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Fora de pauta

Felipe Kroth: prazo e política

Um ótimo professor de Sociologia que tive sempre insistia, nos debates durante a aula, que não devíamos dizer que uma coisa “sempre foi assim”, ou “nunca aconteceu de tal maneira”, porque nosso conhecimento é limitado. Ele tem razão, certamente, mas me sinto tentado, aqui, a dizer que sempre foi difícil falar com sensatez e tranquilidade em oposição ideológica, na política, mas que hoje é mais difícil do que jamais foi. Talvez especialmente no Brasil (outra percepção baseada só em achismo, já que meu conhecimento sobre os debates políticos no resto do mundo é bastante limitado).

Colocar em oposição ideais políticos e conseguir compreender que são visões de mundo, que podem conviver no debate, e que não são questões de moral e caráter, necessariamente – essas, sim, com peso na balança em que se decide manter ou cortar relações com alguém – é raro. Ou assim me parece, no ambiente que conheço.
Há um exemplo bastante atual aqui na região: a concessão da RSC-287, com o consequente fim da gestão da rodovia por uma empresa pública.

A questão das privatizações, da redução do Estado, é uma das diferenças mais claras entre os espectros na política brasileira. Os partidos mais à direita, em geral, defendem a presença forte da iniciativa privada em praticamente todas as atividades e, principalmente, o fim das estatais. Quem está mais à esquerda, tende a defender que a exploração de recursos naturais e gestão da infraestrutura pública sejam feitas por empresas públicas.

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E há bons argumentos de ambos os lados, principalmente o desinteresse pelo lucro, no caso da gestão pública, e a maior eficiência, que permite redução de custos, da iniciativa privada.

É importante lembrar que a Empresa Gaúcha de Rodovias assumiu os pedágios da região somente a partir de 2014 e que antes a rodovia já era mantida por uma empresa privada, por meio de concessão, e o serviço era bastante criticado. A EGR criou um sistema de contato constante com as comunidades, por meio dos conselhos regionais, que permitiu discutir projetos e pressionar para que saíssem do papel – como foi com o Viaduto Fritz e Frida, demanda antiga da comunidade santa-cruzense. Mas o valor da tarifa não era baixo e o serviço prestado era deficiente em muitos pontos.

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A concessão por 30 anos veio com redução de custos, mas acabou com essa abertura para debate de projetos. E parece que os políticos da região já estavam acostumados ao sistema da EGR, embora não o quisessem. Bastou que fosse conhecida a empresa vencedora da concessão, para que muitas lideranças de municípios procurassem a companhia para pedir ou negociar obras e ações na pista. O trevo na Travessa Dona Leopoldina, por exemplo. Agora são feitas críticas à capacidade de atendimento das praças e à cobrança de tarifa de máquinas agrícolas. A resposta da empresa é sempre a mesma: cumprimos o contrato. Não há espaço para debater projetos agora. O trabalho das autoridades do setor público é, somente, a esta altura, fiscalizar o cumprimento do contrato já assinado.

Não critico aqui, de forma alguma, a concessionária, que cumpre seu papel, realmente a um valor de tarifa muito menor, e parece que tem recebido bem estas demandas fora de hora. A crítica é, e precisa ser, direcionada às nossas lideranças. O momento de discutir projetos para a rodovia era durante a elaboração do contrato de concessão. À mesma comunidade que fez ampla campanha para que a rodovia fosse concedida, ansiosa por extinguir uma empresa estatal, parece que faltou pensar com calma no que queria deste patrimônio público para os próximos 30 anos, além de duplicação, reparos pontuais e preço menor a curto prazo.

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