Cultura e Lazer

Feira do Livro convoca família para a leitura

Teve início nessa sexta-feira, 5, a 34ª Feira do Livro de Santa Cruz do Sul. O mês escolhido vem ao encontro da temática desta edição “Leitura: Mãe do Conhecimento”. É no Dia das Mães, 14 de maio, que ocorre o encerramento do evento. O principal objetivo desta Feira do Livro, conforme a agente de Cultura do Serviço Social do Comércio (Sesc) e coordenadora da 34ª Feira do Livro, Lisiane Camargo, é ressaltar a importância da participação da família no incentivo à leitura. 

Além das atividades, nos sábados e domingos, dias 6, 7, 13 e 14, serão realizados os lançamentos de livros e sessão de autógrafos com os autores. A patrona desta edição, escritora Marô Barbieri, esteve presente na cerimônia de abertura dessa sexta e participa também de dois encontros na quarta-feira,     10, no palco principal, às 10 e 14 horas. 

Romar Beling é o escritor homenageado e Lígia Hertzer é a personalidade incentivadora da leitura da edição. Beling participa de um encontro na terça, 9, às 14 horas. Já no sábado, 13, às 14 horas, ele lança o livro “Entrevistos: Conversas com escritores”.  Lígia participa do bate-papo “Fotos e Versos” na terça, 9, no Espaço Café Dona Boleira Arte e Sabor, junto à Feira. A personalidade incentivadora da leitura participa de uma roda de conversa na quinta, 11, às 19h30, e de um encontro no palco principal na sexta, 12, às 15 horas. No mesmo dia, ela estará em mais um bate-papo, às 17h30, no Espaço Café Dona Boleira Arte e Sabor.

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Mudanças ao longo do tempo

A história da Feira do Livro de Santa Cruz do Sul começa em um formato diferente do atual. De 1969 até 1972, o evento se chamava Feira Intercolegial Estudantil do Livro (Fiel). Após, com a mudança na formatação, a Feira do Livro continuou levando visitantes para a praça. Na terceira edição, em 1996, foi liderada pela Associação das Livrarias do Vale do Rio Pardo (Alivarp). O evento foi aberto em 14 de dezembro. Realizada em uma época diferente, ela acabava competindo com as vendas de Natal, o que pode ser observado nas manchetes da Gazeta do Sul daquele ano. O comércio, incentivado pelo final de ano, com vendas a todo vapor, ganhava as principais chamadas de capa.

Em 1996, a comercialização de obras não foi tão positiva. “Poucos livros vendidos”, dizia o título da matéria da Gazeta publicada em 23 de dezembro. A expectativa naquela edição era de vender três mil exemplares, mas foram apenas dois mil. Antes de 1996, a feira ocorria entre setembro e novembro, mas naquele ano a organização optou por realizá-la em dezembro. A ideia era aproveitar o público que já estava circulando no Centro devido às compras de final de ano. Apesar disso, a organização voltou atrás e resolveu não seguir realizando a feira em dezembro. 

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Em 2022, a Feira do Livro foi realizada no mês de setembro e, neste ano, a organização optou por fazer o evento em maio, com o objetivo de descentralizar do segundo semestre a realização de tantos eventos que ocorrem Santa Cruz do Sul no período, como Oktoberfest, Enart e Festival de Cinema. A escolha por maio também foi uma forma de facilitar a visita das escolas na Feira, já que o fim do ano letivo também é um momento mais conturbado. A Feira do Livro de Santa Cruz do Sul é uma promoção da Prefeitura de Santa Cruz do Sul, por meio da Secretaria Municipal de Cultura e do Serviço Social do Comércio (Sesc). 

ENTREVISTA

Rosângela Gabriel, coordenadora do Programa de Pós-Graduação em Letras da Unisc

Por que é tão importante que a família incentive que as crianças leiam?

Desde o nascimento (e talvez desde a gestação), as crianças estão imersas em ambientes culturais, estruturados a partir dos hábitos e dos valores de uma sociedade e de um pequeno grupo social que podemos chamar de família. A convivência com os familiares contribui para que a criança adquira rotinas e se aproprie de práticas que passam a fazer parte de sua vida. Assim, o incentivo à leitura pode começar muito cedo, quando a família, por exemplo, enfeita o quarto do bebê com livros que podem ser vistos e, futuramente, manuseados.

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O incentivo à leitura se dá de várias formas, em diferentes momentos da vida da criança. O professor José Morais, pesquisador da Université Libre de Bruxelles, que estará na Unisc em agosto próximo, afirma em seu livro Criar leitores (Editora Manole, 2013, p. 1): “Quando a mãe e o pai resistem ao apelo da tela da televisão e preferem ler, no sofá ou na cama, a criança interroga-se e pensa – com razão – que o livro é um valor mais alto. E então vai querer fazer como eles, vai querer ler também. E se ainda não sabe ler, vai ansiar por aprender a ler.”

