feira deste mês inaugural, multidões de pessoas – de trajes alvíssimos – vão, a pé e de carroças enfeitadas, da Igreja da Conceição da Praia até o Bonfim: mais ou menos uns sete quilômetros.
Com música, dança e diferentes expressões religiosas. Dirigem-se ao Bonfim para lavar os degraus com água e perfume; levam jarros, vassouras, flores e muita fé que faz inveja; de forma simples como as damas-da-noite.
Durante um longo período, a igreja esteve fechada na quinta da lavagem. Tudo que partia de um povo outrora escravizado era visto como coisa do Mal…
Em 2007, o padre Edson Menezes da Silva, reitor da Basílica, mandou abrir as portas, depois de 200 anos de agressivo fechamento. Muita gente chorou e deu graças a Deus, cujo sonho maior é a paz entre todos os rebentos. Simples assim. Como as damas-da-noite. Deo gratias, minha gente.
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