É da natureza humana a inquietude e a inconformidade com a “(des)ordem das coisas”. Em busca de compreensão e respostas, ou para aquietar o espírito, alguns recorrem à ciência e à filosofia. Outros, às religiões.
Quando ocorrem tragédias mortais, sejam resultado de fenômenos naturais, guerras e acidentes, ou, como agora, a pandemia, advém uma inevitável pergunta: onde estava Deus?
Em 1755, Lisboa foi sacudida por um terremoto, seguido de outros dois tremores. Ao terremoto seguiu-se um tsunami. E após o terremoto e o tsunami, a cidade também ardeu em chamas durante dias. Milhares de mortes, destruição, desespero e tristeza.
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“Onde estava Deus?”, perguntavam filósofos, religiosos, reis, governantes e o próprio povo. Naqueles tempos tudo era responsabilidade divina. O que acontecia e o que não acontecia. Como consequência deste debate, muitos historiadores atribuem à catástrofe portuguesa um enorme impulso nas ideias iluministas.
O filósofo francês Voltaire (1694–1778), autor do Poema Sobre o Desastre de Lisboa, ironizou a onipotência e a benevolência de um deus todo-poderoso. E citava o filósofo grego Epicuro (341–270 a.C.):
“Ou Deus quis impedir o mal e não pode, ou pode e não quis. Ou mesmo nem quis e nem pode. Se quis e não pode, não é Deus; se pode e não quis, não é bom. Se quer e pode, qual a origem de todos os males?”.
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No livro O Último Dia do Mundo (2011), também sobre o terremoto de Lisboa, o jornalista norte-americano Nicholas Shrady diz que a lição que este terrível acontecimento pode oferecer para as tragédias é a de que “o homem está no centro de nossa resposta ao desastre, e não a providência, a metafísica ou a ira de um Deus vivo”.
As crises humanitárias têm o mérito de obrigar à reflexão e à reação. Nos piores momentos recupera-se o sentido da solidariedade, da paz e da preservação socioambiental. E, notadamente, uma consciência acerca das limitações humanas. A ciência nos salvará!
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Na coluna anterior (Processo Civilizatório) deixei de mencionar que a inspiração para a elaboração daquele artigo, ainda que por associação temática diferente, ocorreu a partir de uma postagem, em rede social, da psicanalista Sandra Beck da Silva Etges, ao reproduzir a célebre carta de Freud a Einstein (1932), quando em debate o tema “Por que a guerra?”.
Sua postagem, assim como meu artigo, trata da perplexidade humana diante dos desafios que a natureza e a convivência social nos impõem. Agora, por exemplo, no enfrentamento do vírus mortal.
Saúde e felicidade, Sandra!
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