Como em outros aspectos da educação, o exemplo dos pais e familiares é fundamental no incentivo à leitura. Portanto, é importante que as crianças vejam os pais dedicando tempo a leituras. Outra prática importante é ler livros com as crianças, conversando com elas sobre a história, as personagens, a ilustração, as palavras que são usadas no livro… Aline Pereira aprofunda essa temática em sua tese de doutorado intitulada Contribuições da prática de leitura compartilhada na infância para o desenvolvimento da literacia e para a criação de leitores, defendida no Programa de Pós-Graduação em Letras da Unisc.

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A prática da leitura compartilhada é agradável para as crianças, mas também para os adultos, que têm a oportunidade de conhecer novas obras e também de revisitar os clássicos que povoaram a sua imaginação durante a infância.

À medida que as crianças aprendem a ler e já conseguem ler alguns livros sozinhas, é importante conversar sobre as obras lidas, mostrando interesse, ouvindo o que as crianças pensaram ao ler o livro, talvez relacionando o texto com outras obras, aprofundando a compreensão.

A partir de que idade é recomendado que a criança tenha contato com livros? Tipos para cada faixa etária, etc?

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Como disse na questão anterior, é desejável que o contato das crianças com livros aconteça desde o nascimento (ou até antes). No capítulo A leitura compartilhada na família e na escola (Editora UFSM, 2017, p. 23-48), José Morais e eu apresentamos uma revisão de várias pesquisas que mostram que as crianças de 4 a 8 meses, para as quais um familiar lia diariamente, apresentam um vocabulário superior já aos 12 e 16 meses, quando comparadas a outras crianças cujas famílias não possuíam o hábito de ler para elas.

A equipe da professora Laura Justice, da Ohio State University (USA), que também estará na Unisc em agosto, publicou um artigo (When Children Are Not Read to at Home: The Million Word Gap, 2019), que chegou à conclusão de que crianças cujos pais e professores não costumam ler diariamente, do nascimento aos cinco anos, iniciam sua vida escolar no primeiro ano do Ensino Fundamental conhecendo em torno de um milhão de palavras a menos, quando comparadas a crianças cujas famílias têm o hábito de ler. Esse dado é muito importante, porque sabemos que a compreensão na leitura é altamente dependente do conhecimento das palavras e, quanto maior nosso vocabulário, maior a chance de compreendermos o que lemos.

Com relação aos livros recomendados por faixa etária, não há uma regra muito rígida a ser seguida. O interesse das crianças por uma ou outra obra pode ser um bom indicativo no momento da escolha do livro. A leitura de uma mesma obra pode ser repetida muitas vezes, de acordo com o interesse das crianças. Existem excelentes editoras de livros infantis, cujo catálogo procura mapear os livros de acordo com a faixa etária, mas é importante estar atento também aos interesses das crianças.

Crianças que observam os pais e/ou responsáveis lerem costumam ler mais?

Há um ditado popular que diz que “a palavra convence, mas o exemplo arrasta”. Observar os pais lendo é, sem dúvida, um fator importante. Possuir livros e outros materiais de leitura (revistas, jornais, etc.) em casa, uma pequena biblioteca, também é um fator importante. Uma pesquisa conduzida em 27 países (Evans, Kelley, Sikora e Treiman, 2010) comprovou a relação entre números de livros em casa e a escolarização, mostrando a importante influência do investimento familiar em livros para o incentivo à leitura. Outro componente importante é conversar sobre o que lemos, sobre o que pensamos ao ler, ou seja, dedicar atenção e tempo ao que lemos e compartilhar nossos pensamentos nas conversas em família.

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De que forma família e escola podem atuar em conjunto para incentivar o gosto pela leitura?

Como professora e mãe, em muitos momentos, observei resistência por parte das famílias quando a escola ou os professores sugeriram livros de leitura para aquisição, para que todos os alunos de uma turma pudessem ler um mesmo livro e aprofundar a compreensão da obra. Se consideramos que a leitura é algo que tem valor, é importante que as famílias busquem alternativas para que as crianças e os jovens possam ter os livros que serão lidos e estudados na escola.

É importante também que os municípios e as escolas possuam bibliotecas e/ou espaço de leitura bem organizados, com um acervo de obras atraentes, que sejam espaços que as pessoas possam frequentar e que haja profissionais dedicados a incentivar a interação das crianças e jovens com os livros.

Muitas escolas possuem a prática de levar as crianças à biblioteca escolar uma vez por semana e deixar que escolham um livro para levar para casa. A leitura desse livro pode ser compartilhada entre pais e filhos, de modo que as crianças sintam que as famílias se interessam pelas obras disponibilizadas pela escola. Projetos de leitura conduzidos em parceria entre família e escola, com o apoio do poder público, também são formas de atuar em conjunto na formação de leitores.

O incentivo à leitura pode se dar de várias formas: recentemente, um grupo do Programa de Pós-Graduação em Letras da Unisc presenteou uma colega grávida com um conjunto de livros infantis, para que a pequena Cecília já tivesse sua biblioteca ao nascer | Foto: Divulgação

DEPOIMENTOS

Helena Hermany, prefeita de Santa Cruz do Sul“A Feira do Livro é um evento importante para a cidade e para toda a região. Ela oferece a oportunidade de acesso à cultura e ao conhecimento para todas as idades, além de promover a literatura local, regional e estadual. É uma oportunidade única para que os leitores tenham contato com novos autores e títulos, e para que os escritores possam divulgar suas obras e dialogar com o público. Movimenta a economia criativa, atrai turistas e ainda gera empregos temporários para diversas famílias. Não é por menos que já está na sua 34ª edição.”

Wagner Machado – Secretário Municipal de Educação“A Feira do Livro é como um oásis da cultura e do conhecimento. Nos dias atuais, vai além disso, representa a reaproximação das famílias com a leitura, aliás não apenas com a leitura, a reaproximação das famílias em si. Obviamente, não podemos ignorar a importância econômica da feira para o município, além das vendas geradas, o turismo é também consideravelmente impactado. Esta festa literária ainda concede palco igualitariamente a quem merece, sejam escritores renomados ou incipientes.”

Marcelo Corá – Secretário Municipal de Cultura“A Feira do Livro é um evento tradicional da literatura e cultura do nosso município. Por Santa Cruz do Sul ser uma cidade polo, tudo que aqui fazemos repercute e inspira nossos vizinhos. A região bebe desse saber e irradia ideias e experiências aqui vividas. E essa é a nossa vocação, ser referência de inovação e acolhimento, tornando-se a capital cultural do Vale do Rio Pardo. E que toda a região venha aproveitar essa verdadeira festa literária.”

Roberta Pereira – Ex-coordenadora da Feira do Livro e Secretária Municipal de Desenvolvimento Social“A Feira do Livro de Santa Cruz do Sul é um dos maiores eventos literários do Rio Grande do Sul. Acontece na Praça Getúlio Vargas, no coração da cidade, acessível a todas as pessoas, reconhecendo e valorizando escritores e talentos locais. Destaque ainda para a característica de trabalhar com a formação de leitores, oferecendo a oportunidade de contato com autores dos públicos infantil e adolescente, preparando uma legião de cidadãos diferenciados para o futuro. É um evento muito aguardado não só pelo público de Santa Cruz, mas de toda a região, e que neste ano ocorre em maio, tornando-se uma atração do primeiro semestre no calendário do Município.”

Programação do fim de semana​​

06/05 (Sábado)

10 horas – Abertura das bancas.

13h30 – Animação cultural com Grupo Vivandeiros da Alegria (Local: Palco principal)

14 horas – Passeio ciclístico com o grupo Santa Ciclismo

15h30 – Show de Mágica com Mateus Di Macedo (Local: Palco principal)

16h30 – Contação de histórias com o Vivandeiro Roger Castro (Local: Palco principal)

18 horas – “Convergência Literária: Encontro de escritores da região”. Realização: Editora Vírtua. (Local: Espaço Café Dona Boleira Arte e Sabor – junto à Feira)

19h30 – Apresentação musical “Buda e a Santa Batucada” com Gustavo Aciolli e Acadêmicos do União (Local: Palco principal)

07/05 (Domingo)

10 horas – Abertura das bancas

13h30 – Animação cultural: Grupo Vivandeiros da Alegria. (Local: Palco principal)

13h30 – Palestra com a poetisa Leanida Freitas, tema: Poesia como fator de transformação social (Espaço Café Dona Boleira Arte e Sabor – junto à Feira do Livro).

14 horas – Contação de histórias – Léla Mayer (Local: Palco principal)

15h30 – Espetáculo teatral “O Sol de Cada Um” – Grupo Sintonia Teatral (Local: Palco principal)

16 horas – Oficina literária com Willian Tascheto Oliveira: O processo criativo dos Desaforos e Aforismos (Espaço Café Dona Boleira Arte e Sabor – junto à Feira do Livro)

16h30 – AVU apresenta: Vivências Urbanas na Feira do Livro (Local: Palco principal)

19 horas – Intervenção cultural “Vanguardas Europeias” – Colégio Marista São Luís

